quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Secret Story

Há qualquer coisa no Secret Story que vai ao encontro desta reflexão sobre a inversão do género.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Is This Christmas?

Prendas caríssimas, comida e muita champanhe a acompanhar discussões familiares sobre perspetivas completamente opostas sobre o mundo em que toda a gente acaba aos gritos. Natal... :)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Midnight in Paris / Meia noite em Paris


Este filme encara de frente algo que tem vindo a ser visível em Woody Allen, a noção de nostalgia como “ denial of the painful present”. Owen Wilson foi uma escolha pouco previsível e na realidade quando não temos o Woody Allen nos papéis relevantes, como os de um escritor a questionar a atual direção da sua vida, temos um jovem a falar e a gesticular como WA e é como ver a mente de WA no corpo de outra pessoa, mas enfim, é uma técnica de direção de atores – fazendo com que convirjam para um só, ao longo da cinematografia do realizador. Quanto menos carater próprio tiver o ator, mais isto se nota. Mas os filmes do WA dão-me sempre a sensação de laboratórios de ideias e é isso que os torna sempre peculiares e apaixonantes – ou é só a minha perspetiva lunática de estimação? Seja como for, este filme pega num tema que de tão evidentemente bom, nunca tinha sido tocado: o gossip literário americano dos anos 20. Numa época em que sair à noite e embebedar-se se encontra vulgarizado por uma cultura r&b acéfala emoldurada por luxo bacoco, frivolidade e leviandade sexual, alguém se pergunta o que aconteceu à cultura boémia literária, às conversas intelectuais de café, à inspiração noctívaga? Pois bem, perguntemos às pessoas desse tempo. Recuemos à época de paixão do casal Fitzgerald e aos seus conflitos com Hemingway, ao Dali e ao Picasso ou recuemos antes a Faulkner e a Gauguin? Pronto, esta é basicamente a conclusão do filme, de que a sensação de nostalgia é só uma forma de abstração da realidade, não divergindo propriamente da mera criação de um universo alternativo, tal como os surrealistas o designavam. 
Eu acho interessante porque a nossa música também é toda revivalista oitentista e a nossa moda possui um futuro que era o futuro de antigamente. Acho que houve períodos mais otimistas mas não é o caso do nosso, já que a nostalgia de algo que não se viveu nunca esteve tão presente. Não é de admirar já que nos parecemos aproximar de um colapso a todos os níveis – ambiental, económico, político. WA escolheu corporizar personalidades de uma américa intelectual que pouca tradição literária teve antes disso. Os episódios pessoais acabaram por ser poucos, as peripécias entre o casal Fitzgerald davam para mais uma dúzia de filmes (é o que dá juntar dois escritores, Ted Hughes e Sylvia Plath deviam ter aprendido a lição), mas sou uma grande admiradora da Zelda Fitzgerald, apesar do marido se ter tornado mais conhecido e apesar da loucura patológica posteriormente diagnosticada. Na realidade, ela nunca se conseguiu libertar dos demónios interiores que lhe levaram a perder o rumo na busca do seu próprio lugar no universo artístico. Mas ela já na altura arranjava conflitos feministas com o Hemingway, quando ainda parece tabu dizer que Hemingway tem laivos de misoginia na sua obra. São os tabus dos génios literários, sempre inquestionáveis. Mas esse aspeto ficou mais ou menos demarcado no filme, o que apreciei – embora WA tenha insinuado que Hemingway tinha no fundo um fraquinho por ela? Típico de intelectuais misóginos sentirem-se atraídos pelas mulheres de personalidade forte, deve lembrar-lhes os conflitos internos que tiveram com as próprias mães, ou algo do género, não sei, não sou Freud – ainda que possa escrever alguma coisa sobre o tema. As perspetivas de Hemingway sobre a competitividade inerente ao artista (ao escritor em particular) foram também referidas no filme, embora não tenha ido muito longe nesta abordagem algo evidente da biografia de Hemingway - que de resto, era competitivo em tudo. Fica no ar se WA conseguiu a autorização para filmar em Paris por ter dado uns minutos de fama à mulher do Presidente – são raríssimas as autorizações de filmagens em Paris hoje em dia. Se é uma obra de arte, não sei, não senti a mensagem particularmente penetrante mas, como comecei este texto, considero estes filmes laboratórios de ideias e aprecio sempre filmes em que as personagens estão dentro de museus a falar de Monet ou Rodin com toda a propriedade e pedantismo, incorporando uma boa dose de requinte clássico. E é isso que ser quer, certo? Requinte clássico, como antigamente, como numa época que não é esta.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

15 de Outubro: Indignados

About 50,000 people took to the streets of Lisbon. "We are victims of financial speculation and this austerity programme is going to ruin us. We have to change this rotten system," 25-year-old Mathieu Rego said in the Portuguese capital.
IN NZHerald
http://www.nzherald.co.nz/world/news/article.cfm?c_id=2&objectid=10759493 














