segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
What the fu ke?
herdar o vazio
No nordeste dos Himalaias, numa casa isolada no sopé do monte Kanchenjunga, vive Jemubhai, um velho juiz amargurado e de mal com o mundo e com todos, que tudo o que quer é reformar-se e ficar na companhia da única criatura a quem é capaz de dar algum afecto, a sua cadela Mutt. No entanto, a chegada inesperada da neta órfã, Sai, abalará o seu sossego, obrigando-o a remexer as suas memórias e a repensar a sensação de estranheza na própria pátria.
Tudo isto se acentuará com o romance entre Sai e Gyan, um nepalês que se envolve numa revolta que alterará inquestionavelmente a vida de Jemubhai.
A serenidade da vida do juiz contrasta com a existência do filho do seu cozinheiro, Biju, que saltita sucessivamente de restaurante em restaurante, em Nova Iorque, à procura de emprego, numa fuga constante aos Serviços de Imigração. Julgando que o filho leva uma vida boa e que acabará por vir resgatá-lo, o cozinheiro vai arrastando os seus dias.
Numa escrita inesgotavelmente rica e complexa, com rasgos de exotismo, a autora retrata temas tão actuais como a globalização, o colonialismo, o racismo, o abismo entre pobres e ricos e a imigração.
Desai, nesta obra que ganha o Man Booker Prize deixa-nos uma escrita de manifesto, típica de alguma pretensão profética e apocalíptica que se atribui correntemente aos autores que surgem numa escrita de envolvimento pós-colonialista e globalizante.
Fala-nos da pobreza da Índia contemporânea e do Império Britânico: a fleuma, os hábitos, a herança duma população colonizada pela aristocracia e funcionalismo britânicos, que, tendo adaptado a luminosidade e o requinte dos modos europeus à mesa e na educação, resvala num barril de pólvora que explode no ódio de Gyan por Sai (depois da paixão cega porque anterior à revelação da extrema injustiça social) e tudo o que esta representa: a indiana colonizadora do Nepal, digna de desprezo, por ser, ela própria, fruto duma sociedade indiana colonizada e pervertida à superioridade britânica.
Através de relatos bastante próximos de um conceito realista (tanto na tentativa de reprodução mimética como de focalização temática - das quais a história do juiz é provavelmente a mais envolvente) é tecida uma manta de retalhos que explica a história da colonização como um jogo de causa e consequência na qual a arte não encontra curas imediatas para soluções essencialmente políticas mas na qual declara e reflecte a condição histórica e temporal e geopolítica espelhada nas vidas singulares das suas personagens.
Referência:
DESAI, Kiran, A Herança do Vazio. Porto: Porto Editora, 1.ª edição, Fevereiro de 2007, 414 pp. (tradução de Vera Falcão Martins; obra original: The Inheritance of Loss, 2006).
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
我们来自地下
Ouvir
Deixo a letra porque é absolutamente deliciosa e, enfim, também não vejo as outras pessoas a traduzirem as letras que colocam em inglês, então...desfrutem...
机器 在这《新世纪》来临之前,我们知道一切终将改变。没有人能阻拦我们,没有人可以烧毁这《宣言》。这一天我们知道即将出现,在这充满《阴影》的生命里面。一切都将伴随它诞生,所有的过去都将《推动我》向前。《我们来自地下》,我们的力量就是这么的新鲜,我们来自地下,我们的愤怒足以毁掉这一切,我们来自地下,我们的声音就是这么的真实,我们来自地下,我们的态度将决不改变!快忘掉你那自私的《本能》,这样的《TV秀》我们已经厌倦。我们需要大家《全体出动》,一起跨越这《界线》的边缘。谁再敢说我们没有希望,谁在整天幻想着明天,现在我们就站在你的面前,《扭曲机器》带你操翻这世界!!
