sábado, 25 de dezembro de 2010

E o ouro vai para...

Lista pessoal de 2010

FILME



LIVROS: melhor edição traduzida



LIVROS: poesia



MÚSICA: 








domingo, 19 de dezembro de 2010

Prémio Literário José Luís Peixoto 2010



Escrevo desde que consigo escrever, desde o momento em que escrevi uma história num caderno quadriculado, desenhei-lhe uma capa e coloquei na biblioteca da turma que ficava ao fundo da sala, ao lado dos contos do Hans Christian Andersen e do livro que contava a história dos três pastorinhos de Fátima. Não acredito que toda a criação é inata, mas a predisposição passará certamente como necessidade e é espontânea em algum momento. A regularidade dessa criação surgiu-me num contexto de maior capacidade de apreciação literária. Há uma dose de auto-valorização que surge quando pensamos atravessar crises pretensiosamente existencialistas, isso e o contacto com certos grupos de pessoas que me fizeram ler certos livros teve um peso bastante relevante. Se há uma vontade narcísica na criação? Claro que sim, basta conhecer pessoalmente alguns artistas, percebe-se logo isso. Saramago numa entrevista pouco antes de falecer dizia que o que o tinha feito escrever fora essencialmente a inveja. Será que isso realmente interessa, no final de tudo, o que raio motiva um bom artista a criar, desde que crie? Eu não acho.

Quando tinha quinze anos fiquei certo dia surpreendida por estar a ouvir um amigo recitar poemas d' “Horto de incêndio” de Al Berto e subitamente eu ver-me a repetir verso a verso os vários poemas que ele lia. Porque a poesia é a palavra musicada e a música é também, mas não exclusivamente, poesia espetacularizada, encenada, contextualizada com outros ornamentos mas, antes de tudo, grande parte da música que ouvimos é poesia e quando consigo cantar não sei quantas músicas de cor, fará todo o sentido saber recitar poemas, no seu todo ou parcialmente, devido à repetição da leitura. Porque a poesia para mim recebe o mesmo tratamento de uma música que ouço vezes sem conta porque me agrada, porque não se esgota na sua repetição, porque há sempre sensações novas. A diferença é que a poesia se restringe ao campo intrinsecamente linguístico (se é que isso seja alguma restrição, o que não me parece!). Nessa altura, para além do Horto de Incêndio, outro livro que me passava pelos olhos repetidamente era “A criança em ruínas” do José Luís Peixoto. Eu conhecia coisas mais clássicas, que pessoa interessada em poesia não começa por Fernando Pessoa? Não dá uma vista de olhos em Mário de Cesarinny, não lê Baudelaire ou Rimbaud? Ok, talvez nem toda a gente tenha o mesmo percurso, dependerá das tendências, como sempre tive este fascínio pelo lúgubre ou corrosivo seria mais natural começar com esses autores, mas penso que seja um caminho bastante clássico.

Entretanto, depois de me pôr a escrever armada em Rimbaud feminina sem tendências homossexuais nem particular apetência para as drogas (não, charros não contam), o caminho seguinte foi o da tentativa da publicação que hoje em dia é bem mais facilitado com a internet e os blogs. É sempre interessante juntar-se novas tecnologias a formas tão clássicas de expressão artística como a poesia, porque associamos a poesia a uma forma primitiva e secular de expressão, e é de facto a forma mais ancestral de entretenimento artístico e dificilmente se extinguirá agora, lamento ter que vos informar disto a vocês, defensores ferrenhos de blockbusters com estética mainstream. O próximo passo, depois de o da publicação virtual que deveria ser suficiente para uma geração tão tecnológica é o da tradicional edição em papel, da qual ninguém parece conseguir prescindir por mais subversiva que seja a sua visão em relação a isto. O resultado muitas vezes são editoras como a mítica Quasi, que durante tanto tempo foi a editora de referência na boca dos grupos de jovens escritores e leitores mas que, como o prestígio não paga contas, acabou por falir. Lamentavelmente.

O meu segundo livro foi editado por uma derivante da Quasi, a Atelier. E foi editado devido a prémios literários. Porque este post é essencialmente sobre Prémios Literários, embora ainda não tenhamos lá chegado e por esta altura já ninguém esteja a ler nada disto. Seja como for, os Prémios Literários são um incentivo importante, uma forma de confirmar que alguém nos lê e, eventualmente, confirmar que alguém gosta do que lê. Este tipo de actividade artística tem que ser assim mantido por uma elite cultural defensora de valores artísticos, por muito que esta designação possa soar pouco bonita ou agradável para pessoas que não gostam da palavra “elite” nem “intelectual” ou até para os mais radicais que não gostam da expressão “valores artísticos”. O gosto do júri é tão questionável como o gosto de outra pessoa qualquer. No entanto, considero os prémios literários de extrema importância para o incentivo da produção literária entre jovens escritores. O que é curioso é que, de uma maneira geral, os prémios impõem valores artísticos bastante ligados a uma estética que é mais ou menos vanguardista ao mesmo tempo que já é completamente vigente. Refiro-me aos trabalhos poéticos altamente relacionadas com correntes pós-surrealistas e neo-simbolistas baseadas nos grandes pilares da poesia portuguesa contemporânea (Al Berto, Herberto Helder, Nuno Júdice, António Ramos Rosa…). São os meus poetas de referência e são absolutamente geniais e apenas ligeiramente comparáveis a qualquer produção poética internacional, se me permitem o chauvinismo e o enveredar por ideologias clichés e melosas que nos designam por “país de poetas”. É mesmo verdade. Agora, estes senhores são todos poetas marcantes do século XX português e são totalmente contemporâneos na sua acepção mais precisa, concordo.

No entanto, a viragem tem de se começar a fazer. Todos os estilos artísticos oferecerem uma compreensível resistência ligada à definição de qualidade e de renovação. Porque na arte, a linha que separa o erro da inovação é por vezes tão ténue e é por vezes necessária tanta perspicácia, tanto entendimento para se precisar uma distinção. Picasso teve que provar que sabia desenhar flores em formato de representação pictórica da realidade antes de se pôr para lá a desproporcionar as formas de uma maneira totalmente voluntária e os júris de um prémio literário ou simplesmente as pessoas que analisam poesia têm que compreender se aquele escritor está enveredar por ali porque não tem a mínima noção do que está a fazer ou se pode perfeitamente manter-se no estilo vigente por conhecê-lo perfeitamente e dominá-lo, mas opta voluntariamente por não o fazer.

 Sim, isto deveria ser uma reflexão de filosofia da arte com muito mais profundidade do que um post colocado num blog num início de tarde sem muito para fazer, mas o que eu acho é que os próprios prémios literários em Portugal estão a estabelecer expectativas em relação ao que é premiado. Por exemplo, eu não concorreria com um trabalho como o Fast-culture a prémio literário nenhum que não o Prémio Literário José Luís Peixoto. Isto porque eu sabia que seria o único prémio a apostar nesta postura corrosiva face à produção poética e sem dúvida que José Mário Silva e José Luís Peixoto são os júris mais indicados. Lembro que a página do Diário de Notícias, DN Jovem onde toda esta jovem malta que escreve também participava, onde conheci vários colegas das letras com quem ainda hoje tenho contacto, era um sítio de fabulosas descobertas literárias. O DN Jovem acabou, a Quasi faliu. Temos que fazer alguma coisa! E o PLJLP parece ter essa vivacidade que é preciso ressuscitar, de alguma forma.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

Dirty dirty

Há músicas assim que de tão histericamente más fazem com que eu não consiga não gostar... sim, é mais ou menos este sentimento enviesado. Acontece-me com a Kesha assim como com a Lady G e por aí adiante (já se está a perceber o nível)...



