segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Análise crítica da obra 'A Transfiguração da Fome' de Sara F. Costa, explorando a temática do movimento, da viagem e da identidade na poesia contemporânea.

Transfigurar a Fome ou o Sentimento duma Ocidental - Análise Crítica de Isabel Cristina Mateus

Transfigurar a Fome ou o Sentimento duma Ocidental

AA Trans(guração da Fome de Sara F. Costa, publicado pela editora Labirinto em 2018, foi a obra vencedora em Maio de 2019 do Prémio Literário Glória de Sant’Ana para o melhor livro de poesia em língua portuguesa. Um prémio de perFl internacional, aberto ao mundo lusófono, que desde 2013 distinguiu autores como o moçambicano Eduardo White (2013), a portuguesa Gisela Ramos Rosa (em 2014 e 2018), o galego Mário Herrero Valeiro (2015), os portugueses Samuel Pimenta (2016) e Maria João Cantinho (2017). Só por este motivo, a obra de Sara F. Costa mereceria já algum destaque. Mais ainda quando este Prémio é atribuído a alguém que, pertencendo a uma novíssima geração de poetas portugueses surgidos neste novo milénio, tem vindo progressivamente a aFrmar-se no panorama das letras em língua portuguesa: A Melancolia das Mãos e Outros Rasgos (Ed. Pé de Página, 2003); Uma Devastação Inteligente (Atelier Editorial, Prémio Literário João da Silva Correia, 2007); O Sono Extenso (Âncora Editora, 2012) e O Movimento Impróprio do Mundo (Âncora Editora, 2016) dão conta de um percurso que A Trans(guração da Fome vem conFrmar. Um percurso poético assinalável se tivermos em conta a juventude da autora, que passa ainda pela participação em colectâneas internacionais de poesia (“Il gesto della memoria”, Ibiskos Editrice di A. Risolo, Empoli, 2005; “Air, Water, Earth, Fire. The long genesis of the Elements”, Ibiskos Editrice di A. Risolo, Empoli, 2006) e pela sua participação como autora convidada do Festival Internacional de Poesia e de Literatura de Istambul, em 2017. Ou ainda pela organização do Festival Literário de Macau, do Festival Internacional de Literatura entre a China e a União Europeia em Shanghai e Suzhou (China) e pela sua ligação ao colectivo artístico internacional Spittoon (sediado em Pequim), uma plataforma artística que pretende unir escritores e artistas chineses e de todas as partes do mundo. O que o percurso de Sara F. Costa evidencia é desde logo uma abertura ao mundo, uma vivência multi e intercultural (a sua residência actual em Pequim apenas o vem reforçar), que conferem à sua voz poética uma maturidade precoce e um timbre invulgares. Sara F. Costa é já uma voz autoral na poesia em língua portuguesa, uma voz autónoma que atravessou fonteiras e à qual devemos estar atentos no futuro. A Trans(guração da Fome é um título (duplamente) enigmático que se constitui como um desaFo à interpretação, desaFo acentuado pelo labirinto de imagens convocadas pelo conjunto dos poemas. Todavia, título e poemas não deixam de fornecer ao leitor o Fo de Ariadne para a leitura. Ou, para utilizar aqui uma metáfora mais consentânea com a modernidade de um universo poético que fala de sel(es, de instagram, de spotify ou de emails, que título e poema fornecem as coordenadas GPS ao leitor. Trans-(gurar signiFca etimologicamente mudar a Fgura, a forma, o corpo. Transformar uma coisa noutra coisa, o que nos reenvia para o poder da metáfora e da linguagem, aFnal a matéria de que é feita a poesia. É este processo de mutação que encontramos desde logo no mythos, grego ou latino, nas narrativas da origem que atravessaram os séculos e chegaram até nós, narrativas onde os corpos mudam de natureza ou de formas, se transformam em pedras, nuvens, rios, ouro, pássaros ou árvores. “De formas mudadas em novos corpos leva-me o engenho/ a falar. Ó deuses, inspirai a minha empresa (pois vós/a mudastes também), e conduzi ininterrupto o meu canto/desde a origem primordial do mundo até aos meus dias”, diz Ovídio logo nos primeiros versos invocatórios do Livro I de Metamorfoses, ao mesmo tempo que pede aos deuses inspiração para o seu canto “ininterrupto”, desde o início do mundo até aos seus (e nossos) dias. Metamorfoses, uma das maiores criações literárias que a cultura latina produziu, é com efeito uma sucessão de transFgurações que alimentam a nossa fome de uma qualquer ordem, natural ou divina, o nosso desejo de sentido perante a instabilidade do tempo e a violência dos dias, devolvendo-nos à nossa frágil, mutável e humana realidade. A Trans(guração da Fome é assim um livro que faz do trabalho de transformação ou de invenção da linguagem, da palavra resgatada do uso quotidiano, o ofício e o assunto da poesia. Da