Estava eu a corresponder-me com o Lauro António sobre esta terrível doença chamada orientalismo e lembrei-me que isso poderia ser um bom tema para um artigo também. Tive este ano a oportunidade de fazer um trabalho na universidade sobre este ensaio que eu já tinha como referência de lucidez intelectual, de esclarecimento e de reflexão e que eu já tinha utilizado em praticamente todos os trabalhos que tive que fazer para a universidade.
Estas preocupações que alimento provêm de traumas pessoais nos quais eu assisti a professores catedráticos de filosofia da minha universidade a desenvolverem discursos pseudo-progressistas baseados no racismo e no etnocentrismo cultural, discrusos nos quais culpavam o Confucionismo pela Revolução Cultural e pelo sistema totalitário na China (minha santa ignorância! Viva ao estado medíocre do intelectualismo e do academismo português!). Mas também provêm dos inúmeros textos onde proliferam referências asiáticas para ornamentar com exotismo os nossos textos ou pensamentos de ocidentais cultos.
Estas preocupações que alimento provêm de traumas pessoais nos quais eu assisti a professores catedráticos de filosofia da minha universidade a desenvolverem discursos pseudo-progressistas baseados no racismo e no etnocentrismo cultural, discrusos nos quais culpavam o Confucionismo pela Revolução Cultural e pelo sistema totalitário na China (minha santa ignorância! Viva ao estado medíocre do intelectualismo e do academismo português!). Mas também provêm dos inúmeros textos onde proliferam referências asiáticas para ornamentar com exotismo os nossos textos ou pensamentos de ocidentais cultos.
Então se nem o meio intelectual é de facto informado e tem uma visão lúcida das coisas, é normal que acabem por se propagar ideias pré-formadas mal estabelecidas em relação ao espaço que declaramos como ‘oriental’ e que isso se venha a traduzir em mera xenofobia e preconceito.
Não tenho aqui o trabalho que fiz para a disciplina… também não é que esteja uma obra de arte – podia ter-me esforçado mais, confesso (avaliações de Chinês a mais!). Mas fica a sugestão do livro Orientalismo de Edward Said. É claro que é necessário ter em conta o tom panfletário do autor, mas sejamos sensatos – ele tem as evidências do seu lado.
Não tenho aqui o trabalho que fiz para a disciplina… também não é que esteja uma obra de arte – podia ter-me esforçado mais, confesso (avaliações de Chinês a mais!). Mas fica a sugestão do livro Orientalismo de Edward Said. É claro que é necessário ter em conta o tom panfletário do autor, mas sejamos sensatos – ele tem as evidências do seu lado.
Como representamos outra cultura? O que é outra cultura? Será que a noção de uma cultura distinta (ou raça, ou religião, ou civilização) é útil, ou será que sempre se envolve em auto-satisfação (quando analisamos a nossa) ou em hostilidade e agressão (quando analisamos a ‘outra’)? As diferenças culturais, religiosas e raciais importam mais que as categorias sócio-económicas ou que as categorias político-históricas? Como é que as ideias chegam a adquirir autoridade, ‘normalidade’ e até mesmo o estatuto de verdades ‘naturais’? Qual é o papel do intelectual? Existe para dar validade à cultura e ao estado a que pertence? Que importância deve o intelectual atribuir a uma consciência crítica independente, a uma consciência crítica de oposição? Estas são algumas das questões que esta obra de referência universal procura elucidar.
Fonte das civilizações e línguas europeias, o Oriente é também seu adversário cultural e uma das imagens mais profundas e recorrentes do Outro, no que ajudou a definir a Europa (ou o Ocidente) como contraposição à sua imagem. Porém, o Oriente não é um facto inerte da natureza: não está ali, do mesmo modo que o Ocidente também não está ali. Enquanto entidades geográficas e culturais – para já não dizer históricas – Oriente e Ocidente são criações do homem. O Oriente não é o ‘Oriente’ – é ‘o Oriente tal como foi orientalizado’. Na análise de Said, esse processo tem na sua essência a distinção inalienável entre a superioridade ocidental e a inferioridade oriental, distinção essa que se foi aprofundando e endurecendo ao longo da história, como este livro pretende demonstrar. O orientalismo pode, portanto, ser analisado como uma instituição corporativa que se relaciona com o Oriente emitindo juízos sobre ele, autorizando visões dele, descrevendo-o, ensinando-o, colonizando-o, governando-o. Em suma: será um estilo ocidental para dominar, reestruturar e exercer autoridade sobre o Oriente.
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*Ver Cartoon*
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Mas podemos nós dividir a realidade humana, como efectivamente ela parece estar dividida, em culturas, histórias, tradições, sociedades e raças claramente diferentes entre si, e continuar a viver assumindo as consequências dessa divisão? Existe um modo de evitar a hostilidade manifestada pela divisão dos homens entre ‘nós’ (ocidentais) e ‘eles’ (orientais)?
Um dos principais dogmas do orientalismo é a absoluta e sistemática diferença entre o Ocidente – racional, desenvolvido, humanitário e superior – e o Oriente – aberrante, subdesenvolvido e inferior. Outro dogma é o de que as abstracções sobre o Oriente, especialmente as que se baseiam em textos que representam uma civilização oriental ‘clássica’, são sempre preferíveis aos casos directos extraídos das realidades orientais modernas. Um terceiro dogma é o de que o Oriente é eterno, uniforme e incapaz de se definir a si próprio; considera-se, consequentemente, que um vocabulário altamente generalizado e sistemático para descrever o Oriente de um ponto de vista ocidental é inevitável e, inclusive, cientificamente ‘objectivo’. Um quarto dogma é o de que, no fundo, o Oriente é algo a ser temido, ou algo a ser controlado através da pacificação, investigação e desenvolvimento, ou ocupação pura e simples sempre que tal seja possível. Estes estereótipos foram necessariamente reforçados no mundo electrónico pós-moderno de hoje; a televisão e todos os recursos mediáticos obrigam a uma informação cada vez mais estandardizada, que inunda a imprensa e a mente popular. O que acaba por vir sempre ao de cima é a presunção de que o consumidor ocidental, embora pertença a uma minoria numérica, tem o direito de possuir ou de gastar (ou de ambos) a maioria dos recursos mundiais; na verdade acredita ser prerrogativa humana sua não apenas administrar o mundo não-branco, mas também possuí-lo, apenas porque, por definição, esse mundo não-branco não é tão humano quanto ‘nós’ somos.
Que energias intelectuais, estéticas, eruditas e culturais participaram na elaboração de uma tradição imperialista como a orientalista? Como puderam a filologia, a história, a biologia, a teoria económica e política, a literatura servir a visão que o mundo imperialista teve do orientalismo? Que mudanças, refinamentos e mesmo revoluções ocorrem no seio do orientalismo? Qual é o significado da originalidade, da continuidade, da individualidade, neste contexto? Como se transmite e reproduz o orientalismo de uma época para outra?
+ página das edições Cotovia - o livro...
2 comentários:
Uma professora de filosofia já por si só é algo que se deve sempre olhar com suspeita, mas quando ainda por cima é loira e usa um penteado saido de um dos primeiro episodios do Sexo e a Cidade, entao o caso torna-se muito grave. E aí a problemática do orientalismo torna-se subitamente catastrófica...
Até se vai compreendendo que exista o tal preconceito sobre o oriente. trata-se de uma das leis elementares da física - o 'pro-orientalismo' também é uma chusma de preconceitos e frases feitas, (3ª? 2ª?)
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