segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
What the fu ke?
herdar o vazio
No nordeste dos Himalaias, numa casa isolada no sopé do monte Kanchenjunga, vive Jemubhai, um velho juiz amargurado e de mal com o mundo e com todos, que tudo o que quer é reformar-se e ficar na companhia da única criatura a quem é capaz de dar algum afecto, a sua cadela Mutt. No entanto, a chegada inesperada da neta órfã, Sai, abalará o seu sossego, obrigando-o a remexer as suas memórias e a repensar a sensação de estranheza na própria pátria.
Tudo isto se acentuará com o romance entre Sai e Gyan, um nepalês que se envolve numa revolta que alterará inquestionavelmente a vida de Jemubhai.
A serenidade da vida do juiz contrasta com a existência do filho do seu cozinheiro, Biju, que saltita sucessivamente de restaurante em restaurante, em Nova Iorque, à procura de emprego, numa fuga constante aos Serviços de Imigração. Julgando que o filho leva uma vida boa e que acabará por vir resgatá-lo, o cozinheiro vai arrastando os seus dias.
Numa escrita inesgotavelmente rica e complexa, com rasgos de exotismo, a autora retrata temas tão actuais como a globalização, o colonialismo, o racismo, o abismo entre pobres e ricos e a imigração.
Desai, nesta obra que ganha o Man Booker Prize deixa-nos uma escrita de manifesto, típica de alguma pretensão profética e apocalíptica que se atribui correntemente aos autores que surgem numa escrita de envolvimento pós-colonialista e globalizante.
Fala-nos da pobreza da Índia contemporânea e do Império Britânico: a fleuma, os hábitos, a herança duma população colonizada pela aristocracia e funcionalismo britânicos, que, tendo adaptado a luminosidade e o requinte dos modos europeus à mesa e na educação, resvala num barril de pólvora que explode no ódio de Gyan por Sai (depois da paixão cega porque anterior à revelação da extrema injustiça social) e tudo o que esta representa: a indiana colonizadora do Nepal, digna de desprezo, por ser, ela própria, fruto duma sociedade indiana colonizada e pervertida à superioridade britânica.
Através de relatos bastante próximos de um conceito realista (tanto na tentativa de reprodução mimética como de focalização temática - das quais a história do juiz é provavelmente a mais envolvente) é tecida uma manta de retalhos que explica a história da colonização como um jogo de causa e consequência na qual a arte não encontra curas imediatas para soluções essencialmente políticas mas na qual declara e reflecte a condição histórica e temporal e geopolítica espelhada nas vidas singulares das suas personagens.
Referência:
DESAI, Kiran, A Herança do Vazio. Porto: Porto Editora, 1.ª edição, Fevereiro de 2007, 414 pp. (tradução de Vera Falcão Martins; obra original: The Inheritance of Loss, 2006).
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
我们来自地下
Ouvir
Deixo a letra porque é absolutamente deliciosa e, enfim, também não vejo as outras pessoas a traduzirem as letras que colocam em inglês, então...desfrutem...
机器 在这《新世纪》来临之前,我们知道一切终将改变。没有人能阻拦我们,没有人可以烧毁这《宣言》。这一天我们知道即将出现,在这充满《阴影》的生命里面。一切都将伴随它诞生,所有的过去都将《推动我》向前。《我们来自地下》,我们的力量就是这么的新鲜,我们来自地下,我们的愤怒足以毁掉这一切,我们来自地下,我们的声音就是这么的真实,我们来自地下,我们的态度将决不改变!快忘掉你那自私的《本能》,这样的《TV秀》我们已经厌倦。我们需要大家《全体出动》,一起跨越这《界线》的边缘。谁再敢说我们没有希望,谁在整天幻想着明天,现在我们就站在你的面前,《扭曲机器》带你操翻这世界!!
domingo, 9 de dezembro de 2007
Lust, Caution
Porque é que Tony Leung é um perigo de luxúria? Porque ele é simplesmente um actor brilhante e um dos homens mais sensuais do mundo (pronto, eu tinha de escrever isto mais cedo ou mais tarde). Escrevo sobre o mais recente filme de Ang Lee que ainda não chegou a Portugal mas que não consegui esperar para ver. Trata-se de um thriller de espionagem que se passa em Shangai durante a Segunda Guerra Mundial e que retrata as vivências de um grupo de actores de intervenção que decidem deixar o palco de tábuas para representar num palco mais autêntico com repercurões reais no destino do país. É nessa situação que Wong Chia Chi (Wei Tang, uma actriz a estrear-se em grande) tem o papel de seduzir o todo poderoso Mr. Yee (Tonny Leung ou, para ser mais correcta, 梁朝偉; pinyin: Liáng Cháowěi). Como o nome indica, é um filme com bastante sensualidade (que aliás esteve envolvido em polémicas sobre o facto de se suspeitar que os actores tiveram sexo real) e eu recomendo vivamente o download das cenas "censuradas", nas quais as cenas de sexo são mais explícitas, isto porque elas são um aspecto central absolutamente fundamental na compreensão e na absorção da profundidade do filme. Acho que houve até uma polémica excessiva ao ponto de ter amigos chineses que pensam que este filme é meramente pornográfico. Escusado será dizer que isso é completamente descabido. Leung tem um papel mais extremo do que aqueles em que estamos habituados a ver - o romântico deambulante do cinema de Wong Kar Wai e é precisamente por isso que demonstra uma tremenda capacidade de metamorfose.
Enfim, é um filme que vale a pena desde os elegantes exercícios de estilo de uma Hong Kong colonizada, às tentativas de demonstração da superioridade intelectual da China ao estudarem a língua dos inimigos, nomeadamente o japonês, tudo isso incorporado num estilo de vida progressivamente urbano e complexo. Recomendo!
domingo, 2 de dezembro de 2007
E se não fosse eu, não sei o que seria do estado da música portuguesa que tenta introduzir conceitos japoneses nas suas letras....
Ary
Enviado:
sábado, 1 de dezembro de 2007 20:54:35
Para:
Sara F. Costa
Assunto:
Re: Números em Japonês
oi sara
obrigado pela correcção e pelo apoio
sempre juntos
On 12 Nov 2007, at 00:32, Sara F. Costa wrote:
Viva!
Gostaria de informar que o número 6 em japonês se diz roKU e não roKO, como cantam na música.
Obrigada pela atenção e continuem com o bom trabalho cheio de criatividade!
Sara F. Costa