A produção literária latino-americana tem tendência a tornar-se gradualmente mais aclamada. Esta chamada de atenção veio sobretudo com os novéis de Marquez e Vargas LLosa mas não só. Também o 2666 é considerado um livro emblemático no panorama da escrita deste lado do mundo ou, pelo menos, assim nos quer fazer parecer a sua algo súbita popularidade. Depois do realismo do fantástico de Borges ou Julio Cortázar onde se entendia que os elementos do fantástico ou do absurdo poderiam integrar a realidade do quotidiano para melhor destacar elementos dessa mesma realidade, Bolaño é agora chamado o fundador do punk surrealista ou infrarealismo (ainda que o infrarealismo tenha sido uma resposta Chilena e Mexicana à corrente de André Breton). Os elementos que distinguem este estilo passam uma meta narrativa: os livros de Bolaño narram as vidas de escritores, quase sempre poetas, que vivem à margem do social – chegando ao ponto de se aproximarem de criminosos. Manifestam algumas psicoses e uma libido irrefreável. Então em 2666 encontramos isso tudo mais um elemento que lhe é muito querido que é um fascínio tremendo pela violência e por homicídios. Realmente um livro tão grande onde cabem cinco será o suficiente para se ter contacto com todas estas características. A atenção dada à forma como elemento descritivo e neutro, quase jornalístico, e de resto tão típico da literatura americana, é polvilhada com pitadas de humor sarcástico. É um tipo de literatura que nos entra pouco pelos sentidos porque não tem uma forma convencionalmente bonita. Se Proust estava certo em relação ao facto de sabermos que temos um novo marco da literatura à frente dos olhos quando a sua escrita nos parece predominantemente feia, então com 2666 encontramos as pistas certas porque os primeiros capítulos deste volumoso livro nos impõem alguma repulsa, como se houvesse algo de imperceptível que nos irritasse...por ser imperceptível. E ainda assim atraente. É atraente mas não sabemos muito bem a que é que se propõe. E esta foi certamente a minha experiência de leitura. Contudo, a falta de descrição da dimensão pessoal das personagens é algo que me cria dificuldades. Não consigo compreender a essência: é suposto identificar-me ou a repugnância que estou a sentir foi intencional? De qualquer forma, a falta de personalização do universo psicológico das personagens não me é suficiente para a empatia. Há mensagem política ou não? Não vejo o universo inteiro dentro deste livro mas vejo o interesse em tentar apropriar numa realidade sinistra uma visão transcendente neste caso associado aos assassinatos em Santa Teresa ou à personagem fictícia do suposto escritor alemão Archimboldi. Não é daquele tipo de livros que se expliquem. Ou talvez seja porque há capítulos mais elucidativos do que outros. Seja como for, não sei porquê mas relembra-me alguns trabalhos de Easton Ellis ou de Bukowski, ou seja , não consegui criar uma febre em torno da obra ou do autor. Mas, novamente, não sou a maior apreciadora do estilo.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Mandarim Cityschool
Para pessoas da minha área, divulgo esta oferta de emprego. Devo, no entanto, dizer que já trabalhei com a Cityschool do Porto e que não o voltaria a fazer. As instalações são muito boas, mas não é muito bem pago (bom, sempre é melhor do que um Wall Street Institute, mas aí também já estamos a falar de extremos de decadência). Além disso, uma coisa a ter em conta no trabalho de formador de línguas específicas é também o de fazer valer a nossa escassez. Para quem trabalha com prestação de serviços, não se podem tolerar pagamentos irrisórios (até porque os alunos deste tipo de institutos pagam pequenas fortunas para os frequentarem). Posso dizer que trabalhei lá para ganhar experiência mas o que me pagaram quase não cobriu despesas de deslocação - sim, porque para dar este tipo de formação, não é ao virar da esquina que se encontram as pessoas devidamente qualificadas e nem o facto de se residir numa área afastada os faz reflectir minimamente sobre as propostas de pagamento. No entanto, para mim o problema não residia no que eu poderia lucrar. O verdadeiro problema foi lidar com a directora da Cityschool do Porto, Luísa Lupi. Para alguém que apregoa constantemente a relação interpessoal com colegas de trabalho como um dos principais aspectos a ter em conta, o estilo opressor, desconfortável e hierárquico com o qual lida com os formadores que emprega, é simplesmente insuportável. Eu sei que as coisas não estão fáceis e etc mas fica a mensagem de que não nos podemos sujeitar a qualquer coisa por uns trocos. Aproveitem a oferta e a experiência, mas não se deixem intimidar pela postura da senhora. Ela não tem qualquer direito de vos fazer sentir seus submissos.
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