poesia como expressão intelectual e artística do homem enquanto animal de linguagem ou, de modo mais preciso, desse “animal raivoso” que é o poeta no dizer de Teixeira de Pascoaes. O poeta que amarrota com mãos insatisfeitas e arroja raivosamente ao chão os papéis escritos, na sua busca permanente da palavra. Stella Mc Cartney Monster Print O próprio poema é um animal que respira e se move, tem fome e sede, metáfora que um poeta como António Carlos Cortez convoca, em títulos como Animais Feridos ou, mais recentemente, em Jaguar. Do mesmo que há, pronto a despertar, “um animal selvagem no Fm da memória” (p. 19) do poeta. Nos poemas que compõem A Trans(guração da Fome há carne (corpo), sangue, sexo, sémen, desejo de procriar, de uma nova vida, de uma vida transFgurada. Dois poemas, em particular, parecem fazer luz sobre o enigma do título. O primeiro, justamente denominado “TransFguração da Fome”, onde a voz poética se dirige a um “tu”, dando conta do labor da escrita no corpo a corpo com a folha em branco (“escrevo ritualisticamente sobre as omoplatas da folha, /e há estrelas de solidão entre as palavras”), perscrutando a solidão e o fulgor que as palavras silenciam ou ocultam. O fulgor da palavra liberta da “impostura da língua” (na expressão de Maria Gabriela Llansol), a palavra poética como transFguração da linguagem quotidiana, de um real esvaziado de sentido ou de luz, como transmutação da miséria e da fome que caracterizam os nossos dias: “perguntas-me se con(o no furor do tempo,/quando sabes que a nossa glória/não passa da trans(guração da fome” (p.31). O segundo poema, “Tabor”, reenvia de imediato o leitor para a montanha da Galileia onde, de acordo com o evangelho de S. Mateus, Jesus se transFgurou perante o olhar incrédulo de Pedro, Tiago e João: diz-nos o evangelho que o rosto de Jesus se tornou resplandecente como o sol e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. A voz poética retoma a imagem da luz para aFrmar o “divino” esplendor da fantasia ou da imaginação para lá da frágil humanidade dos poetas (“é completa a integridade da fantasia,/é amor que brilha/e prazer que sangra. o suor da miséria,/os ventos apertados/entre as pernas dos poetas.”), ao mesmo tempo que, com a marca da auto-ironia característica desta voz, se interroga sobre quem poderá testemunhar esta transFguração: “a quem é que vou telefonar hoje?/Pedro, Tiago, João/a embriaguez percorre-nos as veias de prata/a música profunda/e as mãos en(adas nas cavidades mudas.// é límpida a fome minuciosa da carne” (p.33). Estamos assim perante a urgência das imagens e do poder transFgurador, subversivo, da palavra liberta de uma função meramente comunicativa e referencial. Da palavra cortante como faca, urgente, da palavra-carne, da palavra-alimento, da palavra viva, sangue ou sémen, num mundo voraz e violento onde tudo é líquido, fugaz, incluindo o amor. Num mundo onde se tem fome de beleza, de afecto, de um modo de ver, de sentir (e de pensar) humanos, como de forma crua se dá a ver em About Last Night: “um bass forte no club,/traz-me um gin tónico frio/para o rio/riso que palpita das paredes,/os braços vazios/ onde espero receber o amor deste senhor/que não pára de me agarrar a cintura./ (...) se me queres conhecer,/é melhor seres leão./movimento e movimento e movimento repetido/quem é que me vai tirar o vestido,/rainha da alucinação/tenho o mundo na mão/ uma tatuagem no (m das costas/à espera da tua ejaculação” (p. 29) A Trans(guração da Fome procura responder à interrogação de Hölderlin, formulada há quase três séculos, num mundo de onde os deuses foram proscritos e num poema cujo título (“Pão e Vinho”) é de algum modo um convite a saciar a fome que nos consome: “Para que servem poetas em tempos de indigência?” Hoje, como no tempo de Hölderlin, os poetas são a memória dos deuses, sacerdotes do deus do vinho e da desordem, guardiões da palavra e do desassossego colectivo. Servem para nos transFgurar de máquinas dóceis em humanos livres, para saciar a nossa fome de belo, de afecto ou de sentido. Servem para nos devolver um chão quando tudo ameaça ruir, para dizer a melancolia e inquietar o Christ in Glory by Ivanka Demchuk pensamento. Servem para nos aproximar dos outros, de nós mesmos ou dos deuses. O poema “Se os poetas são melancólicos” conFgura de algum modo uma resposta à pergunta de Hölderlin: “dá-me uma metáfora que me salve a vida”, pede a voz poética a um “tu” que com ela escuta a canção dos dias, essa “melodia in(nita que se esvai em sangue/quando ligamos o spotify” (p.14). Talvez a poesia, a poesia de Sara F. Costa, seja essa