Compreendo perfeitamente o dilema, Lori. Não era exactamente do que estava à espera numa série de zombies... mas também serve. Só faltava mais um bocadinho de escola de actor. Ahh e uns jump scares uma vez por outra não faziam mal, afinal é uma série de zombies e tal... mais dilema também era bom, e mais banda sonora, definitivamente mais banda sonora... :/
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
Ay, Carmela pelo Teatro das Beiras
Tentando actualizar o blog com frequência por necessidades de prática da expressão escrita – tenho que optar por este tipo de exercícios de aquecimento - há semanas em que lá me ponho ocupada a fazer outras coisas e não vem muito aqui parar. É por isso que apesar de ter ido ver esta peça há uma semana atrás só agora me digno a escrever sobre o assunto. Este mês foi a segunda vez que o teatro circo (theatro circo?) apresentou algo relacionado com teatro espanhol, ainda mais teatro alegórico que recorre à técnica brechtiana de falar de uma outra época para retratar o presente quando o presente não pode ser retratado devido a algum regime totalitário. A primeira foi "La casa de Bernarda Alba" de Frederico Garcia Lorca e a da semana passada foi "Ay, Carmela", uma peça de José Sanchis Sinisterra. A diferença entre estas duas é que a segunda tem um registo muito mais humorístico.
"“Ay, Carmela!”, é um texto teatral que ganhou foros de referência obrigatória quando tratamos de abordar a criação dramatúrgica dos finais do Séc. XX.
Situando a acção num contexto de confronto de carácter político e ideológico, num momento particularmente difícil para a história da humanidade, “Ay, Carmela!”, propõe-nos uma reflexão sobre questões e temas absolutamente intemporais.
A condição da arte e dos seus protagonistas perante as circunstâncias envolventes do poder. A ética dos valores não discricionários, a cultura democrática das sociedades contemporâneas, os movimentos sociais têm em “Ay, Carmela!”, um desafio à memória como exercício de fecunda aprendizagem.
Perdidos numa noite de nevoeiro e fome, dois anónimos “artistas de variedades”, caem em território “inimigo”. Aí, em troca da “liberdade”, são obrigados a apresentar o seu espectáculo às tropas vencedoras e aos prisioneiros vencidos. Que fazer à representação para “sobreviver” em tão díspar plateia? Como resistir ou ceder sem abalar a dignidade?"
Esta peça encenada por Gil Salgueiro Nave e interpretada por Fernando Landeira e Sónia Botelho foi interessante sem perder a sua dose de entertaining, que é o que muitas vezes faz falta ao teatro. No entanto, pegando numa peça como esta, difícil era conseguir fazer com que os dois únicos actores em palco se mantivessem com energia até ao fim. Felizmente a energia foi gradativa e se ao início não consegui interiorizar completamente a personagem masculina, quando ele entra num monólogo com um suposto director de luzes para o seu espectáculo de variedades, o actor revelou toda a sua qualidade cénica, envolvente e empática. Embora não toque muito fundo em valores nacionais, já que eu não vivi a Guerra Civil espanhola nem tenho a esta especial afinco, é bom verem-se encenadas peças que entram em formas de percepcionar as ocorrências algo experimentais, que tentam introduzir elementos novos – a peça é feita com várias prolepses, analepses, recursos a visões oníricas, etc – mas que seguem modelos clássicos de narração, e modelos clássicos de interpretação.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
This is England
Ontem tive a feliz casualidade de ver este filme na cinemateca e é bom ter a sensação de se descobrir uma grande obra-prima. O filme consegue impregnar-se em nós e dar-nos a conhecer o surgimento de um movimento que inicialmente não assimilamos completamente a não ser, claro, pelas referências e localizações históricas e temporais. O que acontece é que não assimilamos automaticamente a que movimento é que se refere porque o filme transporta-nos para dentro de si de uma maneira que nos faz sentir uma empatia pelas personagens que chega a ser perturbadora. Claro que grande parte desse contributo se deve aos diálogos e às fabulosas interpretações mas também a momentos de génio nos quais o filme consegue ser subversivo no sentido mais inteligente da palavra. A história decorre em Julho de 1983 e tem como protagonista um miúdo de 12 anos que atravessa uma fase complicada da sua vida, tendo recentemente perdido o pai na Guerra das Malvinas. Este pequeno rapaz de personalidade bastante acentuada e numa posição emocionalmente frágil acaba por se integrar num grupo de jovens com estilos de vida alternativos reivindicadores de uma subcultura em formação: os skinheads. As interpretações são extraordinárias e a forma como esta subcultura é apresentada faz-nos perceber que a sua génese era uma génese ligada à estética, não muito diferente de um qualquer movimento punk. Camisas com suspensórios e botas Dr Martens. A sua evolução, contudo, metamorfoseou-se em todos os valores ultra-nacionalistas que lhe são conhecidos. Esta mistura característica dos skinheads em Inglaterra - uma mistura de bullys com hooligans com xenófobos – desenvolve-se numa segunda fase do movimento, quando este deixa de ser apolítico como era inicialmente. É uma reflexão interessante mas não se fica por aí. O filme desenvolve-se de uma forma leve e ligeira, quase simpática até que gradualmente, a partir de metade do filme, começa a revelar a sua componente mais negra quando começam a surgir os sinais da evolução do movimento até concluir num final trágico que nos dá a compreender toda a dimensão dos problemas do racismo: este fundamenta-se na dor e na inveja que aqueles que sofrem sentem. É precisamente toda esta dimensão psicológica que o filme transcende, cheio de complexidade e dimensão nas suas posições que o torna genial. Algo que questiona os limites de uma identidade nacional e que dá uma lição tão dura quanto carinhosa ao seu próprio país.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
The Dixie Boys
Ontem, no Pede Salsa em SJM, esta banda de rockabilly do Porto criou um ambiente excelente.
