Ontem tive a feliz casualidade de ver este filme na cinemateca e é bom ter a sensação de se descobrir uma grande obra-prima. O filme consegue impregnar-se em nós e dar-nos a conhecer o surgimento de um movimento que inicialmente não assimilamos completamente a não ser, claro, pelas referências e localizações históricas e temporais. O que acontece é que não assimilamos automaticamente a que movimento é que se refere porque o filme transporta-nos para dentro de si de uma maneira que nos faz sentir uma empatia pelas personagens que chega a ser perturbadora. Claro que grande parte desse contributo se deve aos diálogos e às fabulosas interpretações mas também a momentos de génio nos quais o filme consegue ser subversivo no sentido mais inteligente da palavra. A história decorre em Julho de 1983 e tem como protagonista um miúdo de 12 anos que atravessa uma fase complicada da sua vida, tendo recentemente perdido o pai na Guerra das Malvinas. Este pequeno rapaz de personalidade bastante acentuada e numa posição emocionalmente frágil acaba por se integrar num grupo de jovens com estilos de vida alternativos reivindicadores de uma subcultura em formação: os skinheads. As interpretações são extraordinárias e a forma como esta subcultura é apresentada faz-nos perceber que a sua génese era uma génese ligada à estética, não muito diferente de um qualquer movimento punk. Camisas com suspensórios e botas Dr Martens. A sua evolução, contudo, metamorfoseou-se em todos os valores ultra-nacionalistas que lhe são conhecidos. Esta mistura característica dos skinheads em Inglaterra - uma mistura de bullys com hooligans com xenófobos – desenvolve-se numa segunda fase do movimento, quando este deixa de ser apolítico como era inicialmente. É uma reflexão interessante mas não se fica por aí. O filme desenvolve-se de uma forma leve e ligeira, quase simpática até que gradualmente, a partir de metade do filme, começa a revelar a sua componente mais negra quando começam a surgir os sinais da evolução do movimento até concluir num final trágico que nos dá a compreender toda a dimensão dos problemas do racismo: este fundamenta-se na dor e na inveja que aqueles que sofrem sentem. É precisamente toda esta dimensão psicológica que o filme transcende, cheio de complexidade e dimensão nas suas posições que o torna genial. Algo que questiona os limites de uma identidade nacional e que dá uma lição tão dura quanto carinhosa ao seu próprio país.
2 comentários:
Que exagero...
Grande obra-prima?
Nunca. Por acaso, fiquei surpreso de, quando estreou cá em PT, ter sido recebido ao colo. Só o acho giro. Interpretações? Retirando o miúdo e um ou dois rúfias que lhe estão mais perto, são mázinhas; my 2 cents.
Mas é bom [ao nível do giro], lembro-me de uma cena ou outra, quando o vi, em 2009. Uma sala cheia de tensão, e há lá uns estragos, assim uma coisa a apontar para o viril e com tom a despropósito. Quando não há jarra, oh menos as flores tem cheirinhos modernos...
Tens de elevar os padrões [escrito a pensar que sou engraçado].
Filmes recentes giros [ao nível do bom] dessa zona-Boxer ideológica [conflitos religiosos, sociais, políticos..., na bretanhã], vi o Fifty Dead Men Walking, Five Minutes to Heaven, Clubbed... mas repito: são só giros, como o This is England.
http://www.youtube.com/watch?v=n0pRCmoIwlE
lol, LN, ainda me lembro de quando escreveste sobre o facto do Hangover ser um grande filme... Vamos lá a ver quem é que tem que elevar padrões.
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