sábado, 14 de novembro de 2009

Mother - Joon-Ho Bong


Gosto muito de Joon-Ho Bong (봉준호) como actor mas especialmente como realizador. Faz parte daquela linha de realizadores asiáticos com produção de qualidade que não é, de todo, mainstream mas que não é absolutamente impermeável à compreensão, sem muitos efeitos de obscurantismo de sentido para simular efeitos artísticos, que às vezes irritam um bocado sobretudo em alguns realizadores sul-coreanos que de tanto se quererem distanciar das comédias românticas tão populares no país, que acabam por fazer um oposto extremista. O último filme do realizador, “Madeo/Mother”, afasta-se da componente de acção do “The Host” e cai em aspectos mais realistas que relembram mais filmes como “Memories of a Murder” ou “플란다스의 개/Barking Dogs Never Bite”, o primeiro devido à recriação do ambiente rural e o segundo devido à exploração dos estados de espírito e de mente dos seus intervenientes. Embora cada um dos seus filmes sejam peças de arte distintas. Poderia classificar este filme como um thriller emocional de uma mãe em busca do culpado de um crime que é atribuído ao seu filho deficiente. Um conjunto de dúvidas circulam ao longo do filme onde as certezas do espectador são absorvidas pela empatia com a mãe que se revela também ela problemática a uma determinada altura. Mais um filme fabuloso de um dos maiores realizadores da actualidade e com uma interpretação simplesmente avassaladora de Hye-ja Kim (김혜자).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

“Invisível”

Sinopse: Sinuosamente construído em quatro partes entrecruzadas, o décimo quinto romance de Paul Auster começa em Nova Iorque, na Primavera de 1967, quando o jovem aspirante a poeta Adam Walker conhece Rudolf e Margot, um enigmático casal francês. O perverso triângulo amoroso que rapidamente se forma, conduz a um chocante e inesperado acto de violência cujas consequências serão irreversíveis.

Três narradores contam uma história que se desloca no tempo, de 1967 a 2007, e no espaço, à medida que viaja entre Nova Iorque, Paris e uma ilha remota nas Caraíbas. Invisível está imbuído de fúria, de sexualidade desenfreada e de uma busca implacável por justiça. É uma viagem através das fronteiras sombrias entre verdade e memória, criação e identidade.


  Opinião:
O novo livro do escritor norte-americano tem sido aclamado pela crítica (ou pelo marketing) como um dos melhores ou o melhor de sempre escrito pelo autor. Para quem se familiarizou, no entanto, com a sua escrita no registo policial, este livro pode soar mais emotivo e intimista. E será que o autor tem tanto talento para este registo? Pois, na minha perspectiva, não tanto. Primeiro porque não consegue distanciar-se de nenhuma personagem que cria, todas as personagens são ele próprio ou fracções de si próprio e quando não são ele próprio são uma idealização daquilo que ele próprio gostaria de ser. Confuso?! Talvez mas é essa a sensação mais transversal do livro. Como o autor envereda por caminhos intimistas onde é necessário compreender os meandros do pensamento de cada personagem acaba por retirar às personagens um carácter mais naturalista, pois todas pensam como Paul Auster e agem como Paul Auster e é um universo que pertence unicamente ao escritor. Era bom que toda a gente no mundo fosse assim tão intelectual... É curiosa a relação de Gwen com Adam a marcar um claro ponto de fashionable sex nos best-sellers de ultimamente: o sexo incestuoso. Mas quando Paul Auster cai para um temperamento mais romântico, cai para um temperamento bem mais sexual do que o previsto, suponho. Um bocado de sexo, um bocado de diletantismo intelectual e voila! As suas descrições das personagens e do espaço que lembram Fitzgerald ou Hemingway continuam a registar o que de melhores influências tem o autor, mas os espaços em aberto na história, as questões que residem no ar, quem é ou não culpado e quem sai impune numa reflexão dostoiévskiana são sem dúvida os melhores aspectos do livro. A narrativa ou as questões ligadas à meta-narrativa também dão um toque original, dá para construir uma manta de retalhos mental. A ideia em termos de 'arquitectura' da narração é engraçada embora, na realidade, o autor podia ter-se esforçado mais para conseguir o efeito desejado. Para quem não leu o livro é difícil de compreender mas basicamente há um segundo autor dentro do livro que é ele próprio uma personagem que acaba por juntar vários segmentos do livro do primeiro escritor e no final de uma terceira autora para construir a narrativa. De um capítulo para o outro o primeiro autor quis contar a sua história mudando a pessoa da narração. A primeira na primeira pessoa, a segunda na segunda, a terceira na terceira. Acontece que fazer isto ou ter deixado a narração sempre na primeira pessoa era exactamente a mesma coisa porque não há um esforço para que a mudança de pessoa também distancie a narração da personagem, é sempre um narrador omnisciente e quando temos uma descrição na terceira pessoa que faz perguntas retóricas de dilemas como se tivesse dentro do pensamento da personagem, torna-se um mero jogo de formalismo que não acrescenta muito ao livro. A parte final com os registos no diário de Cécile são para mim um dos momentos mais interessantes do livro acabando com uma reflexão brutal sobre o colonialismo. Enfim, um livro que entretém e vale a pena ler mas deixa saudade de estilos mais antigos como em A Triologia de Nova Iorque.