Gosto do início no carro e aquela parte da música em que ele diz "tell the world what I believe", é a única parte da música em que não se fala de fotos porcas e realmente dá ali aquele toque poético e profundo completamente despropositado que torna esta música tão fabulosa.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

The Walking Dead

Compreendo perfeitamente o dilema, Lori. Não era exactamente do que estava à espera numa série de zombies... mas também serve. Só faltava mais um bocadinho de escola de actor. Ahh e uns  jump scares uma vez por outra não faziam mal, afinal é uma série de zombies e tal... mais dilema também era bom, e mais banda sonora, definitivamente mais banda sonora... :/

sábado, 20 de novembro de 2010

Ay, Carmela pelo Teatro das Beiras

Tentando actualizar o blog com frequência por necessidades de prática da expressão escrita – tenho que optar por este tipo de exercícios de aquecimento - há semanas em que lá me ponho ocupada a fazer outras coisas e não vem muito aqui parar. É por isso que apesar de ter ido ver esta peça há uma semana atrás só agora me digno a escrever sobre o assunto. Este mês foi a segunda vez que o teatro circo (theatro circo?) apresentou algo relacionado com teatro espanhol, ainda mais teatro alegórico que recorre à técnica brechtiana de falar de uma outra época para retratar o presente quando o presente não pode ser retratado devido a algum regime totalitário. A primeira foi "La casa de Bernarda Alba" de Frederico Garcia Lorca e a da semana passada foi "Ay, Carmela", uma peça de José Sanchis Sinisterra. A diferença entre estas duas é que a segunda tem um registo muito mais humorístico.



"“Ay, Carmela!”, é um texto teatral que ganhou foros de referência obrigatória quando tratamos de abordar a criação dramatúrgica dos finais do Séc. XX.
Situando a acção num contexto de confronto de carácter político e ideológico, num momento particularmente difícil para a história da humanidade, “Ay, Carmela!”, propõe-nos uma reflexão sobre questões e temas absolutamente intemporais.
A condição da arte e dos seus protagonistas perante as circunstâncias envolventes do poder. A ética dos valores não discricionários, a cultura democrática das sociedades contemporâneas, os movimentos sociais têm em “Ay, Carmela!”, um desafio à memória como exercício de fecunda aprendizagem.
Perdidos numa noite de nevoeiro e fome, dois anónimos “artistas de variedades”, caem em território “inimigo”. Aí, em troca da “liberdade”, são obrigados a apresentar o seu espectáculo às tropas vencedoras e aos prisioneiros vencidos. Que fazer à representação para “sobreviver” em tão díspar plateia? Como resistir ou ceder sem abalar a dignidade?"

Esta peça encenada por Gil Salgueiro Nave e interpretada por Fernando Landeira e Sónia Botelho foi interessante sem perder a sua dose de entertaining, que é o que muitas vezes faz falta ao teatro. No entanto, pegando numa peça como esta, difícil era conseguir fazer com que os dois únicos actores em palco se mantivessem com energia até ao fim. Felizmente a energia foi gradativa e se ao início não consegui interiorizar completamente a personagem masculina, quando ele entra num monólogo com um suposto director de luzes para o seu espectáculo de variedades, o actor revelou toda a sua qualidade cénica, envolvente e empática. Embora não toque muito fundo em valores nacionais, já que eu não vivi a Guerra Civil espanhola nem tenho a esta especial afinco, é bom verem-se encenadas peças que entram em formas de percepcionar as ocorrências algo experimentais, que tentam introduzir elementos novos – a peça é feita com várias prolepses, analepses, recursos a visões oníricas, etc – mas que seguem modelos clássicos de narração, e modelos clássicos de interpretação.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

This is England


Ontem tive a feliz casualidade de ver este filme na cinemateca e é bom ter a sensação de se descobrir uma grande obra-prima. O filme consegue impregnar-se em nós e dar-nos a conhecer o surgimento de um movimento que inicialmente não assimilamos completamente a não ser, claro, pelas referências e localizações históricas e temporais. O que acontece é que não assimilamos automaticamente a que movimento é que se refere porque o filme transporta-nos para dentro de si de uma maneira que nos faz sentir uma empatia pelas personagens que chega a ser perturbadora. Claro que grande parte desse contributo se deve aos diálogos e às fabulosas interpretações mas também a momentos de génio nos quais o filme consegue ser subversivo no sentido mais inteligente da palavra. A história decorre em Julho de 1983 e tem como protagonista um miúdo de 12 anos que atravessa uma fase complicada da sua vida, tendo recentemente perdido o pai na Guerra das Malvinas. Este pequeno rapaz de personalidade bastante acentuada e numa posição emocionalmente frágil acaba por se integrar num grupo de jovens com estilos de vida alternativos reivindicadores de uma subcultura em formação: os skinheads. As interpretações são extraordinárias e a forma como esta subcultura é apresentada faz-nos perceber que a sua génese era uma génese ligada à estética, não muito diferente de um qualquer movimento punk. Camisas com suspensórios e botas Dr Martens. A sua evolução, contudo, metamorfoseou-se em todos os valores ultra-nacionalistas que lhe são conhecidos. Esta mistura característica dos skinheads em Inglaterra - uma mistura de bullys com hooligans com xenófobos – desenvolve-se numa segunda fase do movimento, quando este deixa de ser apolítico como era inicialmente. É uma reflexão interessante mas não se fica por aí. O filme desenvolve-se de uma forma leve e ligeira, quase simpática até que gradualmente, a partir de metade do filme, começa a revelar a sua componente mais negra quando começam a surgir os sinais da evolução do movimento até concluir num final trágico que nos dá a compreender toda a dimensão dos problemas do racismo: este fundamenta-se na dor e na inveja que aqueles que sofrem sentem. É precisamente toda esta dimensão psicológica que o filme transcende, cheio de complexidade e dimensão nas suas posições que o torna genial. Algo que questiona os limites de uma identidade nacional e que dá uma lição tão dura quanto carinhosa ao seu próprio país.  

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

The Dixie Boys

Ontem, no Pede Salsa em SJM, esta banda de rockabilly do Porto criou um ambiente excelente. 


sábado, 6 de novembro de 2010

Micronarrativas


Ontem à tarde, o Colóquio de Outono era sobre as mutações do conto nas sociedades urbanas. Tendo este mote em mente podemos encontrar reflexões diversas. Quais são as particularidades do conto nas sociedades urbanas? Estamos a centrar-nos em temáticas ou em estilos de abordagem? O urbanismo reflecte-se nos conteúdos, nas personagens com estilos de vida distintos, numa concepção alterada de realização da existência ou, por exemplo, em diferentes percepções da moral?

Ou estamos a referir-nos a formatos vanguardistas da exposição do texto (lembram-se daquela onda da poesia concreta?) . Bom, aparentemente estava a falar-se de ambos mas relacionado com uma única ideia primordial: a noção do tempo. Ou da falta dele. Por isso essa tarde era essencialmente dedicada a um género pós-moderno designado de micronarrativa. À volta do género tentou discutir-se um pouco de tudo. Contudo, a discussão sobre esse género era também perfumada pela presença da ideia da tradição oral como algo comparável à noção de micronarrativa. Por isso juntaram-se contadores de histórias com escritores de micronarrativa. Participantes da revista Minguante, o autor Rui Manuel Amaral , o autor Luís Ene e contadores de histórias como David Heathfield ou Thomas Bakk foram alguns dos presentes.

Às micronarrativas, ou às Short Stories temos referências desde os clássicos ETA Hoffmann ou Gogol assim como Jorge Luís Borges. A nível de tradição anglo-saxónica nem se fala: Kipling, Faulkner, F. Scott Fitzgerald, James Joyce, Hemingway...
 O debate careceu de alguma definição teórica mais académica e científica. As micronarrativas não serão, certamente, apenas textos curtos – os autores muito aludiram ao facto de que o formato não lhe retira o brilhantismo ou a genialidade “a literatura não se mede ao metro”. Certamente e até aí ninguém o contrariou, Rui. Tal como a poesia ou o próprio humor: expor em menos tempo é sempre uma forma de recolher uma essência concentrada. Falou-se em urbanismo e em novas tecnologias e na forma como os escritores poderiam começar a compor literatura com um twitt – vou ver se começo a adicionar tais iluminados, os meus amigos no twitter não têm, por norma, o hábito de compor obras de arte pelo smartphone.

Mas, enfim, há algo de pertinente nesta mescla de referências: a noção de brevidade, a assunção de um conteúdo literário, artístico, reflexivo e criativo que pode ser condensada num género breve, numa cultura que precisa, necessariamente, de ser cada vez mais rápida. Eu não poderia ser mais solidária com as cogitações do colóquio: olhem só para o título do meu último trabalho! Agora, resta quebrar alguns pudores e algumas limitações. Um escritor não é menos escritor porque só escreve breves contos ou apenas poesia – quais são os limites da definição? É a micronarrativa poesia em prosa, já que a poesia também pode narrar e a micronarrativa nem tem necessariamente que narrar, ou pelo menos, não necessariamente pelas estruturas convencionais? Se a micronarrativa é uma forma de comunicação com os leitores que pode ser assimilada mais rapidamente, porque é que um autor não pode admitir, sem pudor de ser considerado – ó, um autor menor – que a própria concepção do texto literário se torna mais breve e mais imediata? Se a relação com a criação de um texto breve é uma relação quase hedonísta, de prazer momentâneo, de exorcização criativa fraccionária que não nos assombra constantemente num trabalho obsessivo como o é o da concepção de uma obra literária mais longa, então porque não assumir esta vertente?

Queremos sempre repensar as nossas tradições artísticas à luz das metamorfoses do meio mas há sempre esta incapacidade que é a de conseguir assumir apenas parcialmente as novas necessidades. E não é porque a relação do autor com a obra se torna mais imediata que a obra se desvaloriza e eu não ouvi ninguém no colóquio colocar as coisas nestes termos, mas infelizmente os convidados não foram capazes de ultrapassar este pudor que é o de que é possível estabelecer uma relação mais breve com a criação e que se alguém se atrever - Cruzes credo! - a não nos tratar por “escritores” por causa disso ou até mesmo a chamar de “literatura” o que eu fazemos, vamos lá ver, será que eu quero realmente saber? Pelos vistos, eles querem, afinal tem que se estar afeiçoado a rótulos tradicionais mesmo quando a ideia da concepção do género é inovar, e isso, sinceramente, parece-me paradoxal.

A micronarrativa não parece ser, contudo, um género que se fecha na sua definição pelo tamanho. Se a quisermos definir por oposição à ideia de metarrativa de Lyotard, quando reformula a condição do pós-modernismo. No dicionário de termos literários podemos ler: Para uma doença, a Ciência dirá que possui todas as respostas conhecidas (totalidade a que chamamos metanarrativa); se uma comunidade local possuir uma resposta simples para essa doença (unidade a que chamamos micronarrativa), não estaremos a pressupor que a verdade foi definitivamente alcançada. Lyotard defende a “incredulidade” nas metanarrativas (humanismo, iluminismo, modernismo, etc.,) como o fundamento do pensamento pós-moderno. (Jean-François Lyotard: A Condição Pós-Moderna (2ª ed., Lisboa, 1989); Id.: O Pós-Moderno Explicado às Crianças (Lisboa, 1987)).

Assim, na minha perspectiva, o valor real da micronarrativa reside no descontrolo do conhecimento, nas percepções fragmentárias do mundo, na continuidade da diversidade dos jogos de linguagem canalizadas num sentido oposto ao das metanarrativas, de acção convergida. A micronarrativa abre caminho ao pós-estruturalismo e à análise do caos. Gostaria de ter ouvido mais sobre isto e menos de "eu escrevo pouco mas... mas BEM, ouviram? Não sejam ignorantes, sou tão escritor como os outros".

Com esta minha posta de pescada sobre do rigor académico eu não defendo a necessidade de se conversar num colóquio como quem lê um ensaio da Helena Buescu mas, por outro lado, se o estilo descontraído de um orador ganha todo o meu respeito, a absoluta falta de rigor na escolha dos termos (nós não queremos pôr “palha” nos nossos textos) também faz com que o meu respeito lá se vá para debaixo de alguma cadeira sonolenta de auditório.

domingo, 31 de outubro de 2010

The Walking Dead

E para este Halloween, mal posso esperar!