metáfora. Apesar da linguagem moderna, onde o mundo digital e as novas tecnologias marcam presença em muitos dos poemas, A Trans(guração da Fome surge fortemente ancorada na tradição poética ocidental e, em especial, na tradição poética portuguesa com destaque para a poesia modernista, surrealista ou experimental. Não é por acaso que a epígrafe convoca os versos de Herberto Helder de “Para o leitor ler de/vagar” (poeta que Sara F. Costa confessadamente admira) ou “Lugares”, poema de abertura e pórtico do livro, é um aviso de navegação ao leitor, um guia de leitura: “o lugar deste texto é entre a insónia e Cesariny” (p.9). Modernismo, onirismo, humor e (auto)ironia cortante, cruzam-se na poesia de Sara F. Costa, deixando transparecer tanto a lição de Cesário como a desconstrução lúdica ou paródica de Adília Lopes, conFrmando a íntima ligação que a escrita poética estabelece com a memória cultural e o convívio com a leitura dos poetas de todos os tempos. Todavia, em qualquer dos casos, esta relação com a tradição é sempre sujeita a mudança, subversão, transFguração. A Dark Spark of Light by Akis Goumas Importará notar que A Trans(guração da Fome se inscreve ainda na linhagem de um Baudelaire, o poeta da modernidade que, num dos projectos de epílogo que escreveu para As Flores do Mal, aFrmou (traduzo livremente os versos) ter “transFgurado a lama em ouro” (“j’ai pétri de la boue et j’en ai fait de l’or”). Mas também na tradição de Eliot, na sua visão desencantada da cidade (em particular, The Love Song of J. Alfred Prufrock) ou na concepção de poesia de um Wallace Stevens (The Man with the Blue Guitar), entre outros, para quem “o assunto da poesia é o próprio poema”. A poesia de Sara F. Costa não se esgota na relação que mantém com a tradição poética ocidental, antes dialoga com a concisão verbal e o fulgor imagético da tradição poética chinesa (com incursões na imagética coreana), como testemunham vários poemas ao longo do livro (Haiku existencial; Haiku elegíaco; Ni Hao!; Hanok; Há um templo em Busan; O Centro do Universo. “Confúcio”, entre outros, confronta-nos com o retrato do mundo capitalista em que vivemos, imagem da solidão a que nos condena um progresso que esqueceu a lição de Confúcio: “a solidão empurra as multidões/para dentro do metro./temos vísceras de plástico/por isso somos descartáveis./vamos causar um desastre ambientalista/em breve./ de todos os sotaques estrangeiros/temos aquele que mais se decompões/faz-me uma massagem cómica/um relato sem ansiedade porque/hoje bebo em homenagem a Confúcio” (p.78). Convocando ainda outras linguagens artísticas ou as novas tecnologias, a poesia de Sara F. Costa recusa tanto o lirismo português suave, o confessionalismo romântico quanto a “poesia da experiência”, de retorno ao real e ao referente, quando não o biograFsmo dominante a partir dos anos 90 do século passado. Os poemas de A Trans(guração da Carne apresentam-nos um mundo em mudança permanente, corpos e identidades em trânsito, solidões declinadas em todas as formas de gadgets, modernidade high-tech ou de amores ocasionais, culturas e geograFas em diálogo, sonhos, desejos, angústias, ilusões e desilusões, vazio, a carne do silêncio transmutando-se em palavra capaz de dizer o exílio de viver num mundo dominado pela linguagem dos mercados e do consumo. Como ironicamente nos dá conta o poema “Gosto do Iate”: “faz-me falta o teu abraço/mas faz-me mais falta o novo modelo/ da Louis Vuitton./às vezes queria fugir/com o canalizador de tronco largo/pegar nele e levá-lo/a fumar erva numa praia da califórnia,/apanhar sol/mas depois sei que pre(ro/a casa detrês andares em Cascais”. (p. 30) Mais do que um olhar europeu ou o sentimento duma ocidental, A Trans(guração da Fome é uma viagem que encerra em si uma busca identitária, conFrmando que “a ideia de movimento, deslocação, viagem e mundo, relativo ao espaço em que esse movimento se dá”, constituem um dos eixos temáticos estruturantes da poesia de Sara F. Costa, como sublinhou Nuno Júdice a respeito de O Movimento Impróprio do Mundo. Uma viagem que vai dos lugares do país ocidental que somos (Lisboa, Cascais, Furadouro) até aos lugares do oriente (China e Coreia). A Trans(guração da Fome é um modo de olhar e de ler o Ocidente a partir do outro lado do mundo. Mesmo se o outro lado do mundo é uma “vila com mais de dez milhões de habitantes”, uma vila como Pequim, com “vidas de néon”, “respirações poluídas” e “carros e gente e bicicletas/num caos perpétuo”. O outro lado do mundo é aFnal o lugar onde se descobre que “o outro lado do mundo é igual ao outro lado do mundo” ((p.71)..

Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/1822/64007 SARA F. COSTA BIO Sara F. Costa (1987) é uma escritora, investigadora e professora. A sua formação académica é em Estudos Chineses e passou largas temporadas a viver na China, sobretudo entre Tianjin em Pequim até 2020. A sua obra literária tem sido galardoada em variados certames. O seu livro “A Transfiguração da Fome” obteve o Prémio Literário Internacional Glória de Sant’Anna para melhor obra de poesia publicada em países de língua portuguesa em 2018. Para além da poesia, escreve também ficção e traduz literatura chinesa para português e inglês. Lançou em 2020 uma antologia de poesia contemporânea chinesa por si selecionada e traduzida, “Poética Não Oficial“ (Editora Labirinto, 2020). É membro da direção da APWT (Asian-Pacific Writers and Translators). Obteve em 2021 uma bolsa de criação literária da DGLAB. Dessa bolsa surgiu o livro “Ser-Rio, Deus-Corpo” traduzido também para castelhano e inglês. Em 2024 estreia-se na ficção com “Cidade Cinza” (Labirinto, 2024). Poesia – A Melancolia das Mãos e Outros Rasgos (Pé de Página editores, 2003);
– Uma Devastação Inteligente (Atelier Editorial, 2008);
– O Sono Extenso (Âncora Editora, 2012);
– O Movimento Impróprio do Mundo (Âncora Editora, 2016)
– A Transfiguração da Fome (Editora Labirinto, 2018) – Ser-Rio, Deus Corpo (Editora Labirinto, 2022) Romance – Cidade Cinza (Editora Labirinto, 2024) Tradução e organização – Poética Não Oficial - Poesia Chinesa Contemporânea, Edição bilingue (Editora Labirinto, 2020) Obras Noutras línguas – River-Being, Bodily-God (Red River, 2022) – Ser-Río, Cuero-Dios (Garvm Ediciones, 2023) ISABEL CRISTINA MATEUS BIO Doutorada em Ciências da Literatura, Área de Especialização em Literatura Portuguesa (Moderna e Contemporânea) pela Universidade do Minho (2006), exerce atualmente as funções de Professora Associada no Departamento de Estudos Portugueses da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas da Universidade do Minho. É investigadora integrada do Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM), tendo sido coordenadora do grupo de investigação Poéticas em Língua Portuguesa (PLP), de 2020 a 2024, e responsável pela linha de investigação “Autobiografia, Interculturalidade e "Life-writing": Maria Ondina Braga”. Integra ainda o grupo de investigação 2i, Limiares Homem- Animal-Máquina (LIHAM). Tem desenvolvido investigação nas áreas da literatura portuguesa moderna e contemporânea, com particular destaque para a obra de Fialho de Almeida e Maria Ondina Braga, centrando-se nos domínios da investigação das escritas no feminino, "life-writing", autobiografia e autoficção, biografia, modernismo, grotesco, zoopoética e ecopoética. É coordenadora da edição das Obras Completas de Maria Ondina Braga (VII Vols) pela INCM (com Cândido Oliveira Martins-UCP), de que sairam já 2 vols, e editora, com Claire Williams (Univ. Oxford), de "Biografias no Feminino" (Vol. II, 2023). Co-editou a Revista 2i: Estudos de Identidade e Intermedialidade, "Literatura e Fotografia: novas cartografias do olhar" (com Duarte Belo e Cândido Martins). Tem colaborado em revistas de especialidade nacionais e estrangeiras e é autora de vários estudos sobre autores portugueses (Fialho de Almeida, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Maria Gabriela Llansol, David Mourão-Ferreira, José Saramago, Dulce Maria Cardoso). Publicou “Kodakização” e Despolarização do Real: Para uma Poética do Grotesco na Obra de Fialho de Almeida, Leya/Caminho 2008, vencedor da edição única do Prémio Óscar Lopes (2007) e do Prémio de Ensaio Pen Clube 2008 (ex-aequo com Frederico Lourenço) , além dos roteiros literários "Viajar com... Maria Ondina Braga" (DRCN/Opera Omnia,2018) e "Descobrir o Minho com Maria Ondina Braga" (Consórcio MinhoIN), 2023. No domínio literário, é autora de "Janela Indiscreta: Crónicas da Emergência" (Labirinto, 2020). Co-coordena a edição dos volumes temáticos "Maria Ondina Braga: (re)leitura de uma obra" (Museu Nogueira da Silva, 2017) e "Viagens e Culturas em Diálogo" (Museu Nogueira da Silva, 2019), bem como a edição da série Literatura, Cinema e Banda Desenhada (3 volumes), Cehum. É Associate Member do Center for the Study of Contemporary Women's Writing (CWW, University of London) e membro da rede Animots, dirigida por Anne Simon (CRAL, CNRS/EHESS-França). Membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores (APE), desde 2017, integrando o júri de vários prémios literários a nível nacional. Desde 2020, é membro da Comissão Técnica do Programa LATE do Instituto Camões/DGLAB. Em 2023 e 2024 foi membro do Júri do Prémio Camões em representação de Portugal. . Research interests: Escritas no feminino, Maria Ondina Braga, Autobiografia/Autoficção, Biografias, Life-writing, Literatura de viagens, Modernismo, Animal Studies, ecopóetica. Education: Doutoramento em Ciências da Literatura, Ramo de Literatura Portuguesa, 2006, pela Universidade do Minho. Classificação: aprovada por unanimidade. Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, 1989, Universidade do MInho. Classificação: Muito Bom por Unanimidade. Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas- Português/Francês, 1984, Universidade de Coimbra. Classificação: 16,4 valores. Professional experience: Professora Associada desde 2024 (Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos/Universidade do Minho) Professora Auxiliar, de 15.03.2026 a 22.05.2024 (Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos/ Universidade do Minho0 Assistente, 1989-2006 (Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos/Universidade do Minho) Assistente Estagiária, 1984-1989 (Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos/Universidade do Minho)) Institutional positions: Coordenadora Erasmus do DEPL, desde 01.04.2024 Directora-Adjunta do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos desde Julho de 2022 Coordenadora responsável do Grupo de Investigação (Poéticas de Língua Portuguesa), de novembro de 2020 a janeiro de 2024 Membro eleito do Senado Académico de 30.03.2016 a 10.05.2017 Coordenadora de Português Língua Estrangeira e Português Língua Não Materna do BabeliUM, ILCH. (Janeiro 2015- Maio 2016) Directora interina do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos (Março de 2014- Maio de 2014) Directora -Adjunta do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos (Setembro de 2012-.2014). Membro do Conselho Científico do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho (Janeiro de 2013-2016) Directora da Licenciatura em Estudos Portugueses e Lusófonos (Setembro de 2010- Novembro de 2012) Membro do Conselho Pedagógico do Instituto de Letras e Ciências Humanas (2011-2014) Membro da Comissão Coordenadora responsável pelo Programa das Licenciaturas Internacionais (PLI) no Instituto de Letras e Ciências Humanas (Licenciatura em Estudos Portugueses e Lusófonos), celebrado entre a UM e a CAPES/Brasil (2012/2014) (2006-2009) Directora de Curso das Licenciaturas em Ensino de Português/Francês e Estudos Portugueses e Franceses. (2006-2009) Membro do Conselho de Cursos do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho

Referências

  • Costa, S. F. (2018). A Transfiguração da Fome. Editora Labirinto.
  • Júdice, N. (2016). O Movimento Impróprio do Mundo. Âncora Editora.
  • Bachelard, G. (1958). A Água e os Sonhos: Ensaio sobre a Imaginação da Matéria. Martins Fontes.
  • Ramos Rosa, A. (1974). O Grito Claro. Edições Afrontamento.
  • Husserl, E. (1913). Ideias para uma Fenomenologia Pura e uma Filosofia Fenomenológica. Martinus Nijhoff.
  • Helder, H. (1997). O Corpo o Luxo a Obra. Assírio & Alvim.
  • Dante Alighieri. (1320). A Divina Comédia.
  • Smith, P. (2010). Just Kids. Bloomsbury.
  • Nietzsche, F. (1883). Assim Falou Zaratustra. Penguin Classics.
  • Kafka, F. (1925). O Processo. Vintage.
  • https://hdl.handle.net/1822/64007
dc.contributor.author Mateus, Isabel Cristina por dc.date.accessioned 2020-02-20T11:37:52Z - dc.date.available 2020-02-20T11:37:52Z - dc.date.issued 2019-12-20 - dc.identifier.citation Mateus, I. C (2019). Transfigurar a Fome ou o sentimento duma ocidental. Caliban, 20.12.2019 por dc.identifier.uri https://hdl.handle.net/1822/64007 - dc.description.abstract (...) O percurso de Sara F. Costa evidencia uma abertura ao mundo, uma vivência multi e intercultural (a sua residência actual em Pequim apenas o vem reforçar) que conferem à sua voz poética uma maturidade precoce e um timbre invulgares. Sara F. Costa é já uma voz autoral na poesia em língua portuguesa, uma voz autónoma que atravessou fronteiras e à qual devemos estar atentos no futuro. A Transfiguração da Fome é o novo livro de poesia desta jovem autora, um título (duplamente) enigmático que se constitui como um desafio à interpretação acentuado pelo labirinto de imagens convocadas pelo conjunto dos poemas. Todavia, título e poemas não deixam de fornecer ao leitor o fio de Ariadne para a leitura. Ou, para utilizar aqui uma metáfora mais consentânea com a modernidade de um universo poético que fala de selfies, de instagram, de spotify ou de emails, que título e poema fornecem as coordenadas GPS ao leitor. (...) por dc.language.iso por por dc.publisher Caliban por dc.rights openAccess por dc.subject Sara F. Costa por dc.subject Transfigurar a Fome por dc.subject Poesia portuguesa contemporânea por dc.subject Diálogo de culturas por dc.title Transfigurar a Fome ou o sentimento duma ocidental por dc.type article por dc.peerreviewed no por dc.relation.publisherversion https://revistacaliban.net/transfigurar-a-fome-ou-o-sentimento-duma-ocidental-6d5f59dd21e7 por dc.subject.fos Humanidades::Línguas e Literaturas por sdum.journal Caliban: Revista de Letras, Artes e Ideias por oaire.version VoR por Aparece nas coleções: CEHUM - Artigos publicados em revistas

Uma Geografia Secreta: Análise do Livro “O Movimento Impróprio do Mundo” de Sara F. Costa por Nuno Júdice

Análise do Livro "O movimento impróprio do mundo" por Nuno Júdice

Análise do Livro "O movimento impróprio do mundo" por Nuno Júdice

A partir do título do novo livro de Sara F. Costa, «O movimento impróprio do mundo», entramos num espaço que gira em torno de dois conceitos: movimento associado a deslocação, a viagem, e mundo relativo ao espaço em que esse movimento se dá. No entanto, se por mundo entendermos a Terra, o planeta, o movimento que logo lhe associamos é o de rotação, com a sua dupla regularidade ligada ao dia, que é a rotação do planeta sobre si, e o ano, que é a rotação da Terra à volta do Sol. Estaríamos assim perante um tópico da poesia que fala dessa dualidade nocturna e diurna, e da mudança das estações ao longo do ano. No entanto, o que poderia parecer uma associação simples e confortável para o leitor, que remeteria para o mundo clássico esta poesia, é contraditado, ou melhor, perturbado pelo adjectivo impróprio. Sara F. Costa vai, assim, rejeitar esse espaço da tradição que, pela antítese diurno-nocturno, remete para o Romantismo, e pela sazonalidade que deu origem ao mito do eterno retorno, para o Classicismo, e avança por um outro terreno em que o movimento, ou melhor, a viagem, não coincide com as referências habituais da linguagem poética. Há muitas viagens neste livro. Podíamos falar de viagens como a que se faz ao