segunda-feira, 25 de abril de 2011

Bolaño fever



A produção literária latino-americana tem tendência a tornar-se gradualmente mais aclamada. Esta chamada de atenção veio sobretudo com os novéis de Marquez e Vargas LLosa mas não só. Também o 2666 é considerado um livro emblemático no panorama da escrita deste lado do mundo ou, pelo menos, assim nos quer fazer parecer a sua algo súbita popularidade. Depois do realismo do fantástico de Borges ou Julio Cortázar onde se entendia que os elementos do fantástico ou do absurdo poderiam integrar a realidade do quotidiano para melhor destacar elementos dessa mesma realidade, Bolaño é agora chamado o fundador do punk surrealista ou infrarealismo (ainda que o infrarealismo tenha sido uma resposta Chilena e Mexicana à corrente de André Breton). Os elementos que distinguem este estilo passam uma meta narrativa: os livros de Bolaño narram as vidas de escritores, quase sempre poetas, que vivem à margem do social – chegando ao ponto de se aproximarem de criminosos. Manifestam algumas psicoses e uma libido irrefreável. Então em 2666 encontramos isso tudo mais um elemento que lhe é muito querido que é um fascínio tremendo pela violência e por homicídios. Realmente um livro tão grande onde cabem cinco será o suficiente para se ter contacto com todas estas características. A atenção dada à forma como elemento descritivo e neutro, quase jornalístico, e de resto tão típico da literatura americana, é polvilhada com pitadas de humor sarcástico. É um tipo de literatura que nos entra pouco pelos sentidos porque não tem uma forma convencionalmente bonita. Se Proust estava certo em relação ao facto de sabermos que temos um novo marco da literatura à frente dos olhos quando a sua escrita nos parece predominantemente feia, então com 2666 encontramos as pistas certas porque os primeiros capítulos deste volumoso livro nos impõem alguma repulsa, como se houvesse algo de imperceptível que nos irritasse...por ser imperceptível. E ainda assim atraente. É atraente mas não sabemos muito bem a que é que se propõe. E esta foi certamente a minha experiência de leitura. Contudo, a falta de descrição da dimensão pessoal das personagens é algo que me cria dificuldades. Não consigo compreender a essência: é suposto identificar-me ou a repugnância que estou a sentir foi intencional? De qualquer forma, a falta de personalização do universo psicológico das personagens não me é suficiente para a empatia. Há mensagem política ou não? Não vejo o universo inteiro dentro deste livro mas vejo o interesse em tentar apropriar numa realidade sinistra uma visão transcendente neste caso associado aos assassinatos em Santa Teresa ou à personagem fictícia do suposto escritor alemão Archimboldi. Não é daquele tipo de livros que se expliquem. Ou talvez seja porque há capítulos mais elucidativos do que outros. Seja como for, não sei porquê mas relembra-me alguns trabalhos de Easton Ellis ou de Bukowski, ou seja , não consegui criar uma febre em torno da obra ou do autor. Mas, novamente, não sou a maior apreciadora do estilo.

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