quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Blue Jasmine


No mais recente filme de Woody Allen, produzido entre San Fracisco e New York, Allen recorre a uma temática típica da segmentação de classes, da forma como as pessoas vivem tentando perceber, em última instância, onde se encontra afinal a felicidade.
Muitos foram já os elogios à absolutamente fantástica performance de Cate Blanchett de comentadores que declararam esta obra senão uma das, a (inesperada) obra-prima de Allen.

Jasmine (Blanchett) é aqui um anjo caído da socialite e a vida gira em torno da comparação entre a 'gifted' elegante loira com um gosto requintado e Ginger (Sally Hawkins) que prefere um homem sexy ao homem rico e vive ao seu ritmo, sem particulares ambições, a trabalhar na caixa de um supermercado e sem perspetivas de grandes mudanças - nem em homens nem em carreira.

O filme enfatiza o fim pseudo-trágico ou no mínimo humilhante da protagonista. Caída numa tremenda depressão devido ao facto do seu ex-marido (Alec Baldwin) não só ser permanentemente infiel mas ter cometido grandes lavagens de dinheiro com as suas construções de resorts um pouco por todo o mundo.
Os conflitos de Jasmine com o parceiro da irmã adotada, Chili (Bobby Cannavale) demonstram um permanente conflito entre estereótipos, sem uma réstia de empatia de parte a parte. Ginger fica ali no meio dos dois, cada um a puxar para o seu lado e ambos a precisarem dela naquele momento.

A narrativa chega a uma altura que se desenrola em semi-círculo. Jasmine acredita que nasceu para ser diva e percorre esse sonho, Ginger sempre se conformou com o que fosse que a vida lhe trouxesse. Quando Jasmine encontra um novo candidato a marido rico com futuro na política local a precisar de uma mulher-troféu para as ocasiões sociais, há qualquer coisa nas mentiras de Jasmine que parece fazer sentido. Ginger decide aventurar-se em alguma coisa diferente, em vez de sexy, que tenha algum dinheiro (ator conhecido devido ao exito de humor Lucky Louie). Mas o homem em quem criara certas expectativas não estava propriamente na mesma linha de pensamento, enquanto Ginger procurava estabilidade, a ideia dele era a de pura diversão.

A certa altura começamos a acreditar que as duas vão acabar como lhes era pré-destinado, uma com os bons germes outra com o maus. A certa altura a narrativa em círculo faz um oito. Será que é realmente a atitude que conta? Quando Jasmine parece voltar a reviver o sonho de socialite frívola mas com todos os privilégios do dinheiro, somos levados a crer que algo se passa. Mas Allen foi sádico com esta personagem. Nos filmes de WA a classe média-alta é sempre abordada de uma maneira ou outra, por vezes com mensagens mais ténues do que noutras. Aqui, a personagem de Blanchett, depressiva, neurótica e incapaz de encarar um mundo em que ela não é superior aos outros torna-se quase uma vingança. Quantas mulheres conhece o realizador de cinema que "subiram" na vida à custa da frivolidade da sua atitude e da complacência com a corrupção do universo das grandes fortunas?  Há necessidade de humilhar esta personagens chega a um cume devastador até para quem está a ver. Os conflitos permanentes da Jamsmine com o Chili que a enfrenta sem piedade levam a pensar que mesmo esse homem, sem dinheiro ou a melhor educação, mesmo um homem que a ela só poderia causar repugnância, é no fundo, melhor do que qualquer coisa que ela pudesse vir a ter.

Sem comentários: