Vivemos numa sociedade que raramente nos dá espaço. Ou seja, que raramente se esforça por abranger uma faixa etária jovem em qualquer tipo de representação mediática. Estatisticamente será normal, se temos uma população envelhecida, esse público-alvo representará mais share, logo, esse público-alvo será mais procurado. Não é mais do que a lógica de mercado. Agravante é ainda a alternativa da televisão por cabo e da internet como opções aos canais generalistas. Portanto, é normal que ligue a televisão de manhã e seja bombardeada por noções sensacionalistas ultra-conservadoras e saudosistas de direita que me levantem os pêlos da nuca de tão sinistros que são os valores ali representados. Contudo, pensar em variar mais a qualidade do serviço não seria uma estratégia assim tão arrojada como pode aparentar. Senão vejamos, a classe etária jovem está desesperada por rir. É verdade! É curioso verificar que os mais velhos não compreendem fenómenos como pôr o gel e o Falâncio na final de um festival da canção.
Dos que ouvi falar tentaram justificar a escolha seguindo uma lógica elitista de que “só as pessoas incultas e o povinho votaram naquilo”. Mas o fenómeno é bem mais complexo do que isso. Foi muito mais a irreverência e a subversão que meteram os humoristas lá do que propriamente a parolice e a ignorância. Foram muito mais as pessoas que apreciam o humor do absurdo do que as que viram nos comediantes verdadeiros revolucionários abrilistas. É isto que essas pessoas têm que compreender. No fundo, os jovens estão só à procura do seu espaço e o seu sentido de humor é muito mais virado para o culto da incongruência do que conscientemente contestatário de um qualquer sistema político vigente. Foi isto que deu a fama ao fenómeno “gato fedorento” prendendo toda uma geração de apreciadores de humor ao humor Monty Python. Ora, quando se fala em Monty Python estamos a falar dos anos 70. Eu suponho que desde então já se pudesse evoluir para outra coisa. O gosto pelo absurdo? Bom, então posso referir o movimento dadaísta de 1915? O dadaísmo focalizava-se essencialmente no nosso tão pós-moderno termo de “non-sense”… que então, vistas bem as coisas, nem é assim tão moderno. Ou seja, o que eu quero dizer é que não há motivos para se viver realmente um conflito geracional e é uma pena que, mesmo assim, esse conflito esteja mais que presente. De que outros fenómenos podemos falar? Até uma coisa com um nível de qualidade medíocre como o “último a sair” está a provocar um hype tremendo entre os mais jovens . Estamos, claramente, desesperados por rir. Queremos rir à força toda e na nossa própria língua. Foi assim que surgiu o fenómeno tremendo que foram os gato fedorento.
O que é curioso é ver o programa francamente insultuoso e profundamente deprimente que estes 4 humoristas outrora de vanguarda andam a fazer no canal do meo, o “fora da box”. Basicamente, são sketches antigos mas que incluem coisas como “Rede 100% fibra óptica”, “velocidade garantida” e “melhor qualidade de imagem e som” com um enorme “production value 100% maior-gigante-neoliberal-de-telecomunicações” e com textos humorísticos sofríveis, a roçar o infantil e com uma originalidade a zero cujo único propósito é o publicitário.
Francamente, o Bruno Nogueira é a única pessoa engraçada daquele programa da RTP – e eu até sou fã da maior parte do trabalho do Miguel Guilherme (lembram-se do fintas e fintas?), mas, sinceramente, ele podia fazer tão melhor.
E o novo programa do Gato Fedorento é de se atirar de um 12º andar mas em alta definição, porque, sinceramente, não poderia ser mais irrisório, já os estou a imaginar a planear o programa:
Dos que ouvi falar tentaram justificar a escolha seguindo uma lógica elitista de que “só as pessoas incultas e o povinho votaram naquilo”. Mas o fenómeno é bem mais complexo do que isso. Foi muito mais a irreverência e a subversão que meteram os humoristas lá do que propriamente a parolice e a ignorância. Foram muito mais as pessoas que apreciam o humor do absurdo do que as que viram nos comediantes verdadeiros revolucionários abrilistas. É isto que essas pessoas têm que compreender. No fundo, os jovens estão só à procura do seu espaço e o seu sentido de humor é muito mais virado para o culto da incongruência do que conscientemente contestatário de um qualquer sistema político vigente. Foi isto que deu a fama ao fenómeno “gato fedorento” prendendo toda uma geração de apreciadores de humor ao humor Monty Python. Ora, quando se fala em Monty Python estamos a falar dos anos 70. Eu suponho que desde então já se pudesse evoluir para outra coisa. O gosto pelo absurdo? Bom, então posso referir o movimento dadaísta de 1915? O dadaísmo focalizava-se essencialmente no nosso tão pós-moderno termo de “non-sense”… que então, vistas bem as coisas, nem é assim tão moderno. Ou seja, o que eu quero dizer é que não há motivos para se viver realmente um conflito geracional e é uma pena que, mesmo assim, esse conflito esteja mais que presente. De que outros fenómenos podemos falar? Até uma coisa com um nível de qualidade medíocre como o “último a sair” está a provocar um hype tremendo entre os mais jovens . Estamos, claramente, desesperados por rir. Queremos rir à força toda e na nossa própria língua. Foi assim que surgiu o fenómeno tremendo que foram os gato fedorento.
O que é curioso é ver o programa francamente insultuoso e profundamente deprimente que estes 4 humoristas outrora de vanguarda andam a fazer no canal do meo, o “fora da box”. Basicamente, são sketches antigos mas que incluem coisas como “Rede 100% fibra óptica”, “velocidade garantida” e “melhor qualidade de imagem e som” com um enorme “production value 100% maior-gigante-neoliberal-de-telecomunicações” e com textos humorísticos sofríveis, a roçar o infantil e com uma originalidade a zero cujo único propósito é o publicitário.
Francamente, o Bruno Nogueira é a única pessoa engraçada daquele programa da RTP – e eu até sou fã da maior parte do trabalho do Miguel Guilherme (lembram-se do fintas e fintas?), mas, sinceramente, ele podia fazer tão melhor.
E o novo programa do Gato Fedorento é de se atirar de um 12º andar mas em alta definição, porque, sinceramente, não poderia ser mais irrisório, já os estou a imaginar a planear o programa:
- Ora vamos lá então fazer o sketch do primo tozé do campo mas incluir os termos “mais de 70 canais” e “fibra óptica” no meio do diálogo em que ele fala das coives e das ovelhas.
Ou outro assim:
Ou outro assim:
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- HD?
- Qual HD?
- Ahhhhhhhh! Mas qual HD?
A sério, não somos assim tão estúpidos. Merecemos melhor. Depois queixem-se que falamos inglês. É que eles (pessoal de países de língua inglesa) fazem coisas engraçadas. Mas engraçadas mesmo, daquelas mesmo de rir.