http://www.skynews.com.au/world/article.aspx?id=674096&vId=2779385&cId=World
http://www.elpais.com.uy/111015/ultmo-600005/ultimo-momento/presos-y-heridos-en-primera-jornada-mundial-de-los-indignados-/
http://paktribune.com/news/Global-rallies-against-capitalism-244403.html
http://www.nzherald.co.nz/world/news/article.cfm?c_id=2&objectid=10759493
http://www.theaustralian.com.au/news/world/violence-mars-worldwide-anti-greed-protests/story-e6frg6so-1226167981510
http://www.lematindz.net/news/5846-indignes-de-tous-les-pays-unis-dans-la-rue.html
http://www.15min.lt/naujiena/aktualu/pasaulis/kaip-pasipiktinimas-krize-virsta-pasauliniu-judejimu-mes-esame-finansiniu-spekuliaciju-aukos-57-175024
http://nld.com.vn/20111016103857830p0c1006/the-gioi-soi-suc-chong-thoi-tham-lam.htm
http://feeds.univision.com/feeds/article/2011-10-15/violencia-en-roma-en-la-1?refPath=/noticias/ultimas-noticias/
http://www.freiepresse.de/NACHRICHTEN/WELT/Krawalle-ueberschatten-weltweite-Proteste-gegen-Banken-artikel7790503.php
http://www.lhrtimes.com/2011/10/15/rome-clashes-mar-global-day-of-protests/
http://mobile.shanghaidaily.com/article/?id=484874
http://eupolitics.einnews.com/montenegro/
http://pressenza.com/npermalink/italiax-marcha-dos-indignados-deixa-70-feridos-e-12-detidos
http://www.interaksyon.com/article/15255/anti-crisis-anger-turns-into-global-movement-against-greed
http://www.france24.com/en/20111016-anti-capitalist-protests-turn-global-movement-1
http://www.naharnet.com/stories/en/17630-anti-capitalist-protests-turn-into-global-movement
http://www.onlinenews.com.pk/details.php?id=184661
http://www.asianage.com/international/rome-clashes-mar-global-day-protests-883
http://uk.finance.yahoo.com/news/Rome-clashes-mar-global-day-afp-3535894299.html?x=0


http://bourse.lalibre.be/actualites.html?id=20111015T175222Z&genre=AFP&ticker&pays&source=afp

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Entrevista para o Labor

Aqui


Poesia de Sara Costa denuncia “lado negro” da sociedade

Jovem cucujanense vence Prémio Literário João da Silva Correia, pela segunda vez. “O Sono Extenso” dirige-se à juventude dos nossos dias
foto
A crítica de “um certo lado negro”, inerente ao viver dos nossos dias, valeu a Sara Costa a edição deste ano do Prémio Literário João da Silva Correia. Com a obra poética “O Sono Extenso”, arrebatou o galardão pela segunda vez, após uma primeira vitória em 2007
O júri realçou a “força original, interpelante e perturbadora” dos seus versos, que fazem com que o leitor mergulhe “na surpresa de uma desvairada criação de existências vivas, intensas e de uma desconcertante atualidade”.
A poeta prefere salientar que este produto da sua insónia criadora pretende apresentar o seu lado “mais irreverente e mais subversivo”. Mais de acordo com a Sara de hoje, que acabou de completar 24 anos, e por contraponto à jovenzinha que começou a debitar a sua criatividade poética com apenas 16 anos. “Está muito ligado a uma afirmação daquilo que sou “, assume.
Em “O Sono Extenso”, interpela a juventude, que apelida de “geração muito peculiar” e considera “muito minada por uma certa cultura do consumismo”. Explora as incoerências do viver de hoje em dia, que, em especial, marcam os jovens, por lhes criarem expectativas “que, depois, não se cumprem”.
Os versos da obra premiada são um produto de dois anos de trabalho e falam da “insatisfação” e da “frustração” provocadas por um “mundo” de aparentes facilidades, no qual “a felicidade” parece ao alcance da mão, mas onde nos podemos perder. “Sinto que não temos valores, que não percebemos a diferença entre o bem e o mal, entre o que está certo e o que está errado”, sublinha Sara Costa.
Contrapõe ao “olhar mais cínico” deste livro o carácter “intimista” de “Uma Devastação Inteligente”, que, em 2007, também lhe permitiu triunfar no Prémio João da Silva Correia. Então, “explorava a adolescência, na descoberta de certas emoções e de certos sentidos”, recorda.
Fazendo a ponte, e apesar da evolução pessoal, que necessariamente levou a uma evolução poética, considera que quem conhece os seus livros anteriores, reconhecerá em “O Sono Extenso” os traços da poeta: “um certo estilo – a forma como uso as metáforas, as sinestesias e o lado imagético da poesia”.

Escrever é viver

Com a vitória, Sara Costa garante, também, a publicação da obra. Que, como salienta, é um dos motivos que torna “interessante” a participação em concursos e prémios literários.
Refira-se, contudo, que a sua forma de criar e de viver a poesia não implicam uma produção com data marcada, com o fim exclusivo de editar. “Tenho momentos em que tenho mais necessidade de escrever”, diz, assinalando que isso “tem um bocadinho a ver com o aspeto terapêutico da escrita e da arte em geral”.
Como aconteceu com o processo de criação do livro galardoado, regra geral, as ideias vão surgindo, assim como o desejo de as passar a poesia e ... a obra vai tomando forma.
Dos seus primórdios enquanto autora publicada, recorda com especial carinho os tempos em que pôde apresentar os seus poemas na página “DN Jovem” do Diário de Notícias, entre 2004 e 2006.
“Tenho pena que tenha acabado”, confessa, recordando que essa divulgação no periódico nacional lhe dava a sensação de ter “um feed-back permanente” com os leitores que, como acentua, “é muito bom para estimular a escrita”.
Sara Costa enfatiza que o DN Jovem tinha, também, o mérito de desmistificar alguns considerandos sobre a poesia, nomeadamente a que afirma que apenas “uma certa maturidade” a pode fazer nascer. “Acredito que depende mais da maturidade artística das pessoas ”, considera. Vinca que qualquer idade é boa para se passar sensibilidades e sentimentos.
Natural de Cucujães, tem, no entanto, uma vivência escolar, social e cultural muito ligada a S. João da Madeira. Formada em línguas e culturas orientais, orientou a sua vida profissional para o ensino. Diga-se, a propósito, que a sua estada na China, para aprender mandarim e também japonês, lhe insuflou experiências e influências que vão sendo expressas no seu trabalho poético.
E a sua veia artística tem tido deambulações por outras expressões, desde logo pela prosa, com abordagens ao conto, mas também pelo teatro.
Essencial é – e será sempre - criar e comunicar, sem que tenha de assumir a arte como meio de vida. “Mas quanto mais tempo tiver para me dedicar à poesia, melhor!”, declara.