domingo, 9 de dezembro de 2007
Lust, Caution
Porque é que Tony Leung é um perigo de luxúria? Porque ele é simplesmente um actor brilhante e um dos homens mais sensuais do mundo (pronto, eu tinha de escrever isto mais cedo ou mais tarde). Escrevo sobre o mais recente filme de Ang Lee que ainda não chegou a Portugal mas que não consegui esperar para ver. Trata-se de um thriller de espionagem que se passa em Shangai durante a Segunda Guerra Mundial e que retrata as vivências de um grupo de actores de intervenção que decidem deixar o palco de tábuas para representar num palco mais autêntico com repercurões reais no destino do país. É nessa situação que Wong Chia Chi (Wei Tang, uma actriz a estrear-se em grande) tem o papel de seduzir o todo poderoso Mr. Yee (Tonny Leung ou, para ser mais correcta, 梁朝偉; pinyin: Liáng Cháowěi). Como o nome indica, é um filme com bastante sensualidade (que aliás esteve envolvido em polémicas sobre o facto de se suspeitar que os actores tiveram sexo real) e eu recomendo vivamente o download das cenas "censuradas", nas quais as cenas de sexo são mais explícitas, isto porque elas são um aspecto central absolutamente fundamental na compreensão e na absorção da profundidade do filme. Acho que houve até uma polémica excessiva ao ponto de ter amigos chineses que pensam que este filme é meramente pornográfico. Escusado será dizer que isso é completamente descabido. Leung tem um papel mais extremo do que aqueles em que estamos habituados a ver - o romântico deambulante do cinema de Wong Kar Wai e é precisamente por isso que demonstra uma tremenda capacidade de metamorfose.
Enfim, é um filme que vale a pena desde os elegantes exercícios de estilo de uma Hong Kong colonizada, às tentativas de demonstração da superioridade intelectual da China ao estudarem a língua dos inimigos, nomeadamente o japonês, tudo isso incorporado num estilo de vida progressivamente urbano e complexo. Recomendo!
domingo, 2 de dezembro de 2007
E se não fosse eu, não sei o que seria do estado da música portuguesa que tenta introduzir conceitos japoneses nas suas letras....
Ary
Enviado:
sábado, 1 de dezembro de 2007 20:54:35
Para:
Sara F. Costa
Assunto:
Re: Números em Japonês
oi sara
obrigado pela correcção e pelo apoio
sempre juntos
On 12 Nov 2007, at 00:32, Sara F. Costa wrote:
Viva!
Gostaria de informar que o número 6 em japonês se diz roKU e não roKO, como cantam na música.
Obrigada pela atenção e continuem com o bom trabalho cheio de criatividade!
Sara F. Costa
sábado, 22 de setembro de 2007
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Dali no Palácio do Freixo
É caso para dizer: tardou mas aconteceu. Depois de três anos a tentar, a Câmara do Porto conseguiu trazer para a cidade 285 peças de Salvador Dalí, entre desenhos, esculturas e quadros originais, propriedade da Fondazione Metropolitana de Milão.
Como diria Franco Monatli, reflectem um período de maturidade artística do artista situado entre os anos 1950 e 1970.
Aqui temos a oportunidade de ver algumas das obras mais significativas de Salvador Dali da Colecção Clot (obras originais certificadas).
Para além de algumas esculturas de uma fase inicial, a exposição percorre o trabalho de ilustrador do mestre do surrealismo, com destaque para a "Bíblia Sagrada", composta por 150 litografias, "Fausto" (12 litografias), "Gargantua e Pantagruel" (25 litografias) e "Tricórnio" (20 xilografias).
Mulher Nua Subindo a Escada, Cavalo com Jóquei Tropeçando, Homem sobre Golfinho, Perseo e Trajano a Cavalo, são algumas das esculturas monumentais que vão poder ser admiradas durante a mostra.
Dom Quixote Sentado, Elefante Cósmico, Gala Gradiva, Mercúrio, Divindade Mostruosa são títulos de outras esculturas que também estarão patentes na exposição.
Uma coisa particularmente engraçada são as xilografias de Dali (andar de baixo, primeira sala depois das escadas). Ele inspirou-se nas iluminuras medievais que normalmente vinham nos livros bíblicos, cheios de demónios e representações diabólicas, e deu-lhes um tom completamente depravado e obsceno reflectindo todas os seus delírios sexuais que, para mais, já são características dos surrealistas em geral (vá lá, não é preconceito... dissessem ao Breton para não ser como era e eu não os generalizava assim!). E apreciar as professoras de educação visual totalmente puritanas a olharem aquelas ilustrações procurando fazer o ar mais sério e intelectual que conseguirem é fabuloso. Claro que se não lhes dissessem que aquilo era de Dali era provável que ficassem chocadas... e na realidade Dali pretendeu o choque, não há porque reprimi-lo só porque se trata dele. Ele ficaria certamente desiludido ao ver como o seu trabalho se tornou tão decoroso e unanimemente admissível e tão pouco reactivo.
Nesta fase é ainda possível discernir uma influência em modo crescente de Gala.