Expo Shanghai chega ao fim

Pavilhão português vence prémio de design na Expo de Xangai. De entre os 42 que constituem a categoria de edifícios alugados. Dos construídos de raiz, os que ganharam foram o do Reino Unido e o da Finlândia. Embora de um ponto de vista arquitectónico exterior estes dois pavilhões fossem interessantes o que é certo é que, especialmente o do Reino Unido, foi uma grande frustração. Toda a importância do pavilhão advinha do facto de ser uma das arquitecturas nocturnas mais impressionantes e de todas as vezes que tentei vê-lo à noite as luzes estavam desligadas. Desconfio eventualmente que tenha sido por uma questão de falta de recursos mas, sinceramente, não se pode atribuir tanto relevo a um pavilhão que não pôde ser visto durante a noite quando a sua principal atracção era precisamente essa. Destes modelos de pavilhões construídos de raiz, o que me agradou mais foi o da Dinamarca que primou pela originalidade das visitas de bicicleta, chamando a atenção para esse aspecto ecológico - já que era esse o tema da expo. Mas de uma maneira geral, em termos de interior, o meu pavilhão favorito foi o da Espanha, que tive oportunidade de visitar pela sorte de ter caído nas boas graças das meninas espanholas que vigiavam a entrada VIP, porque de outra forma teria sido impossível. Este era um pavilhão com marcação cuja entrada implicava, mesmo com marcação, uma espera de 3 horas. Foi o principal problema da Expo Shanghai, o excesso de pessoas, ainda que na expo de maiores dimensões de sempre. Parece que ainda consigo sentir as dores nas pernas das 5 horas de espera para entrar no pavilhão do Japão, embora, felizmente, tenha sido o único pavilhão no qual esperei para entrar. Mas o pavilhão de Espanha estava bem construído em termos de transmissão da informação histórica, com os ecrãs a voarem por todo o espaço a cronometrarem todos eventos importantes da história de Espanha. Havia também uma actuação de dança castelhana ao vivo e, finalmente, o bebé gigante attention freak que simulava com realismo movimentos humanos – o que era assustador. Se numa perspectiva inicial o bebé gigante me parecia absurdo e despropositado e mero chamariz, o que é certo é que no final foi das melhores experiências de pavilhão que tive. A nível de exterior, o pavilhão da China e o seu incumprimento estabelecido pelas associações internacionais de não ultrapassar numa escala mais do que duplicada os pavilhões restantes, fez toda a diferença. Mas compreende-se. É a China! Há todos os dias vários milhões de pessoas a visitar a expo e todos os vários milhões anseiam entrar no pavilhão da sua naçãozinha querida ...e não dá! Então, é realmente preferível construir um pavilhão que se valha pelo seu exterior. E isso, inquestionavelmente, aconteceu.
O pavilhão de Portugal tinha uma estrutura de cortiça interessante, em certa medida semelhante ao do Canadá - também um dos pavilhões com mais “hype” da expo. Contudo, devo dizer que depois de visitado ambos, o de Portugal me pareceu mais interessante a nível de conteúdo interior. O do Canadá só tinha recursos a projecções multimédia. O de Portugal tinha introdução histórica, apresentação da nossa vanguarda ecológica e depois muitos produtos para se comprar, desde azeite a uma imitação de pastéis de nata (porque a receita real não pode sair destas fronteiras, está claro). Aqui fica um top 10 dos meus pavilhões favoritos – apesar de que, como é óbvio, só tive oportunidade de visitar alguns e só os visitei por me ter escapado pela porta VIP, de uma maneira ou de outra (haveria aqui muitas histórias para contar a esse respeito!).

 10 - Austrália/Rússia

 Exacto, não me conseguia decidir... deveria fazer um Top11... mas não faz mal. São os dois grandiosos e é essencialmente esta arquitectura exterior que os torna tão majestosos. 

9 - Dinamarca
Como já disse, é um dos mais originais. 

8 - França 
Gostei bastante do conteúdo do pavilhão. Não se focaram muito na temática ambiental da expo mas conseguiram transmitir todo o charme dos vários aspectos culturais que dão nome à França.

7 - Coreia do Sul 
O pavilhão da Coréia do Sul tinha formas geométricas irregulares revestidas de Hangul colorido por todo o lado. Achei interessante esta opção de enveredar pelo lado popish do país.

6 - Roménia
Muito gira a maçã romena. 

5 - Arábia Saudita 
Gigante e impressionante!

4 - Portugal 
Por uma questão patriótica, claramente.


3 - Macau
Em Macau entrávamos pela porta VIP com passaporte português! E o coelho de Macau foi uma das melhores experiências de expo que tive. O pavilhão é todo ele uma história em busca do coelho perdido, no qual se atravessa a história de Macau desde a ocupação portuguesa e dos missionários ao gigantesco antro de casinos que é hoje. Original e bem pensado!

2 - Espanha
Já falei deste pavilhão. Um dos melhores, sem dúvida. Um dos que teve mais visitas também.

1 - China 

Não há muito a dizer sobre isto! É enorme, é impressionante, é lindo. Reminiscências das arquitecturas tradicionais chinesas numa mensagem megalómana muito clara. A sensação de estar debaixo disto é impossível de transcrever. 

Claro que, no fundo, o melhor pavilhão foi este:

Mesmo ao lado do do Irão!

Mas em relação às 5 horas de espera para entrar no pavilhão do Japão... Está certo que vemos um robot que sabe tocar violino e uma máquina que transforma água do esgoto em água limpa e ainda, se tivermos muita sorte, podemos experimentar a ultra casa-de-banho que nos faz um TAC à cabeça ao mesmo tempo que expelimos as nossas necessidades, está certo, é muito bom, mas o pavilhão do Japão estava altamente mal concebido em termos logísticos porque fazia com que as pessoas tivessem a obrigatoriedade de estar um tempo pré-definido em cada espaço do pavilhão, em vez de permitir circular livremente. Daí o enorme tráfego do pavilhão. Portanto, não posso incluí-lo.

E agora, só mais uma vez por uma questão de patriotismo, o melhor vídeo da expo:

sábado, 30 de outubro de 2010

Uma Viagem... ao Japão

Estava com intenções de comprar este 



mas acabei por não fazê-lo. Sou uma grande fã do Gonçalo M. Tavares, adoro todos os livros de capa preta, sobretudo do "Jerusalém", são sem dúvida geniais. A densidade psicológica das personagens e as narrativas sombrias que nos levam para a direcção de um certo determinismo que é, afinal, fictício, é brutal. Tal como em "A Máquina de Joseph Walser", "Aprender a Rezar na Era da Técnica" ou "Um Homem: Klaus Klump" que parece perpetuar um descrédito na humanidade, têm este lado de romances negros preenchidos de complexidade psicológica e ambientes distantes mas nostálgicos e frios, tão frios como os meandros das mentes das personagens. Este é tipo de livros que prefiro. Depois o GMT gosta de escrever coisas que são, nas palavras dele, mais lúdicas - pelo menos foi o que me disse na feira do livro do Porto há uns anos - às quais tem dado nomes de escritores "O senhor Valery", "O senhor Calvino", "O senhor Breton", uma série de senhores que compõem o Bairro. Estes livros nunca me cativaram tanto. A peça de teatro A Colher de Samuel Beckett editado pela Campo das Letras em 2003 também é interessante e gostaria de a ver interpretada. O livro de poesia 1 editado pela Relógio d'Água em 2004 também é fabuloso, trazendo uma lufada de ar fresco à poesia contemporânea portuguesa. Agora sobre esta Viagem à Índia não sei o que pensar pois não me dei ao trabalho de o ler, de facto (só folhear). A partir daí não tenho qualquer legitimidade para falar (ou escrever) sobre o assunto, mas a realidade é que esta epopeia em formato de reinterpretação dos Lusíadas é-me bastante desconfortável. Eu sei que o autor gosta de procurar a inovação estilística e causar algum desconforto mas será um desconforto de sentido ou de moral, não de narrativa, aqui as coisas surgem fragmentárias e parece que, de facto, o livro se resume a um exercício estilístico e não a uma essência genuína que nos faz levar umas bofetadas certeiras - porque é esta a metáfora mais apropriada para os desfechos geniais dos livros de ficção de GMT. Então, decidi comprar a mais recente reedição de um clássico japonês
"Silêncio" de Shusaku Endo, reeditado em Setembro pela Dom Quixote. Shusaku Endo e as suas meditações teológicas e os seus retratos fascinantes dos missionários do século XVI. Sem dúvida uma excelente aposta.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Random


Humm.. eu sei que quando coloco um post sobre Bernardo Santareno até dá a sensação que a seguir irei reflectir sobre o realismo da Nouvelle Vague ou sobre as noções metafísicas no cinema de Andrei Tarkovsky ou o humanismo em Stendhal. Mas, a sério, não necessariamente. O que acontece é que o meu gosto é algo pluralista e se no post a seguir me puser a discorrer sobre blockbusters ou exploitation ou até filmes de luta livre mexicana (El Santo?) eu espero que não fiquem chocados. E eu gosto muito de Stendhal mas provavelmente não o vou ler no original francês!

