domingo, 25 de abril de 2010

O 25 de Abril, o kick-ass e o I love you Phillip Morris



Pois é, este blog tem estado um pouco inactivo... e porque motivo? Aí está uma boa questão à qual não sei realmente responder... já que isto é para falar dos media que me passam pelos olhos ou mãos ou seja lá qual for a parte do corpo preferencial, suponho que estava ocupada a consumir coisas em vez de as comentar ou dissecar permanentemente que vendo bem não é o tipo de apreciação que interesse a toda a gente embora contribua para o estimulo de um espaço cibernético mais plural e democrático onde as vozes anónimas mais ou menos desinteressantes têm hipótese de se exprimir. De facto, ultimamente tenho utilizado mais o blog para falar de qualquer coisa que me irritou relacionada com esta ou aquela figura pública - é que, vendo bem, a blogosfera é uma das formas mais eficazes de chegar às personalidades graças ao google blog search e à sede mediática das pessoas lerem todas as referências que contêm os seus nomes respectivos. Quando digo que tenho andado a consumir coisas é só para soar um bocado pseudo, quer-se dizer, se considerarmos uns shoujos, uns ecchi, sitcoms variadas e excertos do preço certo como conteúdo multimédia de referência então tenho mantido uma actividade razoável! Mas este post não vai ser sobre isso - não descurando a qualidade cénica do Fernando Mendes - vai ser sobre os filmes que fui ver recentemente. Já deixei passar o Alice sem o comentar mas também para falar de desgraças não vale a pena, embora eu venha falar daquilo que é para mim outra desgraça…


 Pois é, o primeiro filme de que vou falar é o Kick-Ass e vou quebrar os tabus da irmandade geek e dizer que não gostei do filme. O que é que devo dizer sobre este filme? Confesso que a cena dos Super Heróis de BD adaptados a cinema não é o meu forte - e não me refiro a adaptações de BD ou Graphic Novel de uma maneira geral, pois este é um género demasiado genérico para o reduzir a um estereótipo mas sim o conceito estrito do Super Herói na vertente mais americana. Não querendo desiludir as minhas fãs feministas que vêm em mim um exemplo - há que admitir que isto é um bocado como os videojogos: é o tipo de coisas que se apanha dos namorados. Há coisas piores que se poderiam apanhar dos namorados, portanto, sejamos optimistas. Digamos que pertence a uma cultura geek viril que se centra essencialmente nos dilemas dos personagens masculinos. Mas até aí, não me incomoda, é um género, tem um público definido, cumpre determinadas tendências, bla bla, tudo bem. Nem vou entrar por aí. A questão é a de que o Kick-Ass estava associado não só a esta cultura de BD mas também a uma noção estilística e satírica e eu estava à espera disso mesmo, algo mais “tarantinesco” que utiliza o tratamento visual e a violência com uma finalidade estilística. Até porque a graphic novel se propõe a algo bastante ousado: uma crítica mordaz à violência entre as camadas mais jovens da sociedade – e eram estas as minhas expectativas. Não vou fazer aqui uma análise muito detalhada do filme senão não faço mais nada hoje mas o que me desiludiu foram essencialmente os lugares comuns, a falta de ousadia e o sentido de humor sem piada nenhuma para além do estilo altamente forçado de tudo. Primeiro, uma questão: o guião do filme difere da Graphic Novel em detalhes essenciais. Um exemplo (entre muitos) que me parece elucidativo: no filme, o Big Daddy é apresentado com um passado muito atormentado e profundo, na GN o que acontece é que depois da descrição do passado profundo, nos dizem “ah não era nada disso, ele era só um contabilista entediado”. Lá está! Efeito de cinismo! É isso que faz as coisas serem interessantes! É gozar à grande com os clichés não é deixá-los ser clichés como são, porque isso é o que é para criticar! Não é muito difícil de perceber, pois não? A mesma treta com o facto de que na GN o gajo não fica com a miúda, pelo contrário, é humilhado, etc. No filme, é um all happy ending ainda a meio e para mais de uma forma completamente inverosímil… dá a sensação de que meter uma miúda de 11 anos a triturar crânios é possível mas quebrar certos lugares comuns dos teenage movies é ir longe de mais… A miuda, Hit Girl é que é apontada por toda a gente como a melhor personagem do filme… devo lembrar que o filme se chama Kick-Ass e é interessante verificar como lá para o meio o Kick-Ass é um espectador do filme que protagoniza… para além de que aquelas cenas finais são todas muito previsíveis e para um filme de super heróis a acção basear-se essencialmente num jogo de shotguns também soa um bocado mal. Há muitas outras coisas a apontar, mas, de uma maneira geral, achei o estilo muito forçado e incomoda-me a forma tão visível como os produtores e o marketing decidiram manipular a história original de forma a tornar-se mais apelativa a um público com menos sentido crítico e em muitos momentos muito mais politicamente correcta. 



O segundo filme de que vou falar é o “I love you Phillip Morris”. Trata-se do filme que faz do Jim Carrey e do Ewan McGregor um casal gay e que se baseia na biografia de Steven Russel, o burlão americano que se encontra encarcerado 23h por dia a cumprir 144 anos de prisão no estado do Texas. É divertido, é um pouco panfletário porque coloca o enfoque na pena pesada que o homem teve, deixa-nos criar alguma empatia com a personagem mas o que é incrível neste filme nem foi tanto o filme sem si mas sim uma sala gigante no bragaparque cheia de gente a um sábado à noite que, não só não se ria nos momentos mais hilariantes do filme como só se conseguia rir sempre que o casal gay dava um beijo ou se abraçava e é fantástico ver como as pessoas se metem nas salas de cinema sem ler nenhuma sinopse porque o choque geral quando perceberam que era o Jim Carrey, sim, mas que ele fazia de, meu deus, pasme-se, homosexual!!, foi qualquer coisa de incrivelmente visível. Mas depois do Kick-Ass foi bom ver um filme coerente e não pretensioso que cumpre bastante bem a sua finalidade.
E, pronto, fica por aqui mais um post com alguns dos vários pensamentos diletantes que ficam assim transpostos para o formato escrito. Aos meus leitores, continuação de um bom 25 de Abril e bons filmes!