Gala será para Dali o que foi Fornarina para Rafael ou a duquesa de Alba para Goya. A musa pressupõe essa exclusividade.O seu nome era Elena Dimitrievna Diakonova (1894-1982) e ela foi a musa por excelência do pintor surrealista. É esta a altura em que ele diz qualquer coisa do género “Gala trouxe-me, no verdadeiro sentido da palavra, a ordem que faltava à minha vida.Eu existia apenas num saco cheio de buracos, mole e delicado, sempre à procura de uma muleta. Ao juntar-me a Gala encontrei uma coluna vertebral e, ao fazer amor com ela, preenchi a minha pele. Ao assinar os meus quadros Gala-Dali não fiz mais do que dar um nome a uma verdade existencial, visto que sem o meu gémeo Gala não existiria de modo algum.”
Felizmente, acho que o compreendo. :)
A exposição pode ser vista de segunda a quinta-feira, das 10h00 às 22h00, e de sexta a domingo, das 10h00 às 00h00 até 4 de Novembro no Palácio do Freixo, que só por si é interessante visitar, já que foi totalmente reconstituido depois do incêndio. O Palácio do Freixo é uma construção do conhecido arquitecto barroco Nicolau Nasoni (o mesmo da torre dos Clérigos).
Os bilhetes custam 4 euros para o público em geral e 2 euros para clientes da Caixa Geral de Depósitos, pessoas com mais de 65 anos e estudantes. As crianças até aos 12 anos têm entrada gratuita.
domingo, 9 de setembro de 2007
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Hummmm..........
Your elitist claim to fame is that you prefer local or obscure bands that have yet to be discovered. You love to be the first person to introduce a new band to your friends. You frequent all the mom and pop record stores, read all the indie music publications, scour the internet and keep on top of all the latest. You generally dont respect what mainstream music has to offer, and thats why you like independent artists to work with smaller record labels so they have more creative control. You generally like bands with small fan bases, but you wouldnt abandon your favorite if they happen to make it big. You look to music to express your desire for social change. You like artists that write music about politics, relationships and our culture. Some important artists for you might be: Afghan Whigs, Radiohead, Wilco, Pavement and Liz Phair.
Take this quiz!
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Rilke nunca te diria isto
Para a Annabel Lee
Teria sido feliz ao acreditar na
natureza genética dos relógios.
Talvez assim Janeiro não fosse o mês
com mãos mais curtas, simples detalhe vítreo
da madrugada insondável do teu corpo.
Poderia ter invocado a brancura das paredes.
Nada teria sido mais fácil que recolher a sua
espécie mais invisível de fruto.
Poderia, contigo, ter dividido o tempo
entre aquele que me vivo e aquele que me fazem viver.
Ritmicamente encaixado no teu corpo,
não desejaria ter estas asas que só me fazem escavar.
Mas escolhi ser anjo. E fragmentar-me em quatro pedaços.
Tantos quantas as letras do teu nome:
cicatrizes que crescem a partir deste lado.
Transeunte De Luto
Mas, sim, Portugal ficou profundamente mais pobre. Espero que não saia dos programas de Literatura Comparada.
R.I.P. Eduardo Prado Coelho
Continuando...
ou como o Ricardo e o seu artigo sobre o genial filme dos Simpsons. Assim, aproveito para mostrar como seria eu nos Simpsons (feito pelo Matthieu... As calças roxas justificam-se pela ausência de saias no dress maker :P)
Para além disso, recomendo a visita ao O Melhor Amigo, o blog para o qual fui gentilmente convidada pelo Diogo.
E quem quiser ler um poema do meu novo trabalho, pode espreitar aqui.
A FNAC está a organizar a semana oriental que, pelo que sei, já dura há duas semanas. ^^ E é um bom momento para se comprarem autores como Basho ou Tanizaki, para além de filmes do Wong Kar Wai como '2046' e 'Disponível Para Amar', que são simplesmente fabulosos.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Passatempo
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Através da Vidraça - Natsumé Soseki 夏目 漱石
O livro é uma compilação de uma série de descrições de episódios da vida de Soseki e das suas memórias naquilo que se podem considerar 39 ensaios. Quando remota à sua infância faz o retrato de um Japão em movimento e em reconstrução (em pleno período Meiji).
domingo, 29 de julho de 2007
SÉRIES
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Pedantismos Ocidentais
Estas preocupações que alimento provêm de traumas pessoais nos quais eu assisti a professores catedráticos de filosofia da minha universidade a desenvolverem discursos pseudo-progressistas baseados no racismo e no etnocentrismo cultural, discrusos nos quais culpavam o Confucionismo pela Revolução Cultural e pelo sistema totalitário na China (minha santa ignorância! Viva ao estado medíocre do intelectualismo e do academismo português!). Mas também provêm dos inúmeros textos onde proliferam referências asiáticas para ornamentar com exotismo os nossos textos ou pensamentos de ocidentais cultos.
