Um ser é um universo e os universos possuem recantos, por
vezes difíceis de encontrar porque muitas vezes inexplorados. Em última
análise, conhecer alguém é uma forma de invasão. Mas a descoberta deve ser prudente,
uma vez que qualquer aventura implica riscos. Quando o corpo viaja, a mente
antecipa-se e viajar é atravessar diversas paisagens humanas. Tendemos a
analisar a diversidade comportamental com a localização geográfica. Aprendemos
a evitar estereótipos mas somos seus cúmplices, a mente humana vai
inevitavelmente procurar padrões, mesmo que esses padrões existam apenas numa
tese, uma hipótese formulada racionalmente para nos ajudar a apreender aquilo
que observamos. Dividimos esses estereótipos em grupos vizinhos. Faz sentido
porque a socialização é feita de várias fases miméticas, assimilamos e
reproduzimos e dessa forma comunicamos. É aí que nos encontramos. A distinção é
aqui uma forma de reencontro com o ser que nos habita, também ele complexo e
infinitamente inexplorado. A viagem, no seu sentido mais purista, não pode
deixar de ser uma expedição da alma, tanto à procura do eu como do outro e que
resulta numa combinação que se torna gradualmente indistinta. Em cada pessoa diferente existe um elo comum, mesmo que essa descoberta possa representar um desafio. As diferenças culturais e a análise sociológica explicam apenas uma parte da complexidade da psicologia humana. Há um misticismo
inerente à viagem porque é a área do desconhecido mas esta percepção não deve
ser ingénua: sair é desconforto e a realidade é que esse desconforto é
precioso. Apenas não temos a capacidade de apreciar o desconforto a curto
prazo. Há uma lentidão necessária, nem sempre agradável. Sabemos o que somos
por oposição ao outro enquanto descobrimos que essa oposição é paradoxalmente
inexistente ou pode existir mas apenas enquanto tese. Somos únicos e somos toda
a possibilidade.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
domingo, 7 de dezembro de 2014
Comentário é conteúdo
Neste post não vou refletir sobre o carater aleatório deste
blog, embora a minha mente tendencialmente organizada me faça sempre começar
por aí. Talvez tenha que assumir que este espaço não tem propósito intelectual
mas antes um propósito emocional, sou eu que me conecto comigo. Para mais, nos
dias de hoje, “comment is the content” e estou a citar o último episódio de
South Park, já disponível online, e se aparece em South Park, é porque é
oficial. E é verdade, é tão verdade para o meu sobrinho de 6 anos que é viciado
em comentadores de jogos no youtube, como é verdade para todo o tipo de
informação que recebemos hoje em dia. Eu acho que com isso – não sei se gosto
muito desta forma do meu sobrinho passar grande parte do seu tempo – mas é
verdade que o aumento da influência da socialização das redes disponibilizou
para o utilizador uma leitura de várias camadas, mais transversal, espontânea e
livre. De facto, o comentário ao conteúdo é conteúdo por si mesmo. Isto faz com
que o conteúdo esteja sempre em permanente vigilância e acredito que há valores
positivos que advém desta nova experiência – nunca vi tanta denúncia de misoginia
presente em livros, filmes e músicas como vejo agora pela internet a fora.
Parece que todos somos convidados a opinar e essa massa opinativa tem também o
propósito de ser geradora dos próximos conteúdos, desejavelmente adaptados às
exigências com que se depara. Nunca foi tão fácil perceber o que pensa o
consumidor final dos produtos culturais.
Começo a notar que o mês de Dezembro é muito profícuo em
reflexões. É uma espécie de melancolia metódica que coincide com o fim do ano
civil. Serão as luzes fluorescentes nos pinheiros? Será o Pai Natal um espírito
de uma realidade com 5 dimensões onde o tempo é não só um círculo plano como a
parte de trás de uma estante – é tão lamentável mas eu fico sempre …
entusiasmada… vamos dizer assim, com estas MMR (Matthew Mcconaughey References).
Também é uma fase em que fico muitas vezes com tempo livre e não preciso de
dormir e assim sendo posso instruir-me mais tanto passiva como ativamente
através da escrita que é, essencialmente, uma questão de prática como as
outras. Ou até através de uma atividade que faz muito bem que porventura pessoas que leem
este blog, certamente não praticam o suficiente que é o convívio com pessoas,
tipo sair com elas e conversar, como todo o tipo de pessoas em termos de feitio, idade,
nacionalidade, orientação sexual, etc e nem sempre recorrendo a estupefacientes
ou álcool para o efeito. Nem sempre, mas às vezes ajuda. Viajar também é uma
forma ativa de reflexão mas é sempre diferente se se viaja sozinho/a ou se viajamos a dois ou com grupos de pessoas
e atividades definidas. Todas estas condutas são bem-vindas para alimentar o
bichinho do pensamento que é uma forma querida e quase infantil de dizer preencher o vazio existencial camusiano que invade inusitadamente os sentidos na quadra festiva.
É provável que eu venha a escrever novamente em breve mas se
não acontecer, lembrem-se de ter um período festivo repleto de todas estas
dicas que vos dei: boa continuação de produção de não-conteúdo
para todos!
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