Mr. Robot é uma série da USA Network criada por Sam Esmail. Um cyberpunk–thriller drama que junta a contemporaneidade dos movimentos de ciberterrorismo à vontade adolescente de uma revolução que descomponha os paradigmas basilares de uma sociedade de consumo alicerçada numa conspiração mundial.
Uma das coisas que me cativou nestes seis episódios já disponíveis é a homenagem clara a obras cyberpunk com este travo de ficção científica distópica e politizada. Começando pelo grande paralelismo entre o formato da narrativa com aquele que David Fincher adotou na adaptação do romance de Chuck Palahniuk, Fight Club. O discurso anticapitalista e anti-materialista acompanhado de imagens que retratam um quotidiano cansativo regido pelas regras da banalidade consumista e por um conceito de pueril felicidade, os planos longos e contemplativos, o narrador na primeira-pessoa, a banda sonora a enfatizar o drama tecnológico ou a ironizar com melodias desadequadas ao contexto. É um gosto pessoal, aprecio particularmente as representações satíricas da sociedade. Isto e o facto de que o nosso anti-herói sofre de vários distúrbios psicológicos não identificados (bipolaridade, esquizofrenia?), o que faz com que os subplots em que se introduz e os vários níveis de conspiração possam ou não ser reais – a mesma dinâmica Edward Norton - Tyler Durden. Já no antagonista Tyrell Wellick vi uma sucessão de referências a Blade Runner, American Psycho e Comopolis, um levantamento do estado da arte, um reconhecimento do que já foi feito. Não faz com que a série perca originalidade mas antes ajuda-a a enquadrá-la no seu género e a descrever a sua estética e estilo.
É verdade que vivemos numa época de revivalismo noir, há um determinado público muito virado para uma estética decadentista, niilista, conspiracionista. Elliot é um ser escolhido para perpetrar uma missão e a sua suposta intelectualmente superior é depreendida pela atitude cínica com que encara o mundo. Digamos que para mim é uma espécie de complexo adolescente em continuidade para justificar as arduidades de adaptação a um meio social aqui considerado amplamente fútil e ingénuo. Acho que muita gente se vai identificar com este tipo de personagem. Nos dois primeiros episódios senti alguma dificuldade em lidar com esta personalidade revoltada contra o capitalismo e o poder instaurado pela política e economia mas que recorre constantemente a clichés para se fazer entender. Se por um lado, Fight Club tinha uma vertente espiritual, da purgação do ser pelo desafeto ao materialismo, em Mr. Robot Elliot coloca o peso em toda a indústria produtiva, muitas vezes atirando em todas as direções, seguindo os padrões de uma rebelião anárquica e anónima aproveitando-se estilisticamente de fenómenos como Anonymous ou as manifestações de Occupy Wall street. A combinação destes elementos é feita com mestria e a personagem de Tyrell Wellick remete-me para um prazer adolescente de um vilão estilizado numa lógica maniqueísta.
Apesar de alguma resistência ao piloto, ao terceiro episódio senti-me magneticamente atraída pela série e vou certamente seguir. Se me sentir inspirada ainda escrevo aqui mais alguma coisa sobre os meus pensamentos acerca do desenrolar da narrativa. Haja inspiração!
☆☆☆☆☆