Não tenho aqui o trabalho que fiz para a disciplina… também não é que esteja uma obra de arte – podia ter-me esforçado mais, confesso (avaliações de Chinês a mais!). Mas fica a sugestão do livro Orientalismo de Edward Said. É claro que é necessário ter em conta o tom panfletário do autor, mas sejamos sensatos – ele tem as evidências do seu lado.
Como representamos outra cultura? O que é outra cultura? Será que a noção de uma cultura distinta (ou raça, ou religião, ou civilização) é útil, ou será que sempre se envolve em auto-satisfação (quando analisamos a nossa) ou em hostilidade e agressão (quando analisamos a ‘outra’)? As diferenças culturais, religiosas e raciais importam mais que as categorias sócio-económicas ou que as categorias político-históricas? Como é que as ideias chegam a adquirir autoridade, ‘normalidade’ e até mesmo o estatuto de verdades ‘naturais’? Qual é o papel do intelectual? Existe para dar validade à cultura e ao estado a que pertence? Que importância deve o intelectual atribuir a uma consciência crítica independente, a uma consciência crítica de oposição? Estas são algumas das questões que esta obra de referência universal procura elucidar.
Fonte das civilizações e línguas europeias, o Oriente é também seu adversário cultural e uma das imagens mais profundas e recorrentes do Outro, no que ajudou a definir a Europa (ou o Ocidente) como contraposição à sua imagem. Porém, o Oriente não é um facto inerte da natureza: não está ali, do mesmo modo que o Ocidente também não está ali. Enquanto entidades geográficas e culturais – para já não dizer históricas – Oriente e Ocidente são criações do homem. O Oriente não é o ‘Oriente’ – é ‘o Oriente tal como foi orientalizado’. Na análise de Said, esse processo tem na sua essência a distinção inalienável entre a superioridade ocidental e a inferioridade oriental, distinção essa que se foi aprofundando e endurecendo ao longo da história, como este livro pretende demonstrar. O orientalismo pode, portanto, ser analisado como uma instituição corporativa que se relaciona com o Oriente emitindo juízos sobre ele, autorizando visões dele, descrevendo-o, ensinando-o, colonizando-o, governando-o. Em suma: será um estilo ocidental para dominar, reestruturar e exercer autoridade sobre o Oriente.
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Mas podemos nós dividir a realidade humana, como efectivamente ela parece estar dividida, em culturas, histórias, tradições, sociedades e raças claramente diferentes entre si, e continuar a viver assumindo as consequências dessa divisão? Existe um modo de evitar a hostilidade manifestada pela divisão dos homens entre ‘nós’ (ocidentais) e ‘eles’ (orientais)?
Um dos principais dogmas do orientalismo é a absoluta e sistemática diferença entre o Ocidente – racional, desenvolvido, humanitário e superior – e o Oriente – aberrante, subdesenvolvido e inferior. Outro dogma é o de que as abstracções sobre o Oriente, especialmente as que se baseiam em textos que representam uma civilização oriental ‘clássica’, são sempre preferíveis aos casos directos extraídos das realidades orientais modernas. Um terceiro dogma é o de que o Oriente é eterno, uniforme e incapaz de se definir a si próprio; considera-se, consequentemente, que um vocabulário altamente generalizado e sistemático para descrever o Oriente de um ponto de vista ocidental é inevitável e, inclusive, cientificamente ‘objectivo’. Um quarto dogma é o de que, no fundo, o Oriente é algo a ser temido, ou algo a ser controlado através da pacificação, investigação e desenvolvimento, ou ocupação pura e simples sempre que tal seja possível. Estes estereótipos foram necessariamente reforçados no mundo electrónico pós-moderno de hoje; a televisão e todos os recursos mediáticos obrigam a uma informação cada vez mais estandardizada, que inunda a imprensa e a mente popular. O que acaba por vir sempre ao de cima é a presunção de que o consumidor ocidental, embora pertença a uma minoria numérica, tem o direito de possuir ou de gastar (ou de ambos) a maioria dos recursos mundiais; na verdade acredita ser prerrogativa humana sua não apenas administrar o mundo não-branco, mas também possuí-lo, apenas porque, por definição, esse mundo não-branco não é tão humano quanto ‘nós’ somos.
