Um sociopata é uma pessoa incapaz de sentir empatia. A
empatia é o que nos permite identificarmo-nos emocionalmente com os outros, é o
que nos faz ter sensibilidade emocional e é a base para nos relacionarmos socialmente.
Clinicamente, os sociopatas são incapazes de dar respostas emocionais ajustadas
às situações, por outro lado, são dotados de uma grande habilidade intelectual
e, apesar de não serem capazes de dar repostas emocionais adequadas, a sua
capacidade racional apetrecha-os de um dom muito próprio de mimetismo dos comportamentos humanos, o que os ajuda a misturarem-se sem serem identificados. 4% da
população americana é sociopata, mais ou menos 12 milhões de pessoas. O que é
que esta gente faz? Eu acho que muitos deles estão provavelmente à frente de
cadeias televisivas e jornais de algibeira. Tendo em conta que o sociopata se
conduz por instintos de megalomania e arrivismo extremo, é bem provável que
muitos deles cheguem a lugares de chefia.
Quando acabei de ver o Nightcrawler a realidade à minha
volta parecia distorcida, foi como se tivesse visto um filme de terror. Olhei para
a mulher ao meu lado na casa de banho a lavar as mãos com alguma suspeita. Afinal,
quem são os sociopatas desta sociedade que desfilam com impunidade perante
todos nós? Mas este não é um terror de uma faca atrás de uma vítima, é um
terror psicológico, cinematograficamente impecavelmente estilizado a
transbordar humor e ainda assim refletindo uma realidade tão estupidamente próxima
e familiar. O filme explora o ambiente suburbano de Los Angeles mas podia
explorar qualquer outra grande cidade, podia ser sobre a Damaia ou os Olivais. É
bastante negro e bastante gráfico. Críticos alegam que esta sátira ao lado
macabro dos media não é novo, já foi feito, pois eu acho que precisávamos de
mais um olhar sobre isso neste ano de 2014 e foi isso que este filme fez. Uma exposição
do que de mais grotesco encontramos entre as pessoas que dirigem as imagens que
nos chegam a casa todos os dias pelo pequeno ecrã, com interpretações brutais,
um ambiente noir, estilo Drive, estilo Taxi Driver mas com um protagonista distinto,
um Jake Gyllenhaal a transpirar carisma numa atuação brilhante.
Este é um filme de diálogos de culto que destrói a dialética
do sucesso na nossa época: pega nela, espezinha-a e arrasta-a pelo chão a
sangrar. De facto, não sei o que me perturbou mais: se o grafismo dos corpos
assassinados ou a linguagem corporativa do Lou Bloom, ambas as coisas são
macabras. Entre uma fratura exposta ou
alguém a dizer-me como me devo comportar em sociedade para atingir o sucesso, venha
o diabo e escolha!
Acho que o perfil do sociopata está extremamente
bem definido na personagem principal, assim como na diretora de emissão (Rene Russo). Os
diálogos deliciosamente escritos mergulhados em humor negro a cinematografia
das perseguições, são alguns dos elementos que fazem deste filme provavelmente o
melhor de 2014.
Para o ver numa sala de cinema, tive que me dirigir a um Cinema City, acho que devia estar melhor divulgado. Em Lisboa não terão certamente problemas em encontrá-lo, o mesmo não se pode dizer em relação ao resto do país.
Para o ver numa sala de cinema, tive que me dirigir a um Cinema City, acho que devia estar melhor divulgado. Em Lisboa não terão certamente problemas em encontrá-lo, o mesmo não se pode dizer em relação ao resto do país.
Acho que todos os defensores do empreendedorismo de cordel e
dos ideais puros da ideia de “self-made men” possam sair deste filme a dizer:
“Who am I?
I'm a hard worker. I set high goals and I've been told that I'm persistent. Now I know that today's work culture no longer
caters to the job loyalty that could be promised to earlier generations. But I
believe that good things come to those who work their asses off and that good
people who reach the top of the mountain, didn't just fall there.”
Lou Bloom