Porque apesar de me mover nos círculos académicos da literatura, não sou uma leitora de francês (OMD, o choque!). Mas sou dessa nova geração da imagem e do entretenimento que só é fluente a inglês e tem ideias pedagógicas pouco ortodoxas que envolvem muitas vezes métodos audiovisuais (completamente falíveis porque têm sempre, necessariamente, falhas técnicas, porque os computadores é tudo muito bonito mas depois é nisso que dá). Não, não sou só fluente em inglês, eu já traduzi parte dos Anacletos de Confúcio - seria difícil impressionar mais mas é para estes pequenos apontamentos engraçados que se estuda chinês - mas não é a isso que quero chegar. A ideia é falar de despretensão e de abertura para uma realidade pós-moderna da concepção de arte assumindo o seu carácter lúdico, porque o que é lúdico não tem que ser necessariamente obtuso. Temos que assumir a entropia da nossa era e perceber que a nossa realidade artística é polimorfa, íntima, subjectiva. Se somos uma nova geração, temos que parar de copiar modelos de outras mesmo em suportes tidos como mais clássicos ou nobres como o são o da poesia ou do teatro. É difícil ter o conforto de ser demasiado intelectual num meio provinciano e aparentemente provinciano num meio intelectual mas é precisamente nessa desconexão e não-pertença a lugar nenhum que começamos a criar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sentido de voto para a próxima semana

O PSD adia o sentido de voto para a semana, algo que já tem repercussões a nível dos mercados financeiros internacionais. Porque é que o PSD decide agora descartar-se das responsabilidades neste orçamento? Porque prevê a sua tomada do poder em breve, uma vez que se acredita generalizadamente que ocorrerão eleições antecipadas por um motivo ou outro. Para mais, o PSD pega em aspectos que condicionam os compromissos orçamentais para 2011 e alega que as posições do governo são irredutibilidades. Não se compreende porque é o que o PSD não recorre à habitual hipocrisia da abstenção que é uma forma de viabilizar meio de lado e não totalmente de frente de maneira a ter depois uma escapatória argumentativa por prevenção em futuras situações de poder. Chumbado o orçamento de estado, as probabilidades de chegar ao poder com mais rapidez aumentam, já que começar tudo do início para uma nova proposta não deixa de ser um processo lento e descontínuo que não agradará de qualquer forma aos mercados financeiros.  Depois teremos ou governos provisórios ou governos de salvação até eleições legítimas. Mas é para isto que se constituem os partidos em Portugal, para uma luta desenfreada por poder, sem nenhum construtivismo?  Se só se pode governar com maiorias absolutas, não valia a pena haver eleições.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Anaquim

A onda revivalista e tradicionalista das bandas portuguesas ultimamente é bastante agradável. Sei que não é propriamente “de agora” – se pensarmos em Madredeus, por exemplo – mas nos últimos anos tem surgido com mais vitalidade. Gosto deste estilo embora o meu músico português favorito  seja o Manel Cruz (Ornatos Violeta, Pluto, Supernada, Foge Foge Bandido) e ele não tem muito a ver com esta tendência.  Mas agrada-me ver assim identidade nacional, passado e modernidade ao mesmo tempo. Porque será isto? Provavelmente porque qualquer perspectiva de futuro parece assustadora para esta geração. Parecemos estar no limite de alguma coisa, perto de um colapso e mete medo olhar para fora das raízes e para outro sítio menos confortável que o passado. Ou isso ou então porque apenas soa bem, não sei. Também de realçar o ambiente esquerdista destas bandas. Esta onda que começou com Amália Hoje e Deolinda passando por bandas como Dead Combo ou A Naifa. Mariza, claro, também representante desta tendência mas não em formato de banda no seu sentido mais pop. A última banda que conheci deste género, Anaquim, tive oportunidade de ver ao vivo na semana passada na recepção ao caloiro em Guimarães. A Diana tinha-me resumido o estilo deles por “pimba alternativo” e este rótulo mereceu todo o meu interesse. Pimba alternativo. Compreende-se quando se ouve. Os ritmos típicos com temas criativos e letras sarcásticas mas divertidas. Ok, em alguns momentos a voz do vocalista José Rebola tem um quê de Zeca Afonso e não admira já que no concerto não perdeu a oportunidade de entoar “A morte saiu à rua ”. O sintetizador que fazia a voz da Ana Bacalhau era tipo...? Não sei como é que fazem aquilo. Enfim, uns temas mais românticos, outros mais satíricos com a tal batida típica do folclore tradicional e da música popular. Um conceito com pernas para andar, resta saber se se vão afastar um bocadinho da batida para dar continuidade à criatividade. É sempre difícil apreciar bandas em festividades académicas porque volta a meia ter que se desviar da euforia das pessoas – por "pessoas" entendamos "bêbados" (e maioritariamente na puberdade) – é um bocado incómodo. Mas, enfim, valeu bem mais a pena do que o Pedro Abrunhosa e a sua megalomania revolucionária ou lá o que é o que homem estava a tentar fazer quando nos pedia para sermos contra a corrupção (?). Aqui fica então o videoclip do primeiro single dos Anaquim, “As vidas dos outros”:



sábado, 23 de outubro de 2010

O Crime de Aldeia Velha

“O crime de Aldeia Velha” é uma peça de teatro de Bernardo Santareno, hoje um nome pouco sonante fora  do meio teatral, mas um importante dramaturgo português no séc. XX. A maioria das suas peças levadas a cabo sob ditadura foram censuradas. Uma das mais famosas será eventualmente A Promessa, representada pela primeira vez a 23 de Novembro de 1957 no Teatro Sá da Bandeira, no Porto e reposta a 11 de Maio de 1967 no Teatro Monumental de Lisboa. Uma obra que segue a tendência de outros autores cuja corrente artística neo-realista era fortemente apoiada por ideais políticos de esquerda, tais como Frederico Garcia Lorca ou Manuel da Fonseca. A Promessa é uma obra também relacionada com a experiência do autor no meio piscatório. A peça foi adaptada a cinema por António de Macedo em 1973.

Antes desta adaptação, contudo, já tinha sido feita outra adaptação a cinema de uma das suas peças. Em 1964 Manuel Guimarães fazia a adaptação de “O Crime de Aldeia Velha” para o grande ecrã. Nesta obra, tal como em “A Promessa” o paganismo mesclado com cultura religiosa surge como temática central e as personagens, assim como os seus actos são analisados à luz destes preceitos. É possível estabelecer uma correlação entre as suas peças e a tragédia clássica, na sua forma de reinventar episódios mitológicos analisados à luz de motivações psicológicas e sociais.
Se em “A promessa”, os santos eram encarados como deuses pagãos relacionados com a mitologia marítima, já em “O crime de Aldeia Velha” a correlação mitológica é mais complexa e centra-se não na protecção ou salvação mas na expurgação do mal.