Que energias intelectuais, estéticas, eruditas e culturais participaram na elaboração de uma tradição imperialista como a orientalista? Como puderam a filologia, a história, a biologia, a teoria económica e política, a literatura servir a visão que o mundo imperialista teve do orientalismo? Que mudanças, refinamentos e mesmo revoluções ocorrem no seio do orientalismo? Qual é o significado da originalidade, da continuidade, da individualidade, neste contexto? Como se transmite e reproduz o orientalismo de uma época para outra?
+ página das edições Cotovia - o livro...
terça-feira, 24 de julho de 2007
Por outro lado o Ricardo fez um artigo excelente sobre Death Proof, retomando a sua actividade blogista, o que vale a pena conferir. Isto para além do artigo sobre o Silêncio de Shusaku Endo 遠藤 周作, no imperdível Bungaku.
E pronto, é assim, enquanto não escrever nada que se enquadre especifamente no Transeunte vou deixando outras sugestões de leitura!
Outro assunto, para as pessoas que se têm questionado: o twitter é um quadro de actualização curta onde se pode receber os updates em vários formatos, com por exemplo no telemóvel, de uma forma gratuita. E dá para pôr assim noutros suportes, tipo no blog. Acho que é engraçado. Adiram.Em relação aos comentários, não vejo necessidade de comentários particulares por isso coloquei ali aquela caixinha ao lado, já podem disparatar à vontade.
Já agora aconselho a dar uma espreitadela no http://dinheirooportunidade.com/
domingo, 22 de julho de 2007
Viagem Medieval
Claro que desde que eu deixei de trabalhar com os ArtEmCena na Viagem Medieval muitas pessoas perderam o interesse... mas pronto, ainda assim, asseguro-vos um evento de grande qualidade em Terra de Santa Maria a pioneira e verdadeira viagem medieval do país!
terça-feira, 10 de julho de 2007
Representar!
Para que é que as buscas de aprofundamento psicológico empreendidas com o fito de solucionar a problemática das origens da técnica e do desempenho interior de Stanislavski se estudam na merda dos institutos superiores de teatro deste país? Porque é que servem efeitos exteriores de representação quando não há a encarnação de estímulos que venham de dentro? A liberdade corporal e orgânica na sua função essencial no suscitado da emoção interna na actuação interpretante: um mito? Não, não é mito nenhum! A liberdade dos músculos é essencial mas não, nem tudo passa pela simples respiração ou postura corpórea, como me fazia acreditar o meu primeiro formador de teatro dos fabulosos (not) Seiva Trupe. Tem que haver – e vamos lá a estabelecer prioridades – apropriação física mas, acima de tudo, apropriação espiritual. Todos os sentidos, o pensamento, a vontade, o sentimento, a memória e a imaginação, além do corpo, devem estar dirigidos para o único fim: o de criar o que se passa no âmago da personagem.
Ribot (1839-1916), na sua Psychologie des Sentiments (1896) mostrava que o objectivo final de qualquer lembrança é guardar a impressão de uma experiência de uma forma tal que a recordação se apresente tanto quanto possível com a força da impressão original. Foi este tipo de preceito que tentou transpor nesta época de Alexêiev e Stanislavski o Teatro de Arte em Moscovo. A memória afectiva era um campo de experimentação que tinha o efeito de remover a estereotipia da representação, fazendo com que tanto a psique como o corpo recordem as experiências pelas quais passaram, ou seja, o actor é levado à complexidade da experiência genuína através daquilo a que o meu encenador, João Negreiros, chamava o processo de transferência.
Há ainda uma série de outras características do método Stanislavskiano que serviriam para uma tese e não para um texto de blog, mas enfim. No fundo a exploração do subtexto vai directo às profundezas da psique e isso reflecte-se em termos físicos, abrindo-se assim a possibilidade de revelar os recessos da alma humana, mediante uma longa análise do texto e uma exaustiva reflexão sobre os papéis.
Constrói-se uma personagem que acompanha o actor desde que este acorda até ao momento em que se deita, conferindo-lhe uma existência biográfica própria, um antes e um depois em relação à delimitação do dramaturgo, sofre-se com ela, pensa-se como ela, adopta-se a sua forma de sentar e de lavar os dentes, e isto, isto não é mesmo nada fácil!... É tão difícil como encontrar um actor neste país que o faça.
Eu sei a forma como a construção da minha personagem de 3 meses (Stanislavski defendia que eram precisos 9 meses para a construção de personagem) interferiu com a minha personalidade, a minha relação com os outros, o frenesim diário das várias flexões emocionais, a energia física e psicológica despendida, não é fácil lidar com o emaranhamento profundo da nossa psique e isto afectou a minha relação comigo mesma e com os outros. E tudo para quê? Para quê toda esta aprendizagem? Para vir a representar durante vinte sessões num autêntico chiqueiro com cheiro a mofo chamado amigavelmente de 'auditório do teatro universitário' com mais ou menos vinte pessoas a assistirem em média por espectáculo?
sexta-feira, 6 de julho de 2007
Os bibelôs!
