sábado, 26 de setembro de 2009

"Eu não comento política..."




Manuela Ferreira Leite disse uma vez que foi a pressão que a fez candidatar-se a líder do partido e futura pretendente a primeira-ministra, ou seja, que não foi ela deliberadamente que teve vontade de o fazer. Ora bem, isso nota-se. Esta foi a pior campanha política do PSD desde que me recordo de assistir a campanhas políticas e, acreditando no meu conhecimento histórico, possivelmente desde sempre. Sejamos coerentes, a mulher não tem “jeito”, vá. Não sabe comunicar, acaba por não conseguir conjugar verbos devidamente ou deixar de gaguejar sempre que tem os meios de comunicação à sua frente. Ok, não ter capacidade de comunicação não tem que ser forçosamente o mais relevante embora seja um aspecto crucial de alguém que se designa por político e a senhora já tem idade para ao longo da sua carreira ter vindo a desenvolver estes aspectos da sua conduta que não eram tão favorecidos, uma vez que sempre foi alguém com pretensões para tal. A mulher nunca comenta. Todos os dias quando ouvimos as notícias ouvimos sempre dizer que Manuela “não comenta” alguma coisa que esteja na ordem do dia. Ferreira Leite não comenta programa eleitoral socialista. Manuela Ferreira Leite não comenta caso das escutas. Manuela Ferreira Leite não comenta alegada compra de votos do PSD. Manuela Ferreira Leite não comenta «assuntos particulares» da Presidência da República. Alguém consegue mesmo saber o que raio é que esta mulher pensa sobre coisa alguma? O que eu acho realmente impressionante é que durante os debates políticos televisivos uma coisa ficou explícita: a imprensa vota PSD. Recordo-me de assistir ao debate Ferreira Leite/Louçã. Louçã com toda a força argumentativa que a lógica lhe cede na defesa das políticas de esquerda, que são, naturalmente, compreensíveis por todos e mesmo a força persuasiva que tem quem idealiza sem nunca ter tido que cumprir nada, fez um K.O. argumentativo brutal à senhora que mais não conseguia do que chegar, inclusivamente, a concordar com parte da campanha política que Louçã estava a desenvolver...para o BE, não para o PSD. O que é realmente impressionante nisto tudo? Ver que apesar do debate se ter todo centralizado essencialmente em política económica, de uma maneira geral os jornais vão colocar um título na notícia como “Ferreira Leite defende a família” referindo-se àqueles 15 segundos em que Louçã dizia defender o casamento homossexual (uma questão de valor que, diga-se, acaba por ser secundária face aos verdadeiros problemas políticos do país, mas enfim). Mais do que isso, os jornalistas criam as posições e os argumentos da Ferreira Leite que ela não soube sequer transmitir, ocultando completamente todo o discurso altamente persuasivo do Louçã. Depois no dia a seguir no Opinião Pública ainda vemos pessoas que dizem que Louçã seria o próximo Kim Jung Il caso pudesse... bem, não o dizem assim porque provavelmente não sabem o nome do líder Norte Coreano, mas basicamente dizem que qualquer PM à esquerda do PS tornaria Portugal numa ditadura militar comunista. Interessante.
Bem, mas então como é que os jornalistas sabem quais são as posições da MFL mesmo quando ela não as conseguiu expressar por muito que tivesse tentado? Ah, talvez tenham lindo o mini-programa eleitoral, o programa de bolso que cabe numa página A4 e que tem como premissa “Ah... nós não vamos poder fazer muito, aguentem-se”. Aguentem-se enquanto somos fábricas para a Europa, aguentem-se que é assim que se criam países ricos... no resto da Europa..., aguentem-se porque é assim que nós somos, pequeninos e insignificantes e a resignação é o primeiro passo para a aceitação. Quando tenta vir com uma nova ideia brilhante de campanha consulta algum assessor que lhe diz para murmurar palavras como “asfixia democrática” ou “isto, sim, na Madeira, é que é uma democracia como deve ser” ou então dentro desta temática o facto de ela ter afastado da sua hipotética elaboração de governo nomes como Pedro Paços Coelho ainda que em termos de número do partido e qualificações fosse prioritário. Para além dos fabulosos slogans nos quais ela não vai hipotecar Portugal. Aos espanhóis? Já percebemos que não gosta de espanhóis e que como diria o Pacheco Pereira ela tem liberdade para o dizer em pleno debate televisivo de uma forma altamente xenófoba, da mesma maneira que o PNR tem direito a ter panfletos que dizem “A coisa está a ficar preta”. Ainda assim, nos slogans de panfleto de campanha acho que ela tem muito mais frases do que aquelas que são realmente passíveis de se ouvir. Enfim, uma campanha absurda que leva qualquer português saudável a não votar PSD a menos que esse português seja, talvez, um professor.
Qualquer outra questão? Não sei, não comento.

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