Tentando actualizar o blog com frequência por necessidades de prática da expressão escrita – tenho que optar por este tipo de exercícios de aquecimento - há semanas em que lá me ponho ocupada a fazer outras coisas e não vem muito aqui parar. É por isso que apesar de ter ido ver esta peça há uma semana atrás só agora me digno a escrever sobre o assunto. Este mês foi a segunda vez que o teatro circo (theatro circo?) apresentou algo relacionado com teatro espanhol, ainda mais teatro alegórico que recorre à técnica brechtiana de falar de uma outra época para retratar o presente quando o presente não pode ser retratado devido a algum regime totalitário. A primeira foi "La casa de Bernarda Alba" de Frederico Garcia Lorca e a da semana passada foi "Ay, Carmela", uma peça de José Sanchis Sinisterra. A diferença entre estas duas é que a segunda tem um registo muito mais humorístico.
"“Ay, Carmela!”, é um texto teatral que ganhou foros de referência obrigatória quando tratamos de abordar a criação dramatúrgica dos finais do Séc. XX.
Situando a acção num contexto de confronto de carácter político e ideológico, num momento particularmente difícil para a história da humanidade, “Ay, Carmela!”, propõe-nos uma reflexão sobre questões e temas absolutamente intemporais.
A condição da arte e dos seus protagonistas perante as circunstâncias envolventes do poder. A ética dos valores não discricionários, a cultura democrática das sociedades contemporâneas, os movimentos sociais têm em “Ay, Carmela!”, um desafio à memória como exercício de fecunda aprendizagem.
Perdidos numa noite de nevoeiro e fome, dois anónimos “artistas de variedades”, caem em território “inimigo”. Aí, em troca da “liberdade”, são obrigados a apresentar o seu espectáculo às tropas vencedoras e aos prisioneiros vencidos. Que fazer à representação para “sobreviver” em tão díspar plateia? Como resistir ou ceder sem abalar a dignidade?"
Esta peça encenada por Gil Salgueiro Nave e interpretada por Fernando Landeira e Sónia Botelho foi interessante sem perder a sua dose de entertaining, que é o que muitas vezes faz falta ao teatro. No entanto, pegando numa peça como esta, difícil era conseguir fazer com que os dois únicos actores em palco se mantivessem com energia até ao fim. Felizmente a energia foi gradativa e se ao início não consegui interiorizar completamente a personagem masculina, quando ele entra num monólogo com um suposto director de luzes para o seu espectáculo de variedades, o actor revelou toda a sua qualidade cénica, envolvente e empática. Embora não toque muito fundo em valores nacionais, já que eu não vivi a Guerra Civil espanhola nem tenho a esta especial afinco, é bom verem-se encenadas peças que entram em formas de percepcionar as ocorrências algo experimentais, que tentam introduzir elementos novos – a peça é feita com várias prolepses, analepses, recursos a visões oníricas, etc – mas que seguem modelos clássicos de narração, e modelos clássicos de interpretação.
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