Alberto O. Silva

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O que é "O sono extenso"


Não nos fica bem falarmos de nós mesmos e eu concordo. Não nos fica bem sobretudo realçar aquilo de que gostamos em nós e, no entanto, todos temos - ou se não temos deveríamos claramente ter - uma capacidade mais ou menos introspectiva de nos avaliar, qualificar e caracterizar. No caso da arte e da relação que o artista mantém com ela, essa qualidade auto-analítica dever ser uma permanente. Afinal, o artista é um ser obcecado consigo mesmo e a arte provavelmente mais universal será quanto mais pessoal for. Não há nada de necessariamente pejorativo neste narcisismo de dissecação, algo laboratorial, de exploração permanente dos recursos que provêm do simples facto de se existir: será antes um processo mais perturbador para o autor que não se consegue libertar dessa perseguição a si próprio.
Posta esta introdução mais ou menos justificativa de qualquer coisa que eu não teria que justificar, quando um jornalista pergunta vagamente ‘então diga lá porque é que escreve’ ou ‘o que é que a inspirou para escrever este livro’ eu apercebo-me de que não poderia haver forma mais eficaz de me fazer ter um discurso disperso. Não há formas simples de organizar as ideias. Há claramente uma continuidade, uma identificação de um estilo sempre imagético, sempre sensorial, delineador de espaços que só podem existir na palavra. É todo um universo concreto demarcado no irreal, um espaço fixo na entropia. Chegando a esse espaço a minha ideia é decorá-lo com mensagens que aos poucos se tornam mais evidentes. Contudo, essa evidência não pode cair no erro de ser literal e eu sempre fui uma pessoa prudente e por isso prefiro a pouca clareza ao estado apaticamente redutor e desinteressante. Poderei dizer que este livro se desloca para uma tendência discursiva mais controlada. Exemplos disso são as narrativas e as temáticas recorrentes, enfatizando a simbologia da insónia, explícita no título. Li alguns comentários ao livro que referem ‘atualidade’. É atual na medida em que é um livro de afirmações: de género, de geração e até de valores políticos. Analisa o social e o pessoal como campo de ilusão e expectativas e o caos que advém da frustração e a ausência de directrizes éticas para o qual nos transporta um ideal fictício de dinâmica de grupo versus dinâmica individual, onde a imperatividade social e os desejos pessoais se fundem. A forma como se lida com todos os elementos externos que se nos interiorizam até nos deixar numa desordem ideológica constante. Esta é uma geração do caos, a dita era da informação onde a imensa escolha nos leva a questionar o porquê da persistente padronização. Não é um ensaio, não é livro com respostas porque apenas questiona de uma maneira em que não se mostra exterior a todas as problemáticas mas antes cúmplice delas. É uma viagem, é um sonho que se tem acordado quando não se conseguiu sonhar de noite, é um sono extenso do qual só despertamos no último poema.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Coisas que se põe ao lixo só para ganhar espaço



Interessante como esta onda de culpabilização das agências de rating até parece desculpabilizar o facto dos portugueses terem votado massivamente em políticas sem nenhuma posição face à postura europeia que até agora nada tem feito contra a vulnerabilidade de alguns países à especulação. O défice português é semelhante ou inferior a outros países da Europa mas não é avaliado com os mesmos critérios, ou é culpada a postura ideológica ou é culpada a perspectiva histórica (já partilhei este artigo quando saiu, mas aqui fica novamente).
A especulação das agências e do mercado em geral é assim praticamente arbitrária, o que é curioso é que já o é há algum tempo agora e, no entanto, é tão conveniente ao governo e seus apoiantes fazerem-se passar por vitimizados pelo estrangeiro de forma a evitar aquilo que é o essencial: a discussão não sobre o que é que uma série de empresas privadas andam a fazer para obter lucros de forma fraudulenta (o que é condenável mas não fundamental para nós neste momento) mas sim fazer pressão política para que uma postura seja tomada face à Europa, iniciativa essa que teria que se iniciar, desde já, pela posição do recém-eleito governo. Contudo, a realidade é que o PSD e a pseudo-coligação CDS, nunca ocultaram a realidade das suas posições e políticas e agora que o contacto com a realidade é mais evidente - meramente devido ao aproveitamento político destes partidos que eleva uma ênfase mediática - é que os portugueses decidem estar muito frustrados em relação a algo que se vem a passar desde 2008 e mais particularmente desde a entrada do FMI no país. Foi o que aconteceu depois de um bode expiatório - Sócrates - ter saído de cena.

Isto apela ao clássico da caricatura portuguesa, a figura do Zé Povinho, definida pelo próprio Bordalo Pinheiro da seguinte forma
"O Zé Povinho olha para um lado e para o outro e... fica como sempre... na mesma. Ele é paciente, crédulo, submisso, humilde, manso, apático, indiferente, abúlico, céptico, desconfiado, descrente e solitário, também não deixa por isso de nos aparecer, em constante contradição consigo mesmo, simultaneamente capaz de se mostrar incrédulo, revoltado, resmungão, insolente, furioso, sensível, compassivo, arisco, activo, solidário, convivente..."