O ponto de partida para a sinopse baseia-se na personagem da Joana interpretada pela belíssima Bárbara Laage. Joana é uma jovem atraente residente numa aldeia do interior e a sua sensualidade estimula desejos e invejas. Destes desejos e destas invejas dão-se consequências maiores, o que leva grande parte da aldeia a acreditar que Joana é, no fundo, uma feiticeira possuída pela Coisa Ruim, o Belzebu, o Senhor das Trevas ou, mais corriqueiramente, pelo Diabo. Apesar de aparentemente se basear numa personagem tipo representante da mulher fatal que despoleta a inveja e a competição de pretendentes, a personagem de Joana é, ainda assim, mais complexa do que isto.

Apesar de constantemente perturbada pelos seus pretendentes, Joana dá uma atenção particular a Rui que, tal como ela, também tem uma popularidade privilegiada. O que acontece é que ela se deixa envolver de forma pouco inocente em esquemas de manipulação psicológica e sentimental que acabam por levar à tragédia da aldeia, quando os seus dois pretendentes se debatem numa esgrima de machados até à morte. Devo dizer que para um filme português dos anos 60 que decorre numa aldeia no interior, é uma luta de machados com uma qualidade fenomenal, qual Huen Chiu Ku de Marco de Canaveses. Entretanto surge um novo padre que é um jovenzinho (é o pior actor do filme) e que, como jovem moço que era, não conseguiu ficar indiferente aos esmerados atributos da Joana e também ele fica apanhadinho. Isto não agrada nada às beatas velhinhas que sempre acharam que aquela Joana tinha o estatuto de feiticeira-mor cujo poder advinha de um pacto com o Demo, suspeita realçada quando a Joana põe o senhor abade todo maluco.
Neste vídeo do youtube com a abertura do filme é possível ver as senhoras da aldeia naquela que é a tentativa de exorcizar um jovem rapaz "enfeitiçado" pela Joana. O futuro dele acaba, contudo, por não ser muito perceptível.
Outro factor que atiça o clima de desconfiança da população está relacionado com um bebé que fora deixado aos cuidados de Joana e que, passado algumas horas de contacto com a jovem, padece de uma febre fatal.

Para concluir o resumo da história, a Joana é condenada pela justiça popular à exorcização pela fogueira.

Esta história é baseada num caso real sobre o linchamento pelo fogo de uma rapariga supostamente possuída pelo demónio, ocorrido durante os anos 30 em Marco de Canaveses. Apesar da linha neo-realista da obra original e da própria realização, o filme ganha todo o seu charme nos momentos fantasmagóricos, com visões de feiticeiras nuas em cima de cavalos e cadáveres pendurados em árvores. A banda sonora também está muito bem. A história original em si leva-nos à dúvida e ao questionamento do papel da Joana. Embora seja facilmente perceptível a dura crítica à mentalidade hipocritamente religiosa e intrinsecamente pagã das aldeias, a personagem da Joana não é absolutamente óbvia na sua inocência. Em livro, teatro ou cinema, uma obra sobre os limites da clarividência (ou falta dela) das devoções. E um obrigada à RTP Memória! 


terça-feira, 28 de setembro de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Confucius

Fazer um filme sobre a biografia de Confúcio pareceria algo pertinente e interessante. Confúcio era um filósofo ou, talvez numa definição mais precisa, um homem que deixou um legado de pensamentos relativos a uma ideologia de organização social nunca antes visto na história. O pensamento confucionista teve repercussões naquilo a que se veio a estabelecer, numa vertente mais política, como legalismo durante a dinastia Qin e teve também influência na percepção da ideologia taoista - na medida em que procurou estabelecer um pensamento mais consciente e moral nas noções de conformismo que o taoismo defendia. Não me vou alongar muito nisto!! Confúcio deixou muitos tomos escritos relativos a muitos aspectos diversos, alguns deles mais sociais e políticos e outros mais espirituais, mas acima de tudo foi um defensor do humanismo. O problema deste filme? Um Chow Yun-Fat numa das suas representações mais forçadas a par de um ideal militarista e estratega associado a Confúcio que simplesmente não se percebe! É também um filme que surge na sucessão do Avatar e que cria polémica porque pretende tirar a popularidade ao mundo dos navis. Então parece que fazer um filme que exprimisse ideais filosóficos não poderia bater um blockbuster americano, portanto, bora lá pôr o Confúcio aí a comandar umas tropas! Ora bem, não me parece que resulte! Sinceramente, se a ideia era esta, escolheram a personalidade histórica errada. Porque é que não pegaram na Arte da Guerra de Sun Zi? Isto sim, daria tanto para o lado militar como para a compreensão daquilo que eram os ideais de guerra aplicados a mercados económicos ou até a relações de liderança tanto na vida profissional como privada. E para além de porem o filósofo a comandar tropas, ainda  têm sempre que acentuar o lado falsamente ostentativo de todos os elementos decorativos do século V a.c. - porque eles na realidade não eram assim tão ostentativos como parece - e há demasiada gente a ajoelhar-se em frente a governantes e chefes militares durante o filme, demasiada gente a ajoelhar-se! Enfim, é pena que o guarda-roupa e os elementos cénicos soem tanto a propaganda estética (ao estilo Red Cliff) em detrimento de uma tentativa real de perspectivar emotivamente a histórica (como em Nanjing Nanjing). Contudo, estou optimista em relação ao facto de que a falta de popularidade do filme possa ter influencia nas futuras produções chinesas da hengdian! 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

O 25 de Abril, o kick-ass e o I love you Phillip Morris



Pois é, este blog tem estado um pouco inactivo... e porque motivo? Aí está uma boa questão à qual não sei realmente responder... já que isto é para falar dos media que me passam pelos olhos ou mãos ou seja lá qual for a parte do corpo preferencial, suponho que estava ocupada a consumir coisas em vez de as comentar ou dissecar permanentemente que vendo bem não é o tipo de apreciação que interesse a toda a gente embora contribua para o estimulo de um espaço cibernético mais plural e democrático onde as vozes anónimas mais ou menos desinteressantes têm hipótese de se exprimir. De facto, ultimamente tenho utilizado mais o blog para falar de qualquer coisa que me irritou relacionada com esta ou aquela figura pública - é que, vendo bem, a blogosfera é uma das formas mais eficazes de chegar às personalidades graças ao google blog search e à sede mediática das pessoas lerem todas as referências que contêm os seus nomes respectivos. Quando digo que tenho andado a consumir coisas é só para soar um bocado pseudo, quer-se dizer, se considerarmos uns shoujos, uns ecchi, sitcoms variadas e excertos do preço certo como conteúdo multimédia de referência então tenho mantido uma actividade razoável! Mas este post não vai ser sobre isso - não descurando a qualidade cénica do Fernando Mendes - vai ser sobre os filmes que fui ver recentemente. Já deixei passar o Alice sem o comentar mas também para falar de desgraças não vale a pena, embora eu venha falar daquilo que é para mim outra desgraça…


