Um ser é um universo e os universos possuem recantos, por
vezes difíceis de encontrar porque muitas vezes inexplorados. Em última
análise, conhecer alguém é uma forma de invasão. Mas a descoberta deve ser prudente,
uma vez que qualquer aventura implica riscos. Quando o corpo viaja, a mente
antecipa-se e viajar é atravessar diversas paisagens humanas. Tendemos a
analisar a diversidade comportamental com a localização geográfica. Aprendemos
a evitar estereótipos mas somos seus cúmplices, a mente humana vai
inevitavelmente procurar padrões, mesmo que esses padrões existam apenas numa
tese, uma hipótese formulada racionalmente para nos ajudar a apreender aquilo
que observamos. Dividimos esses estereótipos em grupos vizinhos. Faz sentido
porque a socialização é feita de várias fases miméticas, assimilamos e
reproduzimos e dessa forma comunicamos. É aí que nos encontramos. A distinção é
aqui uma forma de reencontro com o ser que nos habita, também ele complexo e
infinitamente inexplorado. A viagem, no seu sentido mais purista, não pode
deixar de ser uma expedição da alma, tanto à procura do eu como do outro e que
resulta numa combinação que se torna gradualmente indistinta. Em cada pessoa diferente existe um elo comum, mesmo que essa descoberta possa representar um desafio. As diferenças culturais e a análise sociológica explicam apenas uma parte da complexidade da psicologia humana. Há um misticismo
inerente à viagem porque é a área do desconhecido mas esta percepção não deve
ser ingénua: sair é desconforto e a realidade é que esse desconforto é
precioso. Apenas não temos a capacidade de apreciar o desconforto a curto
prazo. Há uma lentidão necessária, nem sempre agradável. Sabemos o que somos
por oposição ao outro enquanto descobrimos que essa oposição é paradoxalmente
inexistente ou pode existir mas apenas enquanto tese. Somos únicos e somos toda
a possibilidade.
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