É extraordinária a falta de capacidade de análise aquando da vontade de mudança, ou talvez ela simplesmente não exista na realidade: existe apenas como mera expressão da nossa identidade mais ou menos pré-definida, somos os revoltados preguiçosos, queremos ter com que nos entreter na nossa demanda por uma posição de ruptura mas que acabe por se revelar afinal consensual dentro dos nossos grupos. É este o paradoxo que conduz à mera inércia e que nos deixa, afinal de contas, sempre na mesma.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lançamento da Ítaca 3


Ítaca é uma revista fundada no decurso de 2009, por três investigadores do Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: André Simões, J. P. Moreira e Tatiana Faia. A revista compõe-se, de um modo geral, de cinco secções: ensaio, tradução, fotografia, poesia e prosa breve. A sua publicação, a cargo da editora Coisas de Ler, é semestral.


terça-feira, 17 de maio de 2011

Rir de desespero


Vivemos numa sociedade que raramente nos dá espaço. Ou seja, que raramente se esforça por abranger uma faixa etária jovem em qualquer tipo de representação mediática. Estatisticamente será normal, se temos uma população envelhecida, esse público-alvo representará mais share, logo, esse público-alvo será mais procurado. Não é mais do que a lógica de mercado. Agravante é ainda a alternativa da televisão por cabo e da internet como opções aos canais generalistas. Portanto, é normal que ligue a televisão de manhã e seja bombardeada por noções sensacionalistas ultra-conservadoras e saudosistas de direita que me levantem os pêlos da nuca de tão sinistros que são os valores ali representados. Contudo, pensar em variar mais a qualidade do serviço não seria uma estratégia assim tão arrojada como pode aparentar. Senão vejamos, a classe etária jovem está desesperada por rir. É verdade! É curioso verificar que os mais velhos não compreendem fenómenos como pôr o gel e o Falâncio na final de um festival da canção.




 Dos que ouvi falar tentaram justificar a escolha seguindo uma lógica elitista de que “só as pessoas incultas e o povinho votaram naquilo”. Mas o fenómeno é bem mais complexo do que isso. Foi muito mais a irreverência e a subversão que meteram os humoristas lá do que propriamente a parolice e a ignorância. Foram muito mais as pessoas que apreciam o humor do absurdo do que as que viram nos comediantes verdadeiros revolucionários abrilistas. É isto que essas pessoas têm que compreender. No fundo, os jovens estão só à procura do seu espaço e o seu sentido de humor é muito mais virado para o culto da incongruência do que conscientemente contestatário de um qualquer sistema político vigente. Foi isto que deu a fama ao fenómeno “gato fedorento” prendendo toda uma geração de apreciadores de humor ao humor Monty Python. Ora, quando se fala em Monty Python estamos a falar dos anos 70. Eu suponho que desde então já se pudesse evoluir para outra coisa. O gosto pelo absurdo? Bom, então posso referir o movimento dadaísta de 1915? O dadaísmo focalizava-se essencialmente no nosso tão pós-moderno termo de “non-sense”… que então, vistas bem as coisas, nem é assim tão moderno. Ou seja, o que eu quero dizer é que não há motivos para se viver realmente um conflito geracional e é uma pena que, mesmo assim, esse conflito esteja mais que presente. De que outros fenómenos podemos falar? Até uma coisa com um nível de qualidade medíocre como o “último a sair” está a provocar um hype tremendo entre os mais jovens . Estamos, claramente, desesperados por rir. Queremos rir à força toda e na nossa própria língua. Foi assim que surgiu o fenómeno tremendo que foram os gato fedorento.




O que é curioso é ver o programa francamente insultuoso e profundamente deprimente que estes 4 humoristas outrora de vanguarda andam a fazer no canal do meo, o “fora da box”. Basicamente, são sketches antigos mas que incluem coisas como “Rede 100% fibra óptica”, “velocidade garantida” e “melhor qualidade de imagem e som” com um enorme “production value 100% maior-gigante-neoliberal-de-telecomunicações” e com textos humorísticos sofríveis, a roçar o infantil e com uma originalidade a zero cujo único propósito é o publicitário.
Francamente, o Bruno Nogueira é a única pessoa engraçada daquele programa da RTP – e eu até sou fã da maior parte do trabalho do Miguel Guilherme (lembram-se do fintas e fintas?), mas, sinceramente, ele podia fazer tão melhor.
E o novo programa do Gato Fedorento é de se atirar de um 12º andar mas em alta definição, porque, sinceramente, não poderia ser mais irrisório, já os estou a imaginar a planear o programa:
- Ora vamos lá então fazer o sketch do primo tozé do campo mas incluir os termos “mais de 70 canais” e “fibra óptica” no meio do diálogo em que ele fala das coives e das ovelhas.

Ou outro assim:

- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- Ahhhhhhhh! Mas qual HD?