sábado, 6 de novembro de 2010
Micronarrativas
Ontem à tarde, o Colóquio de Outono era sobre as mutações do conto nas sociedades urbanas. Tendo este mote em mente podemos encontrar reflexões diversas. Quais são as particularidades do conto nas sociedades urbanas? Estamos a centrar-nos em temáticas ou em estilos de abordagem? O urbanismo reflecte-se nos conteúdos, nas personagens com estilos de vida distintos, numa concepção alterada de realização da existência ou, por exemplo, em diferentes percepções da moral?
Ou estamos a referir-nos a formatos vanguardistas da exposição do texto (lembram-se daquela onda da poesia concreta?) . Bom, aparentemente estava a falar-se de ambos mas relacionado com uma única ideia primordial: a noção do tempo. Ou da falta dele. Por isso essa tarde era essencialmente dedicada a um género pós-moderno designado de micronarrativa. À volta do género tentou discutir-se um pouco de tudo. Contudo, a discussão sobre esse género era também perfumada pela presença da ideia da tradição oral como algo comparável à noção de micronarrativa. Por isso juntaram-se contadores de histórias com escritores de micronarrativa. Participantes da revista Minguante, o autor Rui Manuel Amaral , o autor Luís Ene e contadores de histórias como David Heathfield ou Thomas Bakk foram alguns dos presentes.
Às micronarrativas, ou às Short Stories temos referências desde os clássicos ETA Hoffmann ou Gogol assim como Jorge Luís Borges. A nível de tradição anglo-saxónica nem se fala: Kipling, Faulkner, F. Scott Fitzgerald, James Joyce, Hemingway...
O debate careceu de alguma definição teórica mais académica e científica. As micronarrativas não serão, certamente, apenas textos curtos – os autores muito aludiram ao facto de que o formato não lhe retira o brilhantismo ou a genialidade “a literatura não se mede ao metro”. Certamente e até aí ninguém o contrariou, Rui. Tal como a poesia ou o próprio humor: expor em menos tempo é sempre uma forma de recolher uma essência concentrada. Falou-se em urbanismo e em novas tecnologias e na forma como os escritores poderiam começar a compor literatura com um twitt – vou ver se começo a adicionar tais iluminados, os meus amigos no twitter não têm, por norma, o hábito de compor obras de arte pelo smartphone.
Mas, enfim, há algo de pertinente nesta mescla de referências: a noção de brevidade, a assunção de um conteúdo literário, artístico, reflexivo e criativo que pode ser condensada num género breve, numa cultura que precisa, necessariamente, de ser cada vez mais rápida. Eu não poderia ser mais solidária com as cogitações do colóquio: olhem só para o título do meu último trabalho! Agora, resta quebrar alguns pudores e algumas limitações. Um escritor não é menos escritor porque só escreve breves contos ou apenas poesia – quais são os limites da definição? É a micronarrativa poesia em prosa, já que a poesia também pode narrar e a micronarrativa nem tem necessariamente que narrar, ou pelo menos, não necessariamente pelas estruturas convencionais? Se a micronarrativa é uma forma de comunicação com os leitores que pode ser assimilada mais rapidamente, porque é que um autor não pode admitir, sem pudor de ser considerado – ó, um autor menor – que a própria concepção do texto literário se torna mais breve e mais imediata? Se a relação com a criação de um texto breve é uma relação quase hedonísta, de prazer momentâneo, de exorcização criativa fraccionária que não nos assombra constantemente num trabalho obsessivo como o é o da concepção de uma obra literária mais longa, então porque não assumir esta vertente?