 Pois é, o primeiro filme de que vou falar é o Kick-Ass e vou quebrar os tabus da irmandade geek e dizer que não gostei do filme. O que é que devo dizer sobre este filme? Confesso que a cena dos Super Heróis de BD adaptados a cinema não é o meu forte - e não me refiro a adaptações de BD ou Graphic Novel de uma maneira geral, pois este é um género demasiado genérico para o reduzir a um estereótipo mas sim o conceito estrito do Super Herói na vertente mais americana. Não querendo desiludir as minhas fãs feministas que vêm em mim um exemplo - há que admitir que isto é um bocado como os videojogos: é o tipo de coisas que se apanha dos namorados. Há coisas piores que se poderiam apanhar dos namorados, portanto, sejamos optimistas. Digamos que pertence a uma cultura geek viril que se centra essencialmente nos dilemas dos personagens masculinos. Mas até aí, não me incomoda, é um género, tem um público definido, cumpre determinadas tendências, bla bla, tudo bem. Nem vou entrar por aí. A questão é a de que o Kick-Ass estava associado não só a esta cultura de BD mas também a uma noção estilística e satírica e eu estava à espera disso mesmo, algo mais “tarantinesco” que utiliza o tratamento visual e a violência com uma finalidade estilística. Até porque a graphic novel se propõe a algo bastante ousado: uma crítica mordaz à violência entre as camadas mais jovens da sociedade – e eram estas as minhas expectativas. Não vou fazer aqui uma análise muito detalhada do filme senão não faço mais nada hoje mas o que me desiludiu foram essencialmente os lugares comuns, a falta de ousadia e o sentido de humor sem piada nenhuma para além do estilo altamente forçado de tudo. Primeiro, uma questão: o guião do filme difere da Graphic Novel em detalhes essenciais. Um exemplo (entre muitos) que me parece elucidativo: no filme, o Big Daddy é apresentado com um passado muito atormentado e profundo, na GN o que acontece é que depois da descrição do passado profundo, nos dizem “ah não era nada disso, ele era só um contabilista entediado”. Lá está! Efeito de cinismo! É isso que faz as coisas serem interessantes! É gozar à grande com os clichés não é deixá-los ser clichés como são, porque isso é o que é para criticar! Não é muito difícil de perceber, pois não? A mesma treta com o facto de que na GN o gajo não fica com a miúda, pelo contrário, é humilhado, etc. No filme, é um all happy ending ainda a meio e para mais de uma forma completamente inverosímil… dá a sensação de que meter uma miúda de 11 anos a triturar crânios é possível mas quebrar certos lugares comuns dos teenage movies é ir longe de mais… A miuda, Hit Girl é que é apontada por toda a gente como a melhor personagem do filme… devo lembrar que o filme se chama Kick-Ass e é interessante verificar como lá para o meio o Kick-Ass é um espectador do filme que protagoniza… para além de que aquelas cenas finais são todas muito previsíveis e para um filme de super heróis a acção basear-se essencialmente num jogo de shotguns também soa um bocado mal. Há muitas outras coisas a apontar, mas, de uma maneira geral, achei o estilo muito forçado e incomoda-me a forma tão visível como os produtores e o marketing decidiram manipular a história original de forma a tornar-se mais apelativa a um público com menos sentido crítico e em muitos momentos muito mais politicamente correcta. 



O segundo filme de que vou falar é o “I love you Phillip Morris”. Trata-se do filme que faz do Jim Carrey e do Ewan McGregor um casal gay e que se baseia na biografia de Steven Russel, o burlão americano que se encontra encarcerado 23h por dia a cumprir 144 anos de prisão no estado do Texas. É divertido, é um pouco panfletário porque coloca o enfoque na pena pesada que o homem teve, deixa-nos criar alguma empatia com a personagem mas o que é incrível neste filme nem foi tanto o filme sem si mas sim uma sala gigante no bragaparque cheia de gente a um sábado à noite que, não só não se ria nos momentos mais hilariantes do filme como só se conseguia rir sempre que o casal gay dava um beijo ou se abraçava e é fantástico ver como as pessoas se metem nas salas de cinema sem ler nenhuma sinopse porque o choque geral quando perceberam que era o Jim Carrey, sim, mas que ele fazia de, meu deus, pasme-se, homosexual!!, foi qualquer coisa de incrivelmente visível. Mas depois do Kick-Ass foi bom ver um filme coerente e não pretensioso que cumpre bastante bem a sua finalidade.
E, pronto, fica por aqui mais um post com alguns dos vários pensamentos diletantes que ficam assim transpostos para o formato escrito. Aos meus leitores, continuação de um bom 25 de Abril e bons filmes!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Portugal de Jorge Sousa Braga

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse
oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de
África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo uma mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de
rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do
Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada
de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca



Jorge Sousa Braga

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Daily Pilgrims - Virgilio

No Museu da Imagem, Braga, até 21 deste mês.

Este Projecto foi desenvolvido em 2006 em algumas cidades asiáticas, Bangkok, Macau, Hong Kong, Pequim, Xangai e Tóquio. Em todas elas, território e comportamentos estão em acelerada alteração.
As cidades parecem espelhar o nosso estado de alma, revelam segredos que podem ser descodificados quando o olhar valoriza mínimos detalhes: é entre linhas que procuro as ambiguidades e contradições.
De uma forma intuitiva e aleatória caminho pelas ruas, sou atraído por luzes, cores, cenários, pessoas anónimas que se cruzam comigo e que convido a posar.
Como o foque e o desfoque criam tensão, os rostos desfocados transformam-se em máscaras fugidias; esse deficit de informação conquista a atenção do observador e atribui maior protagonismo, mas também enigma ao retratado, - o anonimato é sempre intrigante. As imagens sem gente contextualizam e criam diálogo com os retratos, são atmosferas emotivas, jogos de descodificação.
As fotografias sugerem inquietação e, com isso, poderão provocar um confronto perante o que entendo como um certo estado de amnésia de uma sociedade carregada de estereótipos, alienada de uma rede social. Essencialmente colocam questões à sobrecomplexidade em que vivemos, remetendo, por vezes, para uma posição reflexiva em relação ao outro e ao próprio sujeito.



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Diana Mendonça

É uma jovem Margarida Rebelo Pinto, não é? Estava a ver o 5 para a meia-noite com a dita "jovem escritora" e fiquei a pensar que era difícil conseguir repercutir de uma maneira tão fiel o estereótipo da mulher burra e fútil, não era? Humm..

sábado, 6 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Xinran e os testemunhos da China do início de séc. XX



Xinran viajou pela China entre 2005 e 2006 à procura daqueles a quem chama de «avós» e «bisavós» no país: homens e mulheres que viveram, na primeira pessoa, as profundas mudanças da era moderna. Por cidades e aldeias remotas, Xinran falou com os membros dessa geração, entrevistando-os pela primeira e, talvez, última vez. Ainda que com medo de possíveis repercussões policiais, falaram com toda a delicadeza dos seus sonhos, medos, lutas e daquilo que testemunharam: o percurso da Revolução Cultural de Mao. Apesar do Ocidente olhar os últimos cem anos da China através de uma visão maioritariamente ligada à ascensão e poder de Mao Tse Tung (ou Mao Zi Dong), o mesmo período, para os chineses, é profundamente mais complexo.