A sério, não somos assim tão estúpidos. Merecemos melhor. Depois queixem-se que falamos inglês. É que eles (pessoal de países de língua inglesa) fazem coisas engraçadas. Mas engraçadas mesmo, daquelas mesmo de rir.

domingo, 8 de maio de 2011

MGMT, Queima das Fitas e espírito académico




A queima do Porto tem vindo a fazer um esforço para se destacar de outro tipo de festas académicas. No ano passado com Crystal Castles e Franz Ferdinand e este ano com MGMT. Já está a adquirir o estatuto de “queima indie” e com mérito. O ano passado aprendi a lição ao chegar em cima da hora para o concerto de Franz Ferdinad e ao ter que ficar lá atrás de tudo. Então este ano decidi ir bastante cedo e ver o recinto do queimódromo a abrir as portas – coisa a que nunca tinha assistido na vida. Vale a pena! Quando se é fã e se vai pela banda porque tive a oportunidade de ficar logo entre a primeira e a segunda fila em frente ao palco com toda a qualidade de visualização que isso envolve. 




Então, sendo este um concerto que eu queria muito ver, fiquei algo apreensiva por ser numa queima na medida em que já se sabe que nas queimas se encontra todo o tipo de pessoas (de pessoas estudantes mas ainda assim pessoas – e não, eu não acho que por sermos todos estudantes somos todos iguais…) e assim foi confirmado. Á porta do recinto faziam fila emos, gente do metal e até algumas miudinhas e miuditos já bêbados ainda mal o recinto tinha aberto. Portanto, foi logo de se andar para ali a contornar vómitos. Interessante de se verificar que algumas pessoas confundem música emo com música indie, era só reparar nos miúdos com o cabelinho escorrido, parcialmente pintado e com t-shirts dos “paramore”. Sou uma pessoa calorosa e comunicativa, como qualquer nortenho que se preze e não sou o tipo de pessoa de estar a olhar para toda a gente à minha volta com um ar snob (vamos deixar isso para pessoal que fala português catedrático) mas não haveria outra forma de transmitir a minha experiência.
Adiante, lá fiquei a fazer tempo a ver os X-wife à espera dos MGMT. Não conhecia x-wife. Achei piada a uma ou outra característica pós-punk da banda e do ritmo mas achei as músicas no geral algo entediantes. Voltam os roadies e finalmente os MGMT entram em palco.


Como estava muito próxima do palco consegui captar todas as expressões dos músicos. Abrem com a The Youth. The youth!! Abrir um concerto numa queima com the youth!!! Bem… que escândalo! Pensei que eles se iam adaptar ao espírito quim-barreirista vigente e fazer uma coisa com mais consciência de que aquilo é um festival para estudantes com uma propensão para a cirrose acima do que deveria ser permitido. Mas não! Estavam-se a borrifar! Era ouvir os metalheads “mas a gente vai fazer moche, não?” e uma miúda com uma cartola azul a dizer “então se em Quim Barreiros fizemos moche porque é que não havemos de fazer em gê éme tê?” Ahhh! Moche em MGMT? Mas que tipo de acéfalos ignorantes querem fazer moche em MGMT?
Vamos lá a ver, não é porque são estudantes que têm que ir a todos os dias da queima e, sobretudo, não têm que vir ver os concertos. Se ouvem a “of moons, birds & monsters” em casa e aquilo vos soa bizarro, estranho e incompreensível, deixem-me dar-vos uma dica: não apareçam no concerto! Vão embebedar-se ao som de Shakira para a barraquinha mais próxima. É este o grande problema de se querer algum vanguardismo, é que a própria organização ultrapassa a clientela comum.


Mas claramente, o Andrew VanWyngarden sabia o que estava a fazer. A introspectiva e profunda youth como música de abertura foi entoada com uma falta de comunicação terrível. Excessiva até. Entraram na defensiva e nem sequer deram à audiência o benefício da dúvida.
Primeiro que o vocalista lançasse um olhar para a plateia foi preciso terem passado já umas quatro ou cinco músicas. Alguém lhes deve ter dito que éramos todos fãs do Quim Barreiros, só pode! Aproveitando a ocasião para os deixar a par de todo o tipo de metáforas e alegorias sexuais que se podem fazer com a comida e explicando que bacalhau é um prato típico muito bom que deveriam provar. Bom, enfim, eu estou a dar um cenário muito negro da audiência. O que não é justo porque claramente havia muitos fãs. Havia muita gente que só tinha ouvido a “Kids” mas havia muita gente, pelo menos à minha beira, nas primeiras filas, que conhecia muito bem o trabalho da banda. Havia muitas raparigas – coisa que em Franz Ferdinand o ano passado não era tão visível – eu estou sempre muito atenta às questões de género, como se sabe.
O que é certo é que achei este concerto delicioso precisamente por causa de ser anti-festivo, anti-académico e por conseguir reunir toda a gente que se sente como eu, ou seja, a audiência deste concerto é a melhor representação estudantil que eu poderia ter. Mas se formos à essência da questão, é normal que assim o seja. Estamos a convidar bandas de uma tremenda originalidade quando o espírito académico se define pela condensação da originalidade, pela uniformização, pelo consumo das individualidades tornando-nos a todos mais do mesmo, jovens com trajes que gostam de perpetuar “tradições”… só que bêbados, o que torna tudo muito mais irreverente! Não, mas francamente, o espírito académico não precisa de ser isso (agora ocorreu-me um slogan do PSD, mas vou já benzer-me para me expurgar) e é a trazer o espírito de “the youth”, “the handshake” e da “electric feel” que podemos demonstrar uma alternativa.




