terça-feira, 11 de setembro de 2007

Dali no Palácio do Freixo


É caso para dizer: tardou mas aconteceu. Depois de três anos a tentar, a Câmara do Porto conseguiu trazer para a cidade 285 peças de Salvador Dalí, entre desenhos, esculturas e quadros originais, propriedade da Fondazione Metropolitana de Milão.

Como diria Franco Monatli, reflectem um período de maturidade artística do artista situado entre os anos 1950 e 1970.

Aqui temos a oportunidade de ver algumas das obras mais significativas de Salvador Dali da Colecção Clot (obras originais certificadas).
Para além de algumas esculturas de uma fase inicial, a exposição percorre o trabalho de ilustrador do mestre do surrealismo, com destaque para a "Bíblia Sagrada", composta por 150 litografias, "Fausto" (12 litografias), "Gargantua e Pantagruel" (25 litografias) e "Tricórnio" (20 xilografias).


Mulher Nua Subindo a Escada, Cavalo com Jóquei Tropeçando, Homem sobre Golfinho, Perseo e Trajano a Cavalo, são algumas das esculturas monumentais que vão poder ser admiradas durante a mostra.
Dom Quixote Sentado, Elefante Cósmico, Gala Gradiva, Mercúrio, Divindade Mostruosa são títulos de outras esculturas que também estarão patentes na exposição.

Uma coisa particularmente engraçada são as xilografias de Dali (andar de baixo, primeira sala depois das escadas). Ele inspirou-se nas iluminuras medievais que normalmente vinham nos livros bíblicos, cheios de demónios e representações diabólicas, e deu-lhes um tom completamente depravado e obsceno reflectindo todas os seus delírios sexuais que, para mais, já são características dos surrealistas em geral (vá lá, não é preconceito... dissessem ao Breton para não ser como era e eu não os generalizava assim!). E apreciar as professoras de educação visual totalmente puritanas a olharem aquelas ilustrações procurando fazer o ar mais sério e intelectual que conseguirem é fabuloso. Claro que se não lhes dissessem que aquilo era de Dali era provável que ficassem chocadas... e na realidade Dali pretendeu o choque, não há porque reprimi-lo só porque se trata dele. Ele ficaria certamente desiludido ao ver como o seu trabalho se tornou tão decoroso e unanimemente admissível e tão pouco reactivo.

Nesta fase é ainda possível discernir uma influência em modo crescente de Gala.



Gala será para Dali o que foi Fornarina para Rafael ou a duquesa de Alba para Goya. A musa pressupõe essa exclusividade.O seu nome era Elena Dimitrievna Diakonova (1894-1982) e ela foi a musa por excelência do pintor surrealista. É esta a altura em que ele diz qualquer coisa do género “Gala trouxe-me, no verdadeiro sentido da palavra, a ordem que faltava à minha vida.Eu existia apenas num saco cheio de buracos, mole e delicado, sempre à procura de uma muleta. Ao juntar-me a Gala encontrei uma coluna vertebral e, ao fazer amor com ela, preenchi a minha pele. Ao assinar os meus quadros Gala-Dali não fiz mais do que dar um nome a uma verdade existencial, visto que sem o meu gémeo Gala não existiria de modo algum.”
Felizmente, acho que o compreendo. :)

A exposição pode ser vista de segunda a quinta-feira, das 10h00 às 22h00, e de sexta a domingo, das 10h00 às 00h00 até 4 de Novembro no Palácio do Freixo, que só por si é interessante visitar, já que foi totalmente reconstituido depois do incêndio. O Palácio do Freixo é uma construção do conhecido arquitecto barroco Nicolau Nasoni (o mesmo da torre dos Clérigos).
Os bilhetes custam 4 euros para o público em geral e 2 euros para clientes da Caixa Geral de Depósitos, pessoas com mais de 65 anos e estudantes. As crianças até aos 12 anos têm entrada gratuita.

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