sábado, 2 de maio de 2009

你那边几点?



Quem viaja para lugares longínquos nunca se despede completamente da sua hora local. A hora do meu computador mantém o fuso horário português, a hora no computador dos meus amigos chineses em Portugal mantinha o fuso horário chinês. Há questões pragmáticas, certamente. A necessidade de comunicar com quem está do outro lado e que tem que ter em conta a distância espácio-temporal. Mas há mais do que isso. Há na manutenção do horário local uma necessidade de recriar parte dessa realidade, é um reflexo da incapacidade de abandonar totalmente o local. Sentimos que a recriação temporal materializa parte do nosso ambiente de origem.

Este filme fala sobre isso. Quando Chen parte para Paris, compra a Lee, um vendedor de relógios de rua, um relógio que pertence ao próprio e que possui a funcionalidade de exibir duas horas em simultâneo, podendo assim manter a hora local de Taipei ao mesmo tempo que muda o relógio para a hora francesa. No pano de fundo entre uma mistura de química induzida entre o vendedor e a cliente e ao mesmo tempo o falecimento do pai de Lee, este pretende, a determinada altura, recriar o ambiente que estará a ser vivido por Chen do outro lado do mundo, ambicionando para isso mudar todos os relógios da cidade de Taipei para o horário local francês.

Não sei se foi pela proximidade da realidade chinesa que agora consigo compreender com outra clareza, para além do factor linguístico de não ver o filme senão na língua original, mas senti um envolvimento muito grande no filme e sei que parte disso se deve à representação naturalista de grande qualidade dos actores, para além dos planos, que apesar de bastante contemplativos, não me pareceram desperdiçar o seu sentido original. Um filme de Tsai Ming-liang蔡明亮 de 2001.

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