Os artistas perceberam que até não éramos assim tão ignaros quando no encore os chamámos a gritar pelo nome da banda e a entoar partes das músicas e foi assim que roubámos uns sorrisos adoráveis ao teclista e ao vocalista – ok, os sorrisos já tinham surgido na Kids quando se aperceberam que, pelo menos, toda a gente sabia cantar aquela. Estão a ver, os portugueses até são boa gente e nem todos são parolos! Pessoas falaram da sua convivência com os artistas depois do concerto em barraquinhas do recinto. Só as posso invejar porque a mim o dever chamava-me no dia seguinte – já não estou na fase do estudo, para que conste. De qualquer forma, achei uma noite fabulosa. O som podia ser melhor, o pessoal do moche poderia ter ficado quietinho que tinha feito melhor figura e os artistas escusavam de estar tanto na defensiva mas deste espírito académico que envolve partilhar o prazer de ver um bom concerto de uma banda de qualidade eu posso dizer que é um espírito no qual eu me revejo.


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Bolaño fever



A produção literária latino-americana tem tendência a tornar-se gradualmente mais aclamada. Esta chamada de atenção veio sobretudo com os novéis de Marquez e Vargas LLosa mas não só. Também o 2666 é considerado um livro emblemático no panorama da escrita deste lado do mundo ou, pelo menos, assim nos quer fazer parecer a sua algo súbita popularidade. Depois do realismo do fantástico de Borges ou Julio Cortázar onde se entendia que os elementos do fantástico ou do absurdo poderiam integrar a realidade do quotidiano para melhor destacar elementos dessa mesma realidade, Bolaño é agora chamado o fundador do punk surrealista ou infrarealismo (ainda que o infrarealismo tenha sido uma resposta Chilena e Mexicana à corrente de André Breton). Os elementos que distinguem este estilo passam uma meta narrativa: os livros de Bolaño narram as vidas de escritores, quase sempre poetas, que vivem à margem do social – chegando ao ponto de se aproximarem de criminosos. Manifestam algumas psicoses e uma libido irrefreável. Então em 2666 encontramos isso tudo mais um elemento que lhe é muito querido que é um fascínio tremendo pela violência e por homicídios. Realmente um livro tão grande onde cabem cinco será o suficiente para se ter contacto com todas estas características. A atenção dada à forma como elemento descritivo e neutro, quase jornalístico, e de resto tão típico da literatura americana, é polvilhada com pitadas de humor sarcástico. É um tipo de literatura que nos entra pouco pelos sentidos porque não tem uma forma convencionalmente bonita. Se Proust estava certo em relação ao facto de sabermos que temos um novo marco da literatura à frente dos olhos quando a sua escrita nos parece predominantemente feia, então com 2666 encontramos as pistas certas porque os primeiros capítulos deste volumoso livro nos impõem alguma repulsa, como se houvesse algo de imperceptível que nos irritasse...por ser imperceptível. E ainda assim atraente. É atraente mas não sabemos muito bem a que é que se propõe. E esta foi certamente a minha experiência de leitura. Contudo, a falta de descrição da dimensão pessoal das personagens é algo que me cria dificuldades. Não consigo compreender a essência: é suposto identificar-me ou a repugnância que estou a sentir foi intencional? De qualquer forma, a falta de personalização do universo psicológico das personagens não me é suficiente para a empatia. Há mensagem política ou não? Não vejo o universo inteiro dentro deste livro mas vejo o interesse em tentar apropriar numa realidade sinistra uma visão transcendente neste caso associado aos assassinatos em Santa Teresa ou à personagem fictícia do suposto escritor alemão Archimboldi. Não é daquele tipo de livros que se expliquem. Ou talvez seja porque há capítulos mais elucidativos do que outros. Seja como for, não sei porquê mas relembra-me alguns trabalhos de Easton Ellis ou de Bukowski, ou seja , não consegui criar uma febre em torno da obra ou do autor. Mas, novamente, não sou a maior apreciadora do estilo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mandarim Cityschool



Para pessoas da minha área, divulgo esta oferta de emprego. Devo, no entanto, dizer que já trabalhei com a Cityschool do Porto e que não o voltaria a fazer. As instalações são muito boas, mas não é muito bem pago (bom, sempre é melhor do que um Wall Street Institute, mas aí também já estamos a falar de extremos de decadência). Além disso, uma coisa a ter em conta no trabalho de formador de línguas específicas é também o de fazer valer a nossa escassez. Para quem trabalha com prestação de serviços, não se podem tolerar pagamentos irrisórios (até porque os alunos deste tipo de institutos pagam pequenas fortunas para os frequentarem). Posso dizer que trabalhei lá para ganhar experiência mas o que me pagaram quase não cobriu despesas de deslocação - sim, porque para dar este tipo de formação, não é ao virar da esquina que se encontram as pessoas devidamente qualificadas e nem o facto de se residir numa área afastada os faz reflectir minimamente sobre as propostas de pagamento. No entanto, para mim o problema não residia no que eu poderia lucrar. O verdadeiro problema foi lidar com a directora da Cityschool do Porto, Luísa Lupi. Para alguém que apregoa constantemente a relação interpessoal com colegas de trabalho como um dos principais aspectos a ter em conta, o estilo opressor, desconfortável e hierárquico com o qual lida com os formadores que emprega, é simplesmente insuportável. Eu sei que as coisas não estão fáceis e etc mas fica a mensagem de que não nos podemos sujeitar a qualquer coisa por uns trocos. Aproveitem a oferta e a experiência, mas não se deixem intimidar pela postura da senhora. Ela não tem qualquer direito de vos fazer sentir seus submissos.

domingo, 27 de março de 2011

Idiotés


"Os gregos antigos chamavam idiotés ao indivíduo que não se metia em política; a palavra significava pessoa isolada, sem nada para oferecer aos restantes, obcecada pelas pequenas coisas de ordem doméstica e, afinal de contas, manipulada por toda a gente."