passar/ esta ponte triste/que vai dar a Setúbal (p. 7), a que leva até às placas que indicam que Figueira da Foz é mais ou menos na/mesma direcção (p. 11), a que segue o desejo taxativo do «Vou-me embora» que começa na Universidade do Minho e termina em Beijing (p. 13), a da «Modern girl» que apesar de nunca ter ido a Nova Iorque se mudou para Coimbra (p. 78), a combinação com o estudante de relações internacionais para 4 um encontro algures entre/o Império Otomano e o Bizantino,/por volta de Agosto (p. 86), ou o poema «Shanghai» (p. 65), entre outras, ou seja, referências que se podem considerar concretas, a que se podem somar outras mais literárias quando, em Peniche, diz que podia estar em Paris (p. 35), qunado pretende levar o Tejo para a China (p. 85), ou ainda quando encontra o Husserl a jantar com o Alphonse de Lamartine (p. 73). Este é o mundo que se encontra no título e que tanto pode fazer parte de uma realidade concreta da globalização contemporânea como, sobretudo, surgir ao longo do livro para apelar a uma pulsão de liberdade que, hoje, perdeu o sentido que teve no tempo dessa rua onde Ramos Rosa adiou o amor, e se tornou um instante de risco em que não se ama a liberdade,/bebe-se liberdade/misturada com espumante e terror («Liberdade», p. 16). É uma liberdade que absorve tanto a novilíngua dos feed, startup, cliffhanger, hardclub, networking, o uso do inglês em títulos ou citações, a presença de nomes que funcionam como fundo entre o cultural e o que poderíamos chamar intertextual, de Herberto Helder a Dante ou Rimbaud, de Nietzsche a Sartre, Kafka ou Patti Smith; e uma errância por lugares que, no entanto, são o lugar único em que a poeta se define como uma casa corpo, não passo de. Também o amor comunga dessa liberdade em forma de errância, como se o corpo fosse apenas um lugar de passagem. É quando diz que à noite, quando o homem, regressa/ não é sói a ele que me dou mas aos quatro ou cinco a quem já/me dei antes/porque no meu útero rebentam todos os mares (p. 28) que a entidade mulher se assume como esse mundo líquido em que o canto das ondas feridas/ atravessa a existência (p. 29) até esse momento do poema «Quando eu fui morrer para o mar» (p. 72) em que a morte, ligada à água bachelardiana, se associa ao renascimento ligado ao útero: ressuscitei na mesma madrugada em que fui morrer para o mar (p. 73). Uma poética iniciática, mas uma iniciação que se verifica no espaço fechado de «O sepulcro-espelho» (p. 47) em que o Eu se contempla num processo que é descrito como o movimento impróprio do mundo, contrário à luz e à expansão, e entregue à harmonia demoníaca do teu desejo no processo de morte ritual em que o olhar narcísico e auto-destrutivo de onde nasce o prazer fundamental para esse renascimento, surgido do oximoro dessa harmonia demoníaca que se conclui no momento em que a entrega nocturna se materializa: deixa que o sepulcro te masturbe. É portanto uma viagem que tem como território esse mundo mas em que não há um objectivo final, ligado a uma instalação definitiva, porque a vida é o nosso destino e aparentemente já chegamos/sem nunca ter partido (p. 9). Se o poema se chama «Na rua em Daugavpils», portanto longe dessa origem portuguesa entre Lisboa e o norte, ao dizer que chegou sem nunca ter partido o que se conclui é que a viagem poética não 5 implica uma mudança de território porque o chão em que assenta, e não se move, será o chão da linguagem, da língua, em que tudo é reconhecível e familiar, mesmo quando fisicamente se está longe. E talvez se possa aqui definir esse «movimento impróprio do mundo» como aquele que tenta afastar a poeta do seu chão, que será essa língua em que escreve, que faz parte de uma «Geografia secreta» em que a poeta usa os verbos que se apaixonam pela noite e os versos são lábios em ruína/parados na geografia secreta da pele. Viagem entre Eros e Tanatos, o livro guia-nos por um mundo de imagens no limite da eclosão surreal, mas ao mesmo tempo nunca perdendo de vista a realidade, numa escrita que vai de encontro à pele críptica do papel, sem nunca deixar que a leitura se perca em labirintos sem sentido nem centro.

