terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Andrew Garfield as Spider Man?

Hum... :/

Amin Maalouf e as favas do Cairo

Existem nos mercados do Oriente «favas» misteriosas a que antigas superstições dão o poder de favorecer o nascimento de crianças do sexo masculino. Quando o narrador deste romance, um sábio francês especialista em escaravelhos, consegue encontrar algumas durante uma viagem ao Egipto, não tem dúvidas de que o mundo acaba de entrar numa época crítica da sua história. Com efeito, um pouco por toda a parte, os nascimentos femininos vão-se tornando raros, sem razão aparente. Seriam as «favas» a origem dessa desgraça? Através de uma série de tentativas de investigação que os conduz até ao equador, o sábio e a sua expedição procuram uma explicação. 
Feroz e terno, alegre e sério, este romance de Amin Maalouf presta-se a mais de uma leitura. Romance do amor «maternal» de um pai para com a sua filha, romance de um homem dedicado à «feminilidade do mundo», romance de um mal incompreensível que destrói as mulheres e atormenta os homens, romance da divisão do nosso planeta entre um Sul em decadência e um Norte que se exaspera, romance do assustador encontro entre as perversões do arcaísmo e as da modernidade... Mas talvez seja antes de mais o romance do desconcertante fim de século passado. Também com um olhar inquieto para o vinte e um, já presente e que o autor designa, enigmaticamente, O Século Primeiro depois de Beatriz.




O que é interessante neste livro é a forma como consegue construir uma narração em torno de uma ideia que soa a ficção científica biológica virada para reflexões humanistas. As favas do Cairo dispostas a conservar uma moral arcaica da preferência pelo nascimento de um filho e não de uma filha. Por outro lado, as relações pessoais retratadas com a distância de um catedrático. Realista mas não meloso. Com ideias antigas mas com uma perspectiva de ficção bastante interessante. Espero agora a leitura do “As Identidades Assassinas”.   O que é realmente lamentável nesta edição é a péssima tradução e péssima revisão do livro, que até erros ortográficos deixou e traduções directas do francês de coisas que não fazem sentido. Gostava que a editora desse um tratamento melhor a estes livros do Amin Maalouf, que é cada vez mais conhecido e procurado, mas isso não justifica que editem as coisas à pressa. 


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

The Social Network



Apesar dos vários ingredientes positivos que se anteviam eu adiei a visualização deste filme, perdendo a oportunidade de o ver no cinema. Posso dizer que é algo de que me arrependo profundamente, mas agora não há volta a dar, a não ser que eu alugue uma sala só para mim e o projecte, o que até não era má ideia (não levava com o barulho das pessoas a comerem pipocas, já repararam que a maioria dos portugueses vão ao cinema essencialmente para comer pipocas?! como se o filme fosse um extra que vem com as pipocas). Seja como for, o que me levou a pensar assim foram os trailers que por algum motivo davam uma sensação de pretensão que foi nitidamente feita para atrair o grande público, já que o filme também fala de um fenómeno do grande público – e daí a minha desconfiança. No entanto, deveria acreditar mais no trabalho de David Fincher, pois realizou alguns dos meus filmes favoritos (Fight Club, Zodiac).

Parecia um filme sobre um fenómeno de massas virado para atrair a atenção dos miúdos novos dando a entender que basta ter uma ideia brilhante para se ter tudo na vida. Felizmente o filme é bem mais complexo e maturo do que isso, abordando precisamente a faceta altamente imatura deste tipo de ideias. Inicialmente confronta-nos, de facto, com uma tremenda presunção associada à noção de facebook, como a última tendência mundial genial, que eu nunca achei muito legítima, porque, como tudo, é uma questão que também está relacionada com tendências e marketing e a fase de aparecimento do facebook é uma fase em que tudo o que se relaciona com as redes sociais se está a desenvolver: a tentativa de transpor para a internet a experiência social da escola não é uma noção nova, por esta altura. Para além disso, acredito que as redes sociais não se resumem a algo tão linear. Apesar de possuírem bastante essa componente adolescente da descoberta do social, as plataformas de comunicação online, independentemente de serem redes sociais, têm a dimensão das pessoas que as utilizam desde que as possibilidades sejam infinitas.

Claro que se eu só tenho pessoas desinteressantes como amigos, a minha experiência com esta plataforma vai ser muito menos interessante, do que se acontecer ter amigos com bastante para dizer ao mundo (o que, felizmente, é o caso!). No fundo, é tudo uma questão de conteúdo e isso parece-me sempre positivo. No filme, é interessante a referência ao Livejournal, porque parece-me que o livejournal foi uma das ideias mais próximas da experiência facebook uma vez que apesar do formato de blog tinha também a componente restritiva que caracteriza o facebook. A ideia de que Mark Zuckerberg é um adolescente associal que cria um projecto para fomentar a sociabilidade pode não parecer novo, da mesma maneira de que é a rejeição de uma rapariga que o torna desequilibrado na sua procura por notoriedade. Podiam ser ideias tratadas como meros clichés, mas o final do filme consegue captar-lhes bem a essência e inegável veracidade. Da mesma maneira que Fincher tem uma visão bastante putrefacta desta geração do consumo, completamente frívola.

Numa sociedade em que as leis do marketing funcionam como ditadores de uma filosofia de vida, em que parece tão idílico nunca assumir um compromisso definitivo com nada, porque a disponibilidade é um campo de movimentação da ilusão e da economia. Para uma geração à qual não é possível dar um lugar estável na sociedade nem no mundo, a aparência dos prazeres momentâneos parece tão apelativa, quando na realidade é tão falsa e tão medíocre como a personagem do Timberlake. Sinceramente, conheço demasiadas pessoas a quem esta frase assentaria como uma luva You're not an assholeyou just try so hard to be one”.

O filme consegue ser bastante confuso no seu decorrer, com tantas prolepses e analepses e a personagem do Mark parece-me algo caricatural. No entanto, é uma reflexão sobre uma geração e tem uma mensagem bastante conseguida. Um excelente filme deste 2010 que me pareceu um ano algo infrutífero para o cinema.