Queremos sempre repensar as nossas tradições artísticas à luz das metamorfoses do meio mas há sempre esta incapacidade que é a de conseguir assumir apenas parcialmente as novas necessidades. E não é porque a relação do autor com a obra se torna mais imediata que a obra se desvaloriza e eu não ouvi ninguém no colóquio colocar as coisas nestes termos, mas infelizmente os convidados não foram capazes de ultrapassar este pudor que é o de que é possível estabelecer uma relação mais breve com a criação e que se alguém se atrever - Cruzes credo! - a não nos tratar por “escritores” por causa disso ou até mesmo a chamar de “literatura” o que eu fazemos, vamos lá ver, será que eu quero realmente saber? Pelos vistos, eles querem, afinal tem que se estar afeiçoado a rótulos tradicionais mesmo quando a ideia da concepção do género é inovar, e isso, sinceramente, parece-me paradoxal.
Mas, enfim, há algo de pertinente nesta mescla de referências: a noção de brevidade, a assunção de um conteúdo literário, artístico, reflexivo e criativo que pode ser condensada num género breve, numa cultura que precisa, necessariamente, de ser cada vez mais rápida. Eu não poderia ser mais solidária com as cogitações do colóquio: olhem só para o título do meu último trabalho! Agora, resta quebrar alguns pudores e algumas limitações. Um escritor não é menos escritor porque só escreve breves contos ou apenas poesia – quais são os limites da definição? É a micronarrativa poesia em prosa, já que a poesia também pode narrar e a micronarrativa nem tem necessariamente que narrar, ou pelo menos, não necessariamente pelas estruturas convencionais? Se a micronarrativa é uma forma de comunicação com os leitores que pode ser assimilada mais rapidamente, porque é que um autor não pode admitir, sem pudor de ser considerado – ó, um autor menor – que a própria concepção do texto literário se torna mais breve e mais imediata? Se a relação com a criação de um texto breve é uma relação quase hedonísta, de prazer momentâneo, de exorcização criativa fraccionária que não nos assombra constantemente num trabalho obsessivo como o é o da concepção de uma obra literária mais longa, então porque não assumir esta vertente?
Queremos sempre repensar as nossas tradições artísticas à luz das metamorfoses do meio mas há sempre esta incapacidade que é a de conseguir assumir apenas parcialmente as novas necessidades. E não é porque a relação do autor com a obra se torna mais imediata que a obra se desvaloriza e eu não ouvi ninguém no colóquio colocar as coisas nestes termos, mas infelizmente os convidados não foram capazes de ultrapassar este pudor que é o de que é possível estabelecer uma relação mais breve com a criação e que se alguém se atrever - Cruzes credo! - a não nos tratar por “escritores” por causa disso ou até mesmo a chamar de “literatura” o que eu fazemos, vamos lá ver, será que eu quero realmente saber? Pelos vistos, eles querem, afinal tem que se estar afeiçoado a rótulos tradicionais mesmo quando a ideia da concepção do género é inovar, e isso, sinceramente, parece-me paradoxal.
A micronarrativa não parece ser, contudo, um género que se fecha na sua definição pelo tamanho. Se a quisermos definir por oposição à ideia de metarrativa de Lyotard, quando reformula a condição do pós-modernismo. No dicionário de termos literários podemos ler: Para uma doença, a Ciência dirá que possui todas as respostas conhecidas (totalidade a que chamamos metanarrativa); se uma comunidade local possuir uma resposta simples para essa doença (unidade a que chamamos micronarrativa), não estaremos a pressupor que a verdade foi definitivamente alcançada. Lyotard defende a “incredulidade” nas metanarrativas (humanismo, iluminismo, modernismo, etc.,) como o fundamento do pensamento pós-moderno. (Jean-François Lyotard: A Condição Pós-Moderna (2ª ed., Lisboa, 1989); Id.: O Pós-Moderno Explicado às Crianças (Lisboa, 1987)).
Assim, na minha perspectiva, o valor real da micronarrativa reside no descontrolo do conhecimento, nas percepções fragmentárias do mundo, na continuidade da diversidade dos jogos de linguagem canalizadas num sentido oposto ao das metanarrativas, de acção convergida. A micronarrativa abre caminho ao pós-estruturalismo e à análise do caos. Gostaria de ter ouvido mais sobre isto e menos de "eu escrevo pouco mas... mas BEM, ouviram? Não sejam ignorantes, sou tão escritor como os outros".
Com esta minha posta de pescada sobre do rigor académico eu não defendo a necessidade de se conversar num colóquio como quem lê um ensaio da Helena Buescu mas, por outro lado, se o estilo descontraído de um orador ganha todo o meu respeito, a absoluta falta de rigor na escolha dos termos (nós não queremos pôr “palha” nos nossos textos) também faz com que o meu respeito lá se vá para debaixo de alguma cadeira sonolenta de auditório.
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