" Cada um de nós considera mais ou menos óbvio que deve preocupar-se consigo e, no melhor dos casos, acha também que importa ser-se o mais decente possível; mas quanto aos problemas que temos em comum com os outros, quanto ao que a todos nos diz respeito, leis, direitos e deveres de alcance geral… ora, isso são coisas que só têm interesse para quem gosta de complicar a vida! No meu tempo, tinha-se por adquirido que o facto de um indivíduo ser politicamente “bom” o autorizava a ignorar a moral de cada dia; hoje parece ponto assente que se tentarmos conduzir-nos moralmente no plano privado fazemos já o bastante, não sendo necessário que nos preocupemos com os assuntos públicos, ou seja, políticos. "

Fernando Savater

domingo, 13 de março de 2011

Nós, os jovens


Sem dúvida que estávamos a precisar de um grito destes para manifestar a nossa existência, para mostrar que, sim, estamos aqui a perseguir expectativas – nossas ou de outros - que não conseguimos cumprir. Vivemos numa realidade ilusória de mobilidade social coerente para nos apercebermos de que afinal a mobilidade social não é tão bem estruturada como um dia pensámos que fosse. Agregados aos problemas meramente políticos e económicos, sentimos a frustração de viver num país envelhecido que nos reprime qualquer sentido de irreverência intelectual e cultural e que é contagioso e que torna os jovens muito mais velhos do que aquilo que são.

E quando se está à rasca quer-se mudar essa situação. Quer dizer, parece lógico, quando se está mal quer-se estar bem. Querer estar bem por si só pode ser um ponto de partida e, nesse sentido, estar-se lúcido da sua condição - ou falta de condições - já é muitas vezes uma conquista. No entanto, será meramente um ponto de engrenagem. A partir desta constatação é a procura de uma solução que ocupará o espaço dedicado à continuidade desta determinação. Essa procura tem, no entanto, que se construir concretamente, fundamentada num projecto ideológico coerente com objectivos mas também com métodos, ou seja, meios para atingir um determinado fim.

Ao exporem-se também se lhes deixam avaliar as falhas. Por exemplo, somos imparciais e possuímos esta herança social do consenso, do “dar-se bem com toda a gente” que simplesmente nos faz perder qualquer personalidade, sobressaindo também a cobardia de encarar quem nos opõe. Mais, esta determinação apolítica não é mais do que ignorância por um lado e desinteresse por outro – embora estas duas facetas estejam correlacionadas. Por um lado, não decidir também nos varre a necessidade do conhecimento que nos conferirá a capacidade de decisão de entre as várias posturas possíveis. Por outro, parece que ninguém quis saber de política para nada até as coisas nos afectarem a nós. E é precisamente neste ponto, nesta incapacidade de criar um movimento próprio com ideias próprias que surgem os gritos por liberdade no meio de uma manifestação sobre precariedade laboral. Será que nos metemos na máquina do tempo e recuámos 40 anos? Mais ou menos, é que esta geração precisa de pegar nas vozes dos pais, que são as vozes revolucionárias que conhecem e que são uma referência de uma geração que não é esta, de uma realidade que não é esta. Depois há aquele ódio típico ao governo, como se o problema fosse o Sócrates e não a Merkel, como se o problema não fosse inquestionavelmente europeu. O governo tem tentado preservar o pouco estado social que ainda possuímos mas se não é o suficiente, porque não é, então terá que haver uma mobilização ainda mais à esquerda e uma mobilização coesa, com ideologias claras, que se defina e, acima de tudo, que crie um projecto focalizado na ideia de mudança de intenções de voto.

Um dos aspectos mais positivos da manifestação é sem dúvida a visibilidade internacional. Porque como o pessoal lá fora não ouviu as entrevistas na rua durante a tarde em que um skinhead falou, uma anarquista falou, uma defensora dos direitos dos animais falou, o Cavaco Silva falou, o senhor que precisava de renovar a canalização da casa falou, realmente estas 300 mil pessoas na rua até parece que estavam todas de acordo em relação ao fim dos contratos a prazo e dos recibos verdes… pelo menos passar essa ideia, vale sem dúvida a pena. Agora, resta repensar o movimento. O Jel e o Falâncio têm piada mas, deixem-me recordar que eles fazem sátira aos próprios militantes de esquerda! Parem lá de gritar “quero dinheiro para comprar um carro novo” porque isso é uma profunda ironia, por muito que não pareça e por muito que ter um carro novo seja efectivamente apelativo… mas sim é uma ironia!! Quem diria!... Pronto, enfim, já fiz o meu exercício de escrita e quero deixar registado o meu apelo para que se repense este movimento, vamos pôr aqui um governo que se está a borrifar para os mercados internacionais e para a Europa… só para ver no que dá! Porque isso, sim, seria irreverente e seria diferente. Ok, não necessariamente a borrifar mas, pelo menos, que a repensasse à luz de uma perspectiva de união real e não de divergências que só nos escravizam. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Saber a mar ou o Tarantino Português



*Pareceu-me ser a observação que faltava à blogosfera nacional.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Andrew Garfield as Spider Man?