E isto é verificável no movimento saltitante com o qual o português vai de um assunto a outro sem possuir a capacidade de ouvir. Somos o país do uso recorrente do 'inho', do bom tempinho, do obrigadinho, do almoçozinho, do passeiozinho, da sonecazinha…. Vá lá, já podem acordar!...
domingo, 1 de julho de 2007
Kitsune
http://kitsune.pt.vu/
O site ainda está em construção mas vale a pena ficar atento... isto se quiserem acompanhar um trabalho de excelência...
...de uma pessoa de excelência *^__^*
私は愛する!
É assim a vida!
É uma realidade imutável a de que, quanto mais avança a cogitação sociológica e a reflexão epistemológica, há uma infinidade de factos depressivos que emergem para o plano do nosso conhecimento. Não que a lucidez intelectual tenha que coincidir sempre com o negativismo, mas falando em massas sociais fechadas não há muito por onde abalar esta regra. E isto é facilmente verificável. É verificável, por exemplo, quando aceitamos que há, de facto, em Portugal a propagação de uma mentalidade herdada dos tempos salazaristas. Ou talvez anterior. Não se sabe ao certo. A verdade é que 48 anos de regime ditatorial a opor-se ao conhecimento são sempre 48 anos de regime ditatorial a opor-se ao conhecimento. E no entanto, depois do 25 de Abril, parece que um grande perdão se abateu sobre este espaço agora branco, agora enevoado.
Enevoado esse que se traduz na não-inscrição que se apodera de uma forma globalizante da vida dos Portugueses, enquanto entidade plural, mas, sobretudo, enquanto entidade sobre a qual se pode reflectir.
A questão é que parece que pouco ou nada mudou. O medo, a irresponsabilidade, surgem como aspectos primordiais dos comportamentos dos portugueses. Para onde escorreu a existência individual? E que existência era essa, a que se movia dentro da máxima humildade do máximo despercebimento, que se viria inscrever na perpetuação das almas – numa visão católica, própria de Salazar.
É aqui que reside a inércia, é aqui que ela se expande e faz dos portugueses seres virados para dentro de si próprios. Inalteráveis, adaptando-se ao exterior, ao que acontece fora de si como se fosse parte de um si natural, conformado. Como um corpo de plasticina que trava os objectos contra ele atirados e se apropria deles de uma forma natural, orgânica. Uma assimilação e uma acomodação de um brando estímulo.
Como no telejornal. Os cinquenta palestinianos mortos equilibram-se com o nascimento de um panda bebé na China. O jornalista diz «é a vida» e o português prossegue o seu quotidiano de imagens, a sua existência enquanto imagem nos outros. «É a vida» diz o locutor, e é esta mistura de transcendência-imanência da nossa vida à Vida que provoca um nevoeiro no espírito.
E há zonas de sombra, pontos imperceptíveis de ligação de forças que se distribuem pelo chamado “espaço público” em Portugal. Sabemos, à partida, que uma obra de arte ou um livro não sofrerão devires nem mutações nas várias leituras, nos vários corpos que percorrem pelo simples facto de que em Portugal não existe uma mediação entre o público e o autor.
Dificilmente um autor terá a alegria de sentir que a sua obra deixou de ser sua. A única possibilidade de mediação é o crítico literário em determinado jornal ou revista. Mas não há um sítio para vozes anónimas porque a liberdade que existe no nosso espaço público é fictícia e guiada pelo prestígio mediático. Há fulano X a insultar fulano Y ou, o mais recorrente, fulano H a trocar galhardetes com fulano T, sobrevalorizando o outro a partir do seu jornal ou, como acontece muitas vezes, dentro do mesmo jornal.
Assim, sendo o espaço publico fechado, limitando-se a ele mesmo cria a bipolaridade do real.
Por um lado tudo acontece no seu mundo, no seu país ou na sua cidade. Por outro, o sentido da abertura das imagens que se lhe apresentam já está ditado confirmando o pensamento do português antes de este o ter.
Assim todos os acontecimentos existem para serem comunicados. Nunca para eclodirem no curso da vida. E é assim a vida!