Sara F. Costa (1987) é uma escritora, investigadora e professora. A sua formação académica é em Estudos Chineses e passou largas temporadas a viver na China, sobretudo entre Tianjin em Pequim até 2020. A sua obra literária tem sido galardoada em variados certames. O seu livro “A Transfiguração da Fome” obteve o Prémio Literário Internacional Glória de Sant’Anna para melhor obra de poesia publicada em países de língua portuguesa em 2018. Para além da poesia, escreve também ficção e traduz literatura chinesa para português e inglês. Lançou em 2020 uma antologia de poesia contemporânea chinesa por si selecionada e traduzida, “Poética Não Oficial“ (Editora Labirinto, 2020). É membro da direção da APWT (Asian-Pacific Writers and Translators). Obteve em 2021 uma bolsa de criação literária da DGLAB. Dessa bolsa surgiu o livro “Ser-Rio, Deus-Corpo” traduzido também para castelhano e inglês. Em 2024 estreia-se na ficção com “Cidade Cinza” (Labirinto, 2024). Poesia – A Melancolia das Mãos e Outros Rasgos (Pé de Página editores, 2003);
– Uma Devastação Inteligente (Atelier Editorial, 2008);
– O Sono Extenso (Âncora Editora, 2012);
– O Movimento Impróprio do Mundo (Âncora Editora, 2016)
– A Transfiguração da Fome (Editora Labirinto, 2018) – Ser-Rio, Deus Corpo (Editora Labirinto, 2022) Romance – Cidade Cinza (Editora Labirinto, 2024) Tradução e organização – Poética Não Oficial - Poesia Chinesa Contemporânea, Edição bilingue (Editora Labirinto, 2020) Obras Noutras línguas – River-Being, Bodily-God (Red River, 2022) – Ser-Río, Cuero-Dios (Garvm Ediciones, 2023) NUNO JÚDICE BIO Nuno Manuel Gonçalves Júdice Glória OSE • GOSE (Portimão, Mexilhoeira Grande, 29 de abril de 1949 – Lisboa, 17 de março de 2024) foi um ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português. Biografia Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e obteve o grau de Doutor pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação sobre Literatura Medieval.[1] Professor do ensino secundário, desde 1992 até 1997, foi professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,[2] até à sua aposentação, como professor associado, em 2015. Foi diretor da revista literária Tabacaria (1996-2009), editada pela Casa Fernando Pessoa e Comissário para a área da Literatura da representação portuguesa à 49ª Feira do Livro de Frankfurt. Foi também Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal (1997-2004) e diretor do Instituto Camões em Paris[2]. Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa '94 - Capital Europeia da Cultura. Foi diretor da Revista Colóquio-Letras da Fundação Calouste Gulbenkian. Poeta e ficcionista, a sua estreia literária deu-se com A Noção de Poema (1972). Em 1985 receberia o Prémio Pen Clube, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus, em 1990. Em 1994 a Associação Portuguesa de Escritores distinguiu-o pela publicação de Meditação sobre Ruínas, finalista do Prémio Europeu de Literatura Aristeion. Assinou ainda obras para teatro e traduziu autores como Corneille e Emily Dickinson. A sua obra inclui antologias, edições de crítica literária, estudos sobre Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. Mantinha colaboração regular na imprensa. Lançou, em 1993, a antologia sobre literatura portuguesa do século XX, Voyage dans un siècle de Littérature Portugaise. Tem obras traduzidas em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra, França, México, Irão, China, Albânia, Suécia, Dinamarca, Grécia, Marrocos, Líbano, Colômbia, Canadá e República Checa.[3] Morreu a 17 de março de 2024, no Hospital da Luz, em Lisboa, onde se encontrava internado.[4] Condecorações A 10 de junho de 1992, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e, a 7 de junho de 2013, foi elevado a Grande-Oficial da mesma ordem.[5] Obras publicadas Entre a sua obra encontram-se:[6][7][8] Poesia A Noção de Poema (1972) O Pavão Sonoro (1972) Crítica Doméstica dos Paralelepípedos (1973) As Inumeráveis Águas (1974) O Mecanismo Romântico da Fragmentação (1975) Nos Braços da Exígua Luz (1976) O Corte na Ênfase (1978) O Voo de Igitur num Copo de Dados (1981) A Partilha Dos Mitos (1982) Lira de Líquen - Prémio de Poesia do Pen Clube (1985) A Condescendência do Ser (1988) Enumeração de Sombras (1988) As Regras da Perspectiva - Prémio D. Dinis (1990) Uma Sequência de Outubro - Comissariado para a Europália (1991) Obra Poética 1972-1985 (1991) Um Canto na Espessura do Tempo (1992) Meditação sobre Ruínas - Prémio da APE (1995) O Movimento do Mundo (1996) Poemas em Voz Alta - com CD de poemas ditos por Natália Luiza (1996) A Fonte da Vida (1997) Raptos (1998) Teoria Geral do Sentimento (1999) Poesia Reunida 1967-2000 (2001) Pedro, lembrando Inês (2002) Cartografia de Emoções (2002) O Estado dos Campos (2003) Geometria variável (2005) As coisas mais simples (2006) A Matéria do Poema (2008) O Breve Sentimento do Eterno (2008) Guia de Conceitos Básicos (2010) Fórmulas de uma luz inexplicável (2012) Navegação de Acaso (2013) O Fruto da Gramática (2014) A Convergência dos Ventos (2015) O Mito de Europa (2017) A Pura Inscrição do Amor (2018) O Coro da Desordem (2019) Regresso a um Cenário Campestre (2020) 50 Anos de Poesia (1972-2022) (2022) Uma Colheita de Silêncios (2023) Ficção Última Palavra: «Sim» (1977) Plâncton (1981) A Manta Religiosa (1982) O Tesouro da Rainha de Sabá - Conto Pós-Moderno (1984) Adágio (1984) A Roseira de Espinho (1994) A Mulher Escarlate, Brevíssima (1997) Vésperas de Sombra (1998) Por Todos os Séculos (1999) A Árvore dos Milagres (2000) A Ideia do Amor e Outros contos (2003) O anjo da tempestade (2004) O Enigma de Salomé (2007) Os Passos da Cruz (2009) Dois Diálogos entre um padre e um moribundo Coimbra, Angelus Novus, (2010). O Complexo de Sagitário, Lisboa, Dom Quixote, (2011). A Implosão (2014) A Conspiração Cellamare, Lisboa, Dom Quixote, (2016) O Café de Lenine (2019) Ensaio A Era de «Orpheu» (1986) O Espaço do Conto no Texto Medieval (1991) O Processo Poético (1992) Portugal, Língua e Cultura - Comissariado para a Exposição de Sevilha (1992) Voyage dans un Siècle de Littérature Portugaise (1993) Viagem por um século de literatura portuguesa (1997) As Máscaras do Poema (1998) B.I. do Capuchinho Vermelho (2003) A viagem das palavras: estudo sobre poesia (2005) A certidão das histórias (2006) O ABC da Crítica (2010) Teatro Antero - Vila do Conde (1979) Flores de Estufa (1993) Teatro, Lisboa Artistas Unidos/Cotovia, (2005) O Peso das Razões, Lisboa, Artistas Unidos/Cotovia (2009) Edições críticas e antologias Novela Despropositada de Frei Simão António de Santa Catarina, o Torto de Belém (1977) 'Poesia de Guerra Junqueiro (1981) Sonetos de Antero de Quental (1992) Poesia Futurista Portuguesa, Faro 1916-1917 (1993) Cancioneiro de D. Dinis (1998) Infortúnios trágicos da Constante Florinda, de Gaspar Pires de Rebelo (2005) A Mais Frágil das Moradas-Poemas à Memória de Eduardo Lourenço (2023)

