Sinopse: Sinuosamente construído em quatro partes entrecruzadas, o décimo quinto romance de Paul Auster começa em Nova Iorque, na Primavera de 1967, quando o jovem aspirante a poeta Adam Walker conhece Rudolf e Margot, um enigmático casal francês. O perverso triângulo amoroso que rapidamente se forma, conduz a um chocante e inesperado acto de violência cujas consequências serão irreversíveis.
Três narradores contam uma história que se desloca no tempo, de 1967 a 2007, e no espaço, à medida que viaja entre Nova Iorque, Paris e uma ilha remota nas Caraíbas. Invisível está imbuído de fúria, de sexualidade desenfreada e de uma busca implacável por justiça. É uma viagem através das fronteiras sombrias entre verdade e memória, criação e identidade.
O novo livro do escritor norte-americano tem sido aclamado pela crítica (ou pelo marketing) como um dos melhores ou o melhor de sempre escrito pelo autor. Para quem se familiarizou, no entanto, com a sua escrita no registo policial, este livro pode soar mais emotivo e intimista. E será que o autor tem tanto talento para este registo? Pois, na minha perspectiva, não tanto. Primeiro porque não consegue distanciar-se de nenhuma personagem que cria, todas as personagens são ele próprio ou fracções de si próprio e quando não são ele próprio são uma idealização daquilo que ele próprio gostaria de ser. Confuso?! Talvez mas é essa a sensação mais transversal do livro. Como o autor envereda por caminhos intimistas onde é necessário compreender os meandros do pensamento de cada personagem acaba por retirar às personagens um carácter mais naturalista, pois todas pensam como Paul Auster e agem como Paul Auster e é um universo que pertence unicamente ao escritor. Era bom que toda a gente no mundo fosse assim tão intelectual... É curiosa a relação de Gwen com Adam a marcar um claro ponto de fashionable sex nos best-sellers de ultimamente: o sexo incestuoso. Mas quando Paul Auster cai para um temperamento mais romântico, cai para um temperamento bem mais sexual do que o previsto, suponho. Um bocado de sexo, um bocado de diletantismo intelectual e voila! As suas descrições das personagens e do espaço que lembram Fitzgerald ou Hemingway continuam a registar o que de melhores influências tem o autor, mas os espaços em aberto na história, as questões que residem no ar, quem é ou não culpado e quem sai impune numa reflexão dostoiévskiana são sem dúvida os melhores aspectos do livro. A narrativa ou as questões ligadas à meta-narrativa também dão um toque original, dá para construir uma manta de retalhos mental. A ideia em termos de 'arquitectura' da narração é engraçada embora, na realidade, o autor podia ter-se esforçado mais para conseguir o efeito desejado. Para quem não leu o livro é difícil de compreender mas basicamente há um segundo autor dentro do livro que é ele próprio uma personagem que acaba por juntar vários segmentos do livro do primeiro escritor e no final de uma terceira autora para construir a narrativa. De um capítulo para o outro o primeiro autor quis contar a sua história mudando a pessoa da narração. A primeira na primeira pessoa, a segunda na segunda, a terceira na terceira. Acontece que fazer isto ou ter deixado a narração sempre na primeira pessoa era exactamente a mesma coisa porque não há um esforço para que a mudança de pessoa também distancie a narração da personagem, é sempre um narrador omnisciente e quando temos uma descrição na terceira pessoa que faz perguntas retóricas de dilemas como se tivesse dentro do pensamento da personagem, torna-se um mero jogo de formalismo que não acrescenta muito ao livro. A parte final com os registos no diário de Cécile são para mim um dos momentos mais interessantes do livro acabando com uma reflexão brutal sobre o colonialismo. Enfim, um livro que entretém e vale a pena ler mas deixa saudade de estilos mais antigos como em A Triologia de Nova Iorque.
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