sábado, 30 de outubro de 2010

Uma Viagem... ao Japão

Estava com intenções de comprar este 



mas acabei por não fazê-lo. Sou uma grande fã do Gonçalo M. Tavares, adoro todos os livros de capa preta, sobretudo do "Jerusalém", são sem dúvida geniais. A densidade psicológica das personagens e as narrativas sombrias que nos levam para a direcção de um certo determinismo que é, afinal, fictício, é brutal. Tal como em "A Máquina de Joseph Walser", "Aprender a Rezar na Era da Técnica" ou "Um Homem: Klaus Klump" que parece perpetuar um descrédito na humanidade, têm este lado de romances negros preenchidos de complexidade psicológica e ambientes distantes mas nostálgicos e frios, tão frios como os meandros das mentes das personagens. Este é tipo de livros que prefiro. Depois o GMT gosta de escrever coisas que são, nas palavras dele, mais lúdicas - pelo menos foi o que me disse na feira do livro do Porto há uns anos - às quais tem dado nomes de escritores "O senhor Valery", "O senhor Calvino", "O senhor Breton", uma série de senhores que compõem o Bairro. Estes livros nunca me cativaram tanto. A peça de teatro A Colher de Samuel Beckett editado pela Campo das Letras em 2003 também é interessante e gostaria de a ver interpretada. O livro de poesia 1 editado pela Relógio d'Água em 2004 também é fabuloso, trazendo uma lufada de ar fresco à poesia contemporânea portuguesa. Agora sobre esta Viagem à Índia não sei o que pensar pois não me dei ao trabalho de o ler, de facto (só folhear). A partir daí não tenho qualquer legitimidade para falar (ou escrever) sobre o assunto, mas a realidade é que esta epopeia em formato de reinterpretação dos Lusíadas é-me bastante desconfortável. Eu sei que o autor gosta de procurar a inovação estilística e causar algum desconforto mas será um desconforto de sentido ou de moral, não de narrativa, aqui as coisas surgem fragmentárias e parece que, de facto, o livro se resume a um exercício estilístico e não a uma essência genuína que nos faz levar umas bofetadas certeiras - porque é esta a metáfora mais apropriada para os desfechos geniais dos livros de ficção de GMT. Então, decidi comprar a mais recente reedição de um clássico japonês
"Silêncio" de Shusaku Endo, reeditado em Setembro pela Dom Quixote. Shusaku Endo e as suas meditações teológicas e os seus retratos fascinantes dos missionários do século XVI. Sem dúvida uma excelente aposta.

3 comentários:

Diogo C. disse...

O anterior comentário era para o post «Random», como deverás ter percebido; não sei o que se passou, mas provavelmente distracção.

Estou a ver que os livros, para ti, teem de funcionar como amor à primeira vista...

Sara F. Costa disse...

Não necessariamente! Só que este formato clássico não me atrai em particular,tentei as primeiras páginas mas não me vejo a ler aquilo...

Milos disse...

Comprei "A Viagem à Índia" mas não ainda não lhe peguei. Depois de o ler deixo a minha opinião.