sexta-feira, 6 de julho de 2007

Os bibelôs!

Convém que um habitante nesta sociedade seja contido, pequenino, neutrozinho. A escala de acção e consequentemente de pensamento português vai do profundamente microscópico até ao pequeno, à semelhança do micróbio.

Por exemplo, uma característica facilmente verificável é a de que os portugueses não suportam a ausência. A ausência de pessoas que leva ao confronto com o vazio (que é o que conduz o estado de burgessismo português ao contacto com o comos universal). Somos um país de pequenos gozos, de pequenos actos que nos confiram gozos, um país tão pequenino como a sua flexibilidade de pensamento. Queremos usufruir de pequenos prazeres mas esses pequeninos prazeres são tão efémeros como a forma como as coisas se inscrevem nos portugueses, são tão pequeninos como a dimensão da sua criatividade e, acima de tudo, entorpecem o espaço de acção. Não há progresso porque não há nada que se demarque na mentalidade portuguesa de forma a provocar a metamorfose, a transformação do real. Ficamo-nos pelo nosso mundinho pequenino onde temos os amigos e os familiares que nos asseguram os nossos gozinhos pequeninos.

Nos interiores das casas, as pequenas coisas cobrem paredes, mesas, janelas, o mais pequeno espaço numa prateleira de um vão de escada, e os pensamentos saltitam estabelecendo relações extrínsecas ou insignificantes, ocupando constantemente a consciência, quando não a atafulha o entorpecimento. No inteior como no exterior reina o pânico do vazio.

Mas não julguem, no entanto, que se trata de alguma característica proveniente de uma faixa etária mais envelhecida. Também muitos quartos de estudantes universitários, possuem típico placar onde os jovens acumulam as suas fotozinhas e as suas memórias dos seus instantes de gozo pequenino, numa desafinada alucinogenia de presença e de débil preenchimento da sua vida.
É aqui que o português se sente mesmo bem, no mundo das maravilhas dos bibelôs, fotografias, cobrindo as paredes com quadros, cromos, o fetiche pelo pequenino aos montes!
E assim se prossegue nos afectos pequenininhos, neutralizantes e neutralizados, com fobia da ausência porque a ausência deixa a descoberto a realidade de vazio que existe num invólucro colectivo e existencial. É isto a ilusão da inscrição, investindo permanentemente no não-investimento. Isto é aquilo a que José Gil chama “o álibi português da inscrição”.
E isto é verificável no movimento saltitante com o qual o português vai de um assunto a outro sem possuir a capacidade de ouvir. Somos o país do uso recorrente do 'inho', do bom tempinho, do obrigadinho, do almoçozinho, do passeiozinho, da sonecazinha…. Vá lá, já podem acordar!...

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