Hum... :/

Amin Maalouf e as favas do Cairo

Existem nos mercados do Oriente «favas» misteriosas a que antigas superstições dão o poder de favorecer o nascimento de crianças do sexo masculino. Quando o narrador deste romance, um sábio francês especialista em escaravelhos, consegue encontrar algumas durante uma viagem ao Egipto, não tem dúvidas de que o mundo acaba de entrar numa época crítica da sua história. Com efeito, um pouco por toda a parte, os nascimentos femininos vão-se tornando raros, sem razão aparente. Seriam as «favas» a origem dessa desgraça? Através de uma série de tentativas de investigação que os conduz até ao equador, o sábio e a sua expedição procuram uma explicação. 
Feroz e terno, alegre e sério, este romance de Amin Maalouf presta-se a mais de uma leitura. Romance do amor «maternal» de um pai para com a sua filha, romance de um homem dedicado à «feminilidade do mundo», romance de um mal incompreensível que destrói as mulheres e atormenta os homens, romance da divisão do nosso planeta entre um Sul em decadência e um Norte que se exaspera, romance do assustador encontro entre as perversões do arcaísmo e as da modernidade... Mas talvez seja antes de mais o romance do desconcertante fim de século passado. Também com um olhar inquieto para o vinte e um, já presente e que o autor designa, enigmaticamente, O Século Primeiro depois de Beatriz.




O que é interessante neste livro é a forma como consegue construir uma narração em torno de uma ideia que soa a ficção científica biológica virada para reflexões humanistas. As favas do Cairo dispostas a conservar uma moral arcaica da preferência pelo nascimento de um filho e não de uma filha. Por outro lado, as relações pessoais retratadas com a distância de um catedrático. Realista mas não meloso. Com ideias antigas mas com uma perspectiva de ficção bastante interessante. Espero agora a leitura do “As Identidades Assassinas”.   O que é realmente lamentável nesta edição é a péssima tradução e péssima revisão do livro, que até erros ortográficos deixou e traduções directas do francês de coisas que não fazem sentido. Gostava que a editora desse um tratamento melhor a estes livros do Amin Maalouf, que é cada vez mais conhecido e procurado, mas isso não justifica que editem as coisas à pressa. 


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

The Social Network



Apesar dos vários ingredientes positivos que se anteviam eu adiei a visualização deste filme, perdendo a oportunidade de o ver no cinema. Posso dizer que é algo de que me arrependo profundamente, mas agora não há volta a dar, a não ser que eu alugue uma sala só para mim e o projecte, o que até não era má ideia (não levava com o barulho das pessoas a comerem pipocas, já repararam que a maioria dos portugueses vão ao cinema essencialmente para comer pipocas?! como se o filme fosse um extra que vem com as pipocas). Seja como for, o que me levou a pensar assim foram os trailers que por algum motivo davam uma sensação de pretensão que foi nitidamente feita para atrair o grande público, já que o filme também fala de um fenómeno do grande público – e daí a minha desconfiança. No entanto, deveria acreditar mais no trabalho de David Fincher, pois realizou alguns dos meus filmes favoritos (Fight Club, Zodiac).

Parecia um filme sobre um fenómeno de massas virado para atrair a atenção dos miúdos novos dando a entender que basta ter uma ideia brilhante para se ter tudo na vida. Felizmente o filme é bem mais complexo e maturo do que isso, abordando precisamente a faceta altamente imatura deste tipo de ideias. Inicialmente confronta-nos, de facto, com uma tremenda presunção associada à noção de facebook, como a última tendência mundial genial, que eu nunca achei muito legítima, porque, como tudo, é uma questão que também está relacionada com tendências e marketing e a fase de aparecimento do facebook é uma fase em que tudo o que se relaciona com as redes sociais se está a desenvolver: a tentativa de transpor para a internet a experiência social da escola não é uma noção nova, por esta altura. Para além disso, acredito que as redes sociais não se resumem a algo tão linear. Apesar de possuírem bastante essa componente adolescente da descoberta do social, as plataformas de comunicação online, independentemente de serem redes sociais, têm a dimensão das pessoas que as utilizam desde que as possibilidades sejam infinitas.

Claro que se eu só tenho pessoas desinteressantes como amigos, a minha experiência com esta plataforma vai ser muito menos interessante, do que se acontecer ter amigos com bastante para dizer ao mundo (o que, felizmente, é o caso!). No fundo, é tudo uma questão de conteúdo e isso parece-me sempre positivo. No filme, é interessante a referência ao Livejournal, porque parece-me que o livejournal foi uma das ideias mais próximas da experiência facebook uma vez que apesar do formato de blog tinha também a componente restritiva que caracteriza o facebook. A ideia de que Mark Zuckerberg é um adolescente associal que cria um projecto para fomentar a sociabilidade pode não parecer novo, da mesma maneira de que é a rejeição de uma rapariga que o torna desequilibrado na sua procura por notoriedade. Podiam ser ideias tratadas como meros clichés, mas o final do filme consegue captar-lhes bem a essência e inegável veracidade. Da mesma maneira que Fincher tem uma visão bastante putrefacta desta geração do consumo, completamente frívola.

Numa sociedade em que as leis do marketing funcionam como ditadores de uma filosofia de vida, em que parece tão idílico nunca assumir um compromisso definitivo com nada, porque a disponibilidade é um campo de movimentação da ilusão e da economia. Para uma geração à qual não é possível dar um lugar estável na sociedade nem no mundo, a aparência dos prazeres momentâneos parece tão apelativa, quando na realidade é tão falsa e tão medíocre como a personagem do Timberlake. Sinceramente, conheço demasiadas pessoas a quem esta frase assentaria como uma luva You're not an assholeyou just try so hard to be one”.

O filme consegue ser bastante confuso no seu decorrer, com tantas prolepses e analepses e a personagem do Mark parece-me algo caricatural. No entanto, é uma reflexão sobre uma geração e tem uma mensagem bastante conseguida. Um excelente filme deste 2010 que me pareceu um ano algo infrutífero para o cinema.