Referências

  • Costa, S. F. (2016). O movimento impróprio do mundo. Âncora Editora - Descrição: Livro de poesia onde a autora explora temas como movimento, viagem, liberdade e identidade através de uma linguagem poética contemporânea.
  • Júdice, N. (Ano de Publicação). Uma geografia secreta: Análise do livro “O movimento impróprio do mundo” de Sara F. Costa. Nome da Publicação - Descrição: Análise crítica que discute as temáticas e o estilo literário presentes na obra de Sara F. Costa, com ênfase em conceitos como errância, amor, morte e a geografia secreta da linguagem.
  • Bachelard, G. (1958). A água e os sonhos: Ensaio sobre a imaginação da matéria. Martins Fontes - Descrição: Este ensaio filosófico e literário influencia a interpretação da associação entre água e morte, elementos presentes na obra de Sara F. Costa.
  • Ramos Rosa, A. (1974). O grito claro. Edições Afrontamento - Descrição: Referência a um dos poetas mencionados no contexto da busca por liberdade na análise de Júdice.
  • Husserl, E. (1913). Ideias para uma fenomenologia pura e uma filosofia fenomenológica. Martinus Nijhoff - Descrição: Base filosófica para a análise da presença do pensamento fenomenológico na obra de Sara F. Costa.
  • Helder, H. (1997). O corpo o luxo a obra. Assírio & Alvim - Descrição: Livro de Herberto Helder que influencia a intertextualidade presente em "O movimento impróprio do mundo".
  • Dante Alighieri. (1320). A divina comédia - Descrição: Referência clássica utilizada para discutir o conceito de geografia secreta e movimento impróprio no contexto da análise.
  • Smith, P. (2010). Just kids. Bloomsbury - Descrição: Obra de Patti Smith que é referenciada na análise para discutir a modernidade e a liberdade na poesia de Sara F. Costa.
  • Nietzsche, F. (1883). Assim falou Zaratustra. Penguin Classics - Descrição: Filosofia nietzschiana discutida no contexto da errância e da busca por sentido na obra de Sara F. Costa.
  • Kafka, F. (1925). O processo. Vintage - Descrição: Referência literária utilizada na análise para discutir os temas de liberdade e modernidade.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

The Dog of the Shenjia Condo

The Dog of the Shenjia Condo

 

There’s nothing wrong with the dog, but he wants to die. When they moved in, the neighbors already knew this. “That dog is depressed,” said Mrs. Lin from the building before theirs. She also said that somebody saw that dog running next to the canal. Mady thought that was strange because she never saw him leave the condo. He’s a relatively small dog, so she didn’t understand why they said they saw a big one but insisted it was the same. They also said it smelled like rotten flesh. 


That day, Mady left home around 5 pm; it usually takes her around one hour to get from Shenjia Condo to the other side of the canal by bike.  Although it was the afternoon, it was already dark. She noticed that the days never get too bright in Smoke City. She hopped on a shared bike that she unlocked with a QR code, but the brakes were a bit stiff, and the pedals made a weird sound. The motorcycle would stop from time to time. She felt that when the wind stopped, the bike stopped. As usual, the roads were full of cars, but she couldn’t distinguish any specific vehicle from the car next to it. The only visible thing was the large buildings with neon always in the distance; it didn’t matter how long she would ride, those striking buildings seemed so far away, unreachable. She wondered if she could get there one day. 

It wasn’t just that it was already dark; it was the typical fog. There was no fog like the one in Smoke City. Maddy thought Smoke City was marvelous, full of mystery that couldn’t exist without the mist. 

She would rarely go to the other side of the canal, but she was excited to see Sam. The first time she saw him at the Shopping Mall, he sniffed some of the t-shirts at the clothing shop she worked in and almost said, “A lot of smoke today, isn’t it?” but he didn’t say precisely that, but she knew that that’s what he meant. He brought the carrots to the coffee shop on the first floor with him on their first date. She understood that he sold carrots, but carrying them to the coffee shop seemed uncomfortable. The bag of carrots took the space of an entire person in another chair. Those carrots seemed delicious, and she was curious to see Sam’s garden. How could he keep a garden in the heart of a city like that? It seemed like something worth seeing. She kept on riding, and the bike kept stopping. Eventually, it got darker, foggier, and windier. “A marvelous place,” she repeated to herself, almost letting a car hit her bike but not hitting it.

To find Sam’s house on the other side of the canal, she had to cross two bridges, take a left, go straight, and turn right, “you’ll see a large green building that is also blue when looked closer, my house is behind it” he instructed her. When she approached the green building, it was indeed blue; she suddenly could see a row of attached houses shining. When she moved toward it, she noticed that those weren’t houses; those were just boxes, and they were burning. Mr. Yu from the 5th floor rode down the street in a Zhifubao bike. People in Smoke City could adapt to technology, even older adults like Mr. Yu; that was another incredible feature of the city. She went to speak to him but as he turned, she noticed that he was quite a handsome man who still resembled Mr. Yu, maybe it was Mr. Yu’s grandchild?

- Hi, I’m sorry; I thought you were a neighbor of mine. – She said when she noticed that she was already too close to him not to say something. But he kept riding his bike past her and didn’t stop as if he didn’t listen. She saw him stop next to the burning boxes and come back walking, leaving the bike behind.

- I saw the dog. – He said. – I saw the dog; he’s over there and burning. 

- Are you sure it is the dog from the Shenjia Condo? – She asked. – Are you from Shenjia Condo? Are you Mr. Yu’s Grandchild? 

But he didn’t reply again and just kept walking. He then entered the greenish-blue building. Mady felt suddenly curious and couldn’t help herself but follow him. She entered through the same door and got to some stairs. The interior of the building had the same fluorescent greenish blue as the outside. There was no sign of the younger Mr. Yu. She climbed a few stairs but couldn’t see where it led her. She kept going as her breath started failing. There was no way of knowing which floor she was on, but when she stopped from exhaustion, she finally saw a passage in a dark corner that she had noticed before. 

….

As she went to open it, an intense light blinded her for a few seconds; a pungent smell of plants entered her nostrils, almost suffocating her. When she could finally see again, a tropical garden full of lush, emerald foliage surrounded her. She didn’t know if it was in an open or closed space, as the light was too strong to let her see anything in the distance. It was warm and humid. Between what seemed to be banana plants, she could distinