sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Xinran e os testemunhos da China do início de séc. XX



Xinran viajou pela China entre 2005 e 2006 à procura daqueles a quem chama de «avós» e «bisavós» no país: homens e mulheres que viveram, na primeira pessoa, as profundas mudanças da era moderna. Por cidades e aldeias remotas, Xinran falou com os membros dessa geração, entrevistando-os pela primeira e, talvez, última vez. Ainda que com medo de possíveis repercussões policiais, falaram com toda a delicadeza dos seus sonhos, medos, lutas e daquilo que testemunharam: o percurso da Revolução Cultural de Mao. Apesar do Ocidente olhar os últimos cem anos da China através de uma visão maioritariamente ligada à ascensão e poder de Mao Tse Tung (ou Mao Zi Dong), o mesmo período, para os chineses, é profundamente mais complexo.

«A riqueza desta obra está pois nas pessoas extraordinárias que por ele desfilam...»
Rui Bebiano, Revista LER


ISBN: 9789722519946
Número de Páginas: 496
Data da primeira Edição: 2009

Costumam-me perguntar o que é que eu acho dos livros sobre testemunhos do período revolucionário na China cujo espólio é já denso e complexo e como me interesso por literatura e pela China, aí está um tema com o qual me associam conhecedora e eu confesso que não tenho um conhecimento muito profundo deste tipo de literatura. E não é por desinteresse pelo estilo que pode soar panfletário mas que não o é forçosamente e também não é por desinteresse no período histórico da China até porque é um período ao qual não se pode estar alheio para se compreender seja o que for sobre a China contemporânea. E há autores com interesse como o caso de Xinran Xue. Chinesa expatriada que reside em Londres e que mantém colunas em jornais britânicos e é regularmente convidada para falar de relações internacionais em telejornais da BBC ou Skynews. Eu penso que o livro mais conhecido dela é o "Mulheres da China" cuja sinopse é
"Durante oito inesquecíveis anos, a jornalista Xinran apresentou na China um programa de rádio em que muitas mulheres falavam de si próprias e da sua vida. «Palavras na Brisa Nocturna», assim se chamava, rapidamente se tornou no mais famoso programa de rádio chinês. Nele se revelava o que significa ser mulher na China de hoje." e que continua com "Este é um livro que começa onde Cisnes Selvagens de Jung Chang terminou: a vida das mulheres chinesas depois de Mao."


Jun Chang também é outra referência. Bem, causa-me algum constrangimento a quantidade de livros de mulheres heróicas do período maoista que são todos os anos editadas, pois dá assim uma ideia de alimentar um fascínio ocidental pelo drama alheio e exótico cheio de clichés universais. Mas pronto, à parte disso, osTestemunhos da China, é um título curioso com um verdadeiro trabalho de pesquisa jornalístico levado a cabo pela chino-britânica Xinran. Só que parece que o que me repele principalmente destas obras são as traduções. São normalmente feitas em regime trilinguistico de chinês para inglês para português, editoras, não sejam forretas e comecem a empregar pessoas como eu, se fazem favor, para fazer traduções directas! Para além disso, pessoas como eu - que é só uma forma de falar, não é um vangloriar narcisista parvo, aliás alguém com mais formação que eu era preferível - isto é, pessoas que pudessem transpor as terminologias originais para a nossa mui nobre língua e que continuassem a deixar a leitura perceptível, se calhar dominando até com mais incidência terminologia política porque realmente há passagens do livro que não são muito acessíveis ao leitor português comum devido à ausência de contextualização histórica - talvez porque ela não está devidamente investigada no país e torna-se quase mítica, como se ninguém soubesse claramente o que se passou realmente e o seu único acesso ao conhecimento passasse por este tipo de ficção/semi-ficção/colectânea de relatos biográficos organizados por expatriados. O livro recomenda-se mas o português não é o melhor. Trabalhos de investigação talvez quando descentralizarmos devidamente os cânones e estas recém-licenciaturas em estudos asiáticos começarem a traduzir-se em produtos culturais finais de utilidade académica comum. 



domingo, 24 de janeiro de 2010

Ontem Estive no Inferno


João Negreiros

O jornalista da vossa beleza



Como sempre, e como não poderia deixar de ser em relação às produções do TUM, a angústia é sempre a mesma: um espectáculo demasiado grande para um auditório demasiado pequeno. Ou seja, como chamar de cultura underground nortenha aquilo que são simplesmente os melhores momentos de palco aos quais podemos assistir neste país à beira mar plantado que mais parece areia onde não se consegue semear nada que cresça saudável? A poesia estonteante, profusa e visceral de João Negreiros e as interpretações avassaladoras, trabalhadas até ao âmago de cada actor, sofridas (bem sei...) expostas a um público demasiado pequeno, demasiado insignificante. Tão demasiadamente insuficiente que às vezes até parece que passamos "tantos nanossegundos correndo desesperadamente para não sei bem onde/ fazer não sei bem o quê  com não sei quem  sozinho " (Queda Live)
Simplesmente demasiado bom, dói.


sábado, 23 de janeiro de 2010

Top10 - As mais bizarras mortes literárias

Ok... aviso desde já que este post é mórbido mas é incrível como alguns fins de vida são estupidamente bizarros ou quase uma manifestação última de uma obra de arte. 

