A visão americana da ordem internacional não se confinava à
balança de poderes, colocava ênfase na estabilidade interna na forma de
instituições democráticas dentro dos estados. O ponto fulcral da estratégia
pós-guerra de Roosevelt na Ásia-Pacífico foi antever uma China democrática e
unida que iria surgir com toda a capacidade de exercer influência decisiva
enquanto grande potência ao estilo do pós-guerra fria, refletida no discurso “Four
Freedoms” em janeiro de 1941 e na Carta do Atlântico anunciada por Churchill em
agosto desse ano.
A Carta explicitava princípios como a negação da expansão
territorial, a garantia do direito de autodeterminação para todas as nações, a
criação de um sistema económico liberal aberta e internacional virada para a
cooperação e para a preservação da paz e da segurança.
Embora estes princípios tenham sido incorporados com o acordo
soviético na Carta das Nações Unidas na reunião em San Francisco em 1945, e
apesar da presenta da União Soviética nas reuniões de Bretton Woods onde se
configurava um mundo baseado no livre comércio, ficou evidente que o
cumprimento desses acordos por parte da URSS não era garantido. Em 1946, a
desilusão americana relativamente ao comportamento soviético na Polónia
começava a afetar as atitudes americanas para com o leste.
A outra deceção americana foi com o fracasso da China a não
conseguir cumprir as suas expectativas de guerra aliada ao fracasso do Plano
Marshall de 1945-1946 que visava evitar uma guerra civil não proporcionou o
melhor ambiente para cortar as hostilidades rivais entre nacionalistas e
comunistas no quadro da Guerra Fria. Como a origem da Guerra Fria foi na
Europa, foi para aí que se viraram as atenções das forças bipolares.
A Doutrina de Truman de março de 1947 que elevou as
obrigações específicas levadas a cabo na Grécia e na Turquia para um
compromisso universal de “apoio aos povos livres que resistem às tentativas de
subjugação por minorias armadas ou pressões externas”, foi erguida algum tempo
depois dos americanos terem intercedido nos dois países. Como muitos têm
argumentado, o acentuado tom moralista e o simultâneo âmbito universal da
Doutrina era dirigido tanto para mobilizar a opinião pública americana como
para articular a política externa.
Por esta altura uma boa parte dos problemas americanos
provieram da ausência de meios para levar a cabo os crescentes compromissos
internacionais.
A esperança de cooperação com a União Soviética estava
gradualmente a ser substituída por confronto e a capacidade americana para dar
resposta às necessidades da Europa Ocidental encontrava-se em declínio. A
Doutrina Truman tinha sido projetada para colher o apoio animado da opinião
pública americana e era um fator essencial para a implementação do Plano
Marshall e para a ajuda a Chiang Kai-Shek. Todavia, a sucessão de acontecimentos
pouco dignos na China levou a uma retração dos Estados Unidos perante a
hipótese de levantar ou não as suas forças a sul do Paralelo 38. O Japão era
entretanto considerado não apenas um país onde se poderia implementar o
liberalismo económico como forma de reconstrução estatal mas também como um
potencial aliado enquanto fonte de estabilidade do Nordeste Asiático.
O rescaldo da Guerra do Pacífico foi moldado pelos
entendimentos alcançados na Conferência de Yalta que em retorno refletia a
realidade da hegemonia da marinha americana no Pacífico e o domínio soviético
terrestre no nordeste asiático. O resultado foi a divisão em duas esferas de
interesse. Os EUA exerciam predominância no Oceano Pacífico, incluindo as Filipinas,
Okinawa e Japão. A União Soviética reconquistou Sacalina e as Ilhas Curilas,
assim como obteve novamente os direitos ferroviários e portuários da Manchúria,
obtendo o reconhecimento da independência do seu protégé, a Mongólia Exterior.
Encabeçados pelos britânicos, os governantes coloniais procuraram restaurar as
suas posições no Sudeste Asiático. Era esperado que a China emergisse como
poder soberano e se juntasse às três grandes potências de forma a estabelecer
uma tutela sobre a Coreia. Contudo, em vez de um acordo precipitado sobre a
divisão de responsabilidades por terem aceitado a rendição do Japão, americanos
e soviéticos, para grande surpresa, concordaram em parar no Paralelo 38. [1]
[1] Ver the account by Bruce Cummings, The Origins of the Korean War, 2 vols (Princeton: Princeton University press,
1981 and 1990); and by Max Hastings, The Korean War (London: Michael Joseph, 1987).
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