Recomento acima de tudo a leitura urgente de um dos melhores ensaios já escritos em português sobre Portugal, o livro de José Gil "Portugal Hoje: O Medo de Existir" (Relógio d'Água, 2004)
Isso não tem nada a ver comigo…
Um dos valores de ordem do espírito português reside no consenso. E ser consensual é não arranjar chatices com ninguém. O que importa é não arranjar cá divergências porque as divergências geram problemas e nós queremos ser amigos de toda a gente.
Somos um povo de amigáveis.
Fazemos acordos políticos com Vladimir Putin sempre numa base de amizade e, acima de tudo, de neutralidade e o respeito pelos direitos humanos na Rússia, no quadro das operações antiterroristas, não têm nada a ver connosco!
Aliás, coloca-se esta reflexão: ser amigo de alguém em Portugal é sentir por essa pessoa uma plena neutralidade.
Portanto, para se ser amigo de toda a gente temos que adoptar determinadas vias ou simplesmente deixar de adoptar vias. Como as vias se querem acima de tudo e, claro, consensuais, temos que fazer os possíveis para não provocar o atrito de pensamentos, ideias ou valores. Podemos questionar “mas temos que agradar às pessoas que não nos agradam?”
Eu esclareço: não há pessoas não nos agradem acima de tudo porque numa existência regida pela procura permanente do todo consensual não podem existir sentimentos fortes, não podem existir convicções e o próprio conceito de dignidade acaba por perder bastante do seu sentido. O que é realmente o topo do desejável é não possuir uma personalidade individual com ideias próprias e visões do mundo assumidamente diferentes.
Porque caso um português sinta que isto existe dentro de si, ele ignora-o o máximo possível, tentando atirar todos os vestígios da sua individualidade para o recanto mais obscuro e escondido que conseguir encontrar.
A mediocridade será, neste contexto, a via primordial do consenso. Ser medíocre é a arte de não fazer inimigos e como somos um povo amigável, é essencialmente isto que nos interessa.
Por exemplo, se a dignidade individual de um sujeito estiver posta em causa, sobretudo por um grupo com um número razoável de pessoas, um sujeito tipicamente português jamais irá opor-se veemente à maldade que lhe estão a fazer.
O que ele vai procurar fazer é ignorar tudo o que possa ser origem do seu sentimento de mágoa e não manifestar qualquer emotividade, qualquer ponto de vista. Se possível, o ideal é até concordar que apesar dos indivíduos lhe terem feito mal sem motivo nenhum, no fundo, ele é uma má pessoa por natureza e pedirá desculpa por isso.
CASO ELE TENHA UMA REACÇÃO, qualquer que seja, simplesmente por reagir, está completamente tramado porque neste caso, vira-se o feitiço contra o feiticeiro.
O que importa não é a situação na sua essência mas sim a REACÇÃO COM MANIFESTOS TRAÇOS DE CONVICÇÃO PESSOAL que o indivíduo perpetuou.
Qualquer português atingido por este tipo de reacção pensará logo para com os seus botões de moralidade alienada “Então admite-se isto? Tudo bem que lhe fizemos mal mas este indivíduo não tem o direito de estar a ter sentimentos tão fortes acerca de uma situação!... O que as pessoas normais fazem é ignorar e continuar com a convivência hipócrita que sempre tiveram!”
E depois há ainda o outro fenómeno, normalmente sobressai quando o problema é com um grupo, que é aquele do individuo pertencente ao grupo se defender argumentando “Ainda por cima esta situação que não teve nada a ver comigo… que foi não sei quem que fez e que eu, pronto, não me manifestei porque isto não tinha nada a ver comigo.”
O conceito de cumplicidade desaparece. Isto porque o português não tem opinião e faz aquilo que todos fazem, sem stress. Caso haja um problema num grupo ele é neutralizado pelos movimentos da maioria sem que para isso os seus elementos estejam implicitamente a assumir uma posição.
As pessoas ditas normais têm sentimentos mesquinhos sobre as coisas e não têm nada que possuir sentimentos profundos e consequentemente reacções profundas. As outras pessoas normais nunca têm nada a ver com as situações anormais que ocorrem.
O que importa realmente é deixar as coisas andar!
E assim o sujeito aleatoriamente malogrado (é sempre sem intenção, então?) poderá retomar ao seio do grupo de pessoas que lhe fizeram mal para, muito hipocritamente, continuar a sua existência colectiva miserável baseada numa superficialidade vertiginosa mas que o fará sentir um elemento pertencente a um grupo de pessoas. Que não gostam assim tanto dele como isso. Mas MESMO NÃO GOSTANDO há acima de tudo um sentimento de fictícia compreensão que é, como quem diz, o medo de perder as pessoas que o rodeiam e que lhe dão a imagem fictícia da romântica ideia de ‘amigos’. Oh! As ideias românticas em Portugal! Tão bonitas que elas são… o amigo que está ali quando precisas dele… para te segurar a cabeça depois de cinco litros de álcool ingeridos… porque é com o sangue completamente intoxicado de alcool que as pessoas de quem não gostamos assim tanto parecem tão fixes e é tudo tão divertido...
Pois é, as pessoas nesta sociedade são acima de tudo cobardes. Não se pode manifestar visivelmente uma emoção perante o outro porque manifestar sentimentos fortes, é, como já vimos, sinónimo de conflito e o conflito deve ser evitado, assim como as ideias próprias devem ser evitadas, ou pelo menos, que sejam divulgadas. (Até podem existir ideias próprias desde que não passem da mente do indivíduo, ou de um grupo fechado de pessoas ao qual a pessoa malograda nunca terá acesso, agora falar directamente com o indivíduo, isso é que não, prefere-se dar-lhe logo as consequências). Caso haja uma reacção forte sobre algo, uma base solidificada de valores individuais e de sentido crítico sobre o que o rodeia toda a gente vai cair em cima dele com argumentos tão penetrantes como
“Mas tu viste a tua reacção?”
E diz o indivíduo “Mas… aquela situação, tu viste o que me fizeram?”
“Sim, mas e a tua reacção? Era preciso aquilo?”
“Mas eu só quis saber o que se estava a passar, a situação é que é o essencial!!”
“Não… o essencial é uma coisa que não vem nada ao caso, mas a tua reacção…”
"Mas vocês magoaram-me. Estavam à espera que não acontecesse nada?"
"Claro! Mas o que mais poderia acontecer?..."
Todos os códigos de diferença inerentes ao sujeito são vistos como não integradores, como se a tradução cerebral daquilo com o qual é confrontado não conseguisse processar a informação. É por isso que um dos insultos mais recorrentes do qual estas pessoas se costumam servir é o da "infantilidade". Por infantilidade entende-se o estado ainda não evoluido de mediocridade e, logo, de não integração no grupo.
Portugueses, enfrentem quem precisa de ser enfrentado, DEIXEM A MERDA DA COBARDIA, arrangem uma personalidade e sejam-lhe fiel, não vai ser por terem meia dúzia de pessoas ou uma dúzia, ou quantas forem necessárias a odiarem-vos que o mundo vai acabar e, aliás, ser odiado por pessoas deste género é, acima de tudo, um profundo elogio.
Apresentação
Apresento-vos o meu novo blog, este Transeunte Inútil que vai, assim muito resumidamente, ser o albergue de uma série de crónicas que pretendo elaborar.
Para mim isto da blogosfera não é uma novidade, estou envolvida em vários blogs... embora os blogs para os quais escrevo, não os consideraria blogs em si mas sim projectos em formato de blog. Já tive blogs efectivos no passado, acho que o meu primeiro foi o Mão Fragmentada http://maofragmentada.blogspot.com/, que eu mantinha com o David Pereira, que para além de escritor é também extremamente sexy, mas que depois tivemos que abandonar já que ele lá no seu curso de Direito em Lisboa tem mais que fazer e eu com o chinês e japonês no Minho também tenho mais que... por acaso até não tenho assim tanta coisa para fazer e é por isso que ainda posso perder tempo a elaborar escritos para blogs... mas enfim.
Continuando, participo no mais recente blog do meu curso http://www.lco-um.blogspot.com/ e num dos projectos mais interessantes do universo cibernético português, uma magazine temática virtual em formato de blog: o Bungaku - http://bungakuuu.blogspot.com/. Criei também um blog promocional do meu mais recente livro http://umadevastacao.blogspot.com/ . Bem, e acho que em termos de links me posso ficar por aqui.
Como vêem estes blogs não possuem um caracter muito pessoal, inserem-se mais em secções temáticas e específicas do que propriamente em locais para onde eu vou desbravar a fluência das palavras que me ocorrem ou, dito de outra forma, tudo o que me der na real gana.
Tendo em conta que este nosso jardim à beira mar plantado é um paraíso de inspiração para qualquer escritor que pretenda dedicar-se à crítica de costumes ou simplesmente para qualquer escritor ou para qualquer artista, ou meramente para qualquer pessoa com alguma sensibilidade e capacidade de percepção cognitiva, ou simplesmente para aqueles cuja compreensão do que os rodeia lhes provoca uma sensação de asco e de absurdo e de vertigem.