#10 - Ambrose Bierce [1842-1914?] USA



Desaparecido no México enquanto fazia uma reportagem sobre a revolução mexicana comandada por Pancho Villa. Provavelmente assassinado.

"Life. A spiritual pickle preserving the body from decay . . ."



#09 - Leo Tolstoy [1828-1910] Rússia




Morreu congelado numa estação de comboios numa noite de Inverno.

"Our body is a machine for living. It is organized for that, it is its nature. Let life go on in it unhindered and let it defend itself, it will do more than if you paralyze it by encumbering it with remedies."




#08 - Virginia Woolf [1882-1941] Inglaterra




Encheu os bolsos com pedras e atirou-se para o rio Ouse em York.
“If we didn't live venturously, plucking the wild goat by the beard, and trembling over precipices, we should never be depressed, I've no doubt; but already should be faded, fatalistic and aged.”



#07 - Eurípides [480-406 B.C.] Grécia



Segundo a lenda,  Aequelau, rei da Macedónia, mandou uma série de cães para o comerem.
"But learn that to die is a debt we must all pay."




#06 - Sherwood Anderson [1876-1941]USA



Apanhou uma inflamação no abdómen depois de engolir uma lasca de madeira nos aperitivos de uma festa.
"Everyone in the world is Christ and they are all crucified."




#05 - Hart Crane [1899-1932]USA



Conhecido por ter dito "Good-bye everybody."enquanto caía no Mar do Caribe.
"... we have seen/The moon in lonely alleys make/A grail of laughter of an empty ash can . . ."


#04 - John Berryman [1914-1972] USA



Saltou para o rio do Mississippi; Há relatos de que acenou um adeus a uma pessoa que ia a passar enquanto caía.
"We must travel in the direction of our fear."


#03 - Edgar Allan Poe [1809-1849] USA



Muito mistério rodeia a morte de Poe, talvez se tenha embebedado até morrer,( a julgar pela conhecida vivência de intelectual boémio)  mas como é difícil explicar esta situação, especialistas consideram que talvez tenha morrido de intoxicação causada pelos candeeiros a óleo da altura que tinham propriedades tóxicas apuradas. O certo é que foi encontrado morto numa rua de Baltimore vestido com roupa que não era a sua, o que indicará homicídio. O mistério à volta da sua morte vale-lhe o 3º lugar.

"In an instant I seemed to rise from the ground. But I had no bodily, no visible, audible, or palpable presence."



#02 - Sergei Esenin [1895-1925] Rússia




Cortou os pulsos e escreveu dois últimos poemas com o próprio sangue "Do svidania drug moi"/"Adeus meu amigo".
"Don't waken the dream that is dying/Don't stir the aim that has failed./Life brought me too early to trial;/The loss, the defeat—what availed?"




#01 - Yukio Mishima [1925-1970] Japão


Cometeu seppuku (hara-kiri) após uma tentativa falhada de golpe de estado com Katana e traje samurai contra o governo por considerar que este estava a humilhar a nação perante a submissão aos americanos e por pretender uma definição mais tradicional de estado-nação.
"If we value so highly the dignity of life, how can we not also value the dignity of death? No death may be called futile."

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Lady Terminator

As The Cinema Snob discovers, Indonesia has found a way to combine the South Sea Queen with...James Cameron's "The Terminator"?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Senhor Woody Allen

Eu disse que ia fazer uma análise cinematográfica não doentia! E aqui está ela. :)
Decidi escrever sobre o artista das duplicidades. A negra decadência tornada em sedutora comédia. A vida urbana em todo o seu esplendor e declínio como uma coisa só. A liberdade do desejo versus a limitação da moral. O elitismo sofisticado ou o diletantismo absurdo. Pessoas que se zangam a sério porque não se entendem com o enquadramento dos filmes de Bergman ou da obra de Beckett. Burgueses intelectuais, abarcando os dois tipos de elitismo sempre com uma perspectiva irónica bem patente - como em Small Time Crooks (2000).



Porque afinal o amor é como um terreno movediço e a infidelidade como uma sincera manifestação do ser e esses são os maiores dramas do mundo… Ou não? Que ele se tenha casado com a própria filha adoptiva, bom, afinal Nabokov não escreveu “Lolita” baseado no nada e cada um que corporize as suas repressões psicológicas como quiser (ou como a lei permitir?). Bom, não interessa! Eu pensei em fazer um top10 Woody Allen porque um top é uma forma de organizar ideias mas depois pensei que também era uma forma de reduzir ideias e torná-las sensacionalistas… portanto, a velha e boa redacção será a solução.




Penso que a filmografia do realizador tem muitas oscilações, poderosa comédia inteligente, genialidades no seu sentido pleno e até muitas banalidades e é normal oscilar-se quando já se produziu quase meia centena de filmes. O que é também curioso é que apesar da abundância de produção, as temáticas são sempre recorrentes de uma forma particularmente homogénea, definindo muito bem o campo das contribuições que ele tem para dar. As relações humanas e sentimentais é background infalível, o que muda ligeiramente são as abordagens. O formato pode, contudo, mudar pontualmente, estou a recordar-me, por exemplo, do hilariante e genial Zelig (1983) no formato de documentário fictício onde a ênfase na sátira histórica e política é mais apurada. Um género mais ou menos semelhante foi seguido em Sweet and Lowdown (1999) o filme independente que conta a história de um guitarrista chamado Emmet Ray interpretado por Sean Penn.Ou o músical Everyone says I love you (1996).
Ao ver a produção mais antiga e que todos os especialistas consideram mais “característica” do realizador apercebi-me que muito para além do aspecto cómico/absurdo das conexões humanas, uma coisa que realmente fica bem nos filmes do Woody Allen é explorado mais tardiamente, refiro-me ao factor grave e especificamente trágico. É por isso que não consigo desprender-me do meu amor infinito pelo Match Point (2005) e pelo Cassandra’s Dream (2007). Não são filmes “típicos” apenas porque não se resumem ao Woody Allen actor a interagir e a narrar, porque são filmes em que ele nem sequer entra e onde as personagens são mais jovens. Para mim, são o meu Top2.





São filmes onde a catarse é brutal. Eu acho que sempre que lemos análises à obra de Woody Allen os filmes mencionados são sempre os dos anos 70 e 80 mas isso é porque eu acho que essas análises são escritas por pessoas mais velhas do que eu, que conheceram Woody Allen nessa altura e isso deixou um impacto tal a ponto de não se conseguirem desprender dessas impressões mais iniciais para apreciar a obra mais recente. Mas para mim as suas obras-primas são filmes recentes.

Para além dos dois que já mencionei, o Vicky Cristina Barcelona (2008) e Anything Else (2003) são fabulosas intercepções de desejos, repressões e ímpetos num lirismo realista e natural. Isto não significa que eu não reconheço a genialidade dos clássicos.



Que melhor introdução ao espírito citadino algum realizador conseguirá de maneira tão graciosa transmitir como na abertura de Manhattan (1979) e quem não gostaria que as coisas fossem como no Annie Hall (1977) com o Marshall McLhuan a dar uma lição àquele pedante chato? (ou será que meter o Mashall McLhuan ao barulho é que é pedante?) Apesar de tudo há filmes recentes que também não trouxeram nada de novo, como o Scoop ou o mais recente filme Whatever Works (2009). São aqueles filmes apenas ligeiramente engraçados. E enfim, muito mais há a dizer sobre a sua obra, é uma análise interessante de se fazer  de forma até académica. Concluo deixando as minhas favorite quotes do realizador/escritor/actor/saxofonista:



  • Eternal nothingness is fine if you happen to be dressed for it.

  • I don't want to achieve immortality through my work; I want to achieve immortality through not dying.

  • In Beverly Hills...they don't throw their garbage away. They make it into television shows.

  • I can't listen to that much Wagner. I start getting the urge to conquer Poland.

  • Tradition is the illusion of permanance.

  • I took a speed reading course and read 'War and Peace' in twenty minutes. It involves Russia.

  • If only God would give me some clear sign! Like making a large deposit in my name in a Swiss bank.

  • It seemed the world was divided into good and bad people. The good ones slept better... while the bad ones seemed to enjoy the waking hours much more.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Dr. StrangeGaga








 Lady Gaga no clip "Papparazi" numa clara referência ao clássico satírico de Kubrick, Dr. Strangelove. É por estas e por outras que a Lady Gaga é o meu guilty pleasure. lol Gosto desta faceta irónica e acho que ela a devia explorar mais.