«A riqueza desta obra está pois nas pessoas extraordinárias que por ele desfilam...»
Rui Bebiano, Revista LER


ISBN: 9789722519946
Número de Páginas: 496
Data da primeira Edição: 2009

Costumam-me perguntar o que é que eu acho dos livros sobre testemunhos do período revolucionário na China cujo espólio é já denso e complexo e como me interesso por literatura e pela China, aí está um tema com o qual me associam conhecedora e eu confesso que não tenho um conhecimento muito profundo deste tipo de literatura. E não é por desinteresse pelo estilo que pode soar panfletário mas que não o é forçosamente e também não é por desinteresse no período histórico da China até porque é um período ao qual não se pode estar alheio para se compreender seja o que for sobre a China contemporânea. E há autores com interesse como o caso de Xinran Xue. Chinesa expatriada que reside em Londres e que mantém colunas em jornais britânicos e é regularmente convidada para falar de relações internacionais em telejornais da BBC ou Skynews. Eu penso que o livro mais conhecido dela é o "Mulheres da China" cuja sinopse é
"Durante oito inesquecíveis anos, a jornalista Xinran apresentou na China um programa de rádio em que muitas mulheres falavam de si próprias e da sua vida. «Palavras na Brisa Nocturna», assim se chamava, rapidamente se tornou no mais famoso programa de rádio chinês. Nele se revelava o que significa ser mulher na China de hoje." e que continua com "Este é um livro que começa onde Cisnes Selvagens de Jung Chang terminou: a vida das mulheres chinesas depois de Mao."


Jun Chang também é outra referência. Bem, causa-me algum constrangimento a quantidade de livros de mulheres heróicas do período maoista que são todos os anos editadas, pois dá assim uma ideia de alimentar um fascínio ocidental pelo drama alheio e exótico cheio de clichés universais. Mas pronto, à parte disso, osTestemunhos da China, é um título curioso com um verdadeiro trabalho de pesquisa jornalístico levado a cabo pela chino-britânica Xinran. Só que parece que o que me repele principalmente destas obras são as traduções. São normalmente feitas em regime trilinguistico de chinês para inglês para português, editoras, não sejam forretas e comecem a empregar pessoas como eu, se fazem favor, para fazer traduções directas! Para além disso, pessoas como eu - que é só uma forma de falar, não é um vangloriar narcisista parvo, aliás alguém com mais formação que eu era preferível - isto é, pessoas que pudessem transpor as terminologias originais para a nossa mui nobre língua e que continuassem a deixar a leitura perceptível, se calhar dominando até com mais incidência terminologia política porque realmente há passagens do livro que não são muito acessíveis ao leitor português comum devido à ausência de contextualização histórica - talvez porque ela não está devidamente investigada no país e torna-se quase mítica, como se ninguém soubesse claramente o que se passou realmente e o seu único acesso ao conhecimento passasse por este tipo de ficção/semi-ficção/colectânea de relatos biográficos organizados por expatriados. O livro recomenda-se mas o português não é o melhor. Trabalhos de investigação talvez quando descentralizarmos devidamente os cânones e estas recém-licenciaturas em estudos asiáticos começarem a traduzir-se em produtos culturais finais de utilidade académica comum. 



domingo, 24 de janeiro de 2010

Ontem Estive no Inferno


João Negreiros

O jornalista da vossa beleza



Como sempre, e como não poderia deixar de ser em relação às produções do TUM, a angústia é sempre a mesma: um espectáculo demasiado grande para um auditório demasiado pequeno. Ou seja, como chamar de cultura underground nortenha aquilo que são simplesmente os melhores momentos de palco aos quais podemos assistir neste país à beira mar plantado que mais parece areia onde não se consegue semear nada que cresça saudável? A poesia estonteante, profusa e visceral de João Negreiros e as interpretações avassaladoras, trabalhadas até ao âmago de cada actor, sofridas (bem sei...) expostas a um público demasiado pequeno, demasiado insignificante. Tão demasiadamente insuficiente que às vezes até parece que passamos "tantos nanossegundos correndo desesperadamente para não sei bem onde/ fazer não sei bem o quê  com não sei quem  sozinho " (Queda Live)
Simplesmente demasiado bom, dói.


sábado, 23 de janeiro de 2010

Top10 - As mais bizarras mortes literárias

Ok... aviso desde já que este post é mórbido mas é incrível como alguns fins de vida são estupidamente bizarros ou quase uma manifestação última de uma obra de arte. 

#10 - Ambrose Bierce [1842-1914?] USA



Desaparecido no México enquanto fazia uma reportagem sobre a revolução mexicana comandada por Pancho Villa. Provavelmente assassinado.

"Life. A spiritual pickle preserving the body from decay . . ."



#09 - Leo Tolstoy [1828-1910] Rússia




Morreu congelado numa estação de comboios numa noite de Inverno.

"Our body is a machine for living. It is organized for that, it is its nature. Let life go on in it unhindered and let it defend itself, it will do more than if you paralyze it by encumbering it with remedies."




#08 - Virginia Woolf [1882-1941] Inglaterra




Encheu os bolsos com pedras e atirou-se para o rio Ouse em York.
“If we didn't live venturously, plucking the wild goat by the beard, and trembling over precipices, we should never be depressed, I've no doubt; but already should be faded, fatalistic and aged.”



#07 - Eurípides [480-406 B.C.] Grécia



Segundo a lenda,  Aequelau, rei da Macedónia, mandou uma série de cães para o comerem.
"But learn that to die is a debt we must all pay."




#06 - Sherwood Anderson [1876-1941]USA



Apanhou uma inflamação no abdómen depois de engolir uma lasca de madeira nos aperitivos de uma festa.
"Everyone in the world is Christ and they are all crucified."




#05 - Hart Crane [1899-1932]USA



Conhecido por ter dito "Good-bye everybody."enquanto caía no Mar do Caribe.
"... we have seen/The moon in lonely alleys make/A grail of laughter of an empty ash can . . ."


#04 - John Berryman [1914-1972] USA



Saltou para o rio do Mississippi; Há relatos de que acenou um adeus a uma pessoa que ia a passar enquanto caía.
"We must travel in the direction of our fear."


#03 - Edgar Allan Poe [1809-1849] USA



Muito mistério rodeia a morte de Poe, talvez se tenha embebedado até morrer,( a julgar pela conhecida vivência de intelectual boémio)  mas como é difícil explicar esta situação, especialistas consideram que talvez tenha morrido de intoxicação causada pelos candeeiros a óleo da altura que tinham propriedades tóxicas apuradas. O certo é que foi encontrado morto numa rua de Baltimore vestido com roupa que não era a sua, o que indicará homicídio. O mistério à volta da sua morte vale-lhe o 3º lugar.

"In an instant I seemed to rise from the ground. But I had no bodily, no visible, audible, or palpable presence."



#02 - Sergei Esenin [1895-1925] Rússia




Cortou os pulsos e escreveu dois últimos poemas com o próprio sangue "Do svidania drug moi"/"Adeus meu amigo".
"Don't waken the dream that is dying/Don't stir the aim that has failed./Life brought me too early to trial;/The loss, the defeat—what availed?"




#01 - Yukio Mishima [1925-1970] Japão


Cometeu seppuku (hara-kiri) após uma tentativa falhada de golpe de estado com Katana e traje samurai contra o governo por considerar que este estava a humilhar a nação perante a submissão aos americanos e por pretender uma definição mais tradicional de estado-nação.
"If we value so highly the dignity of life, how can we not also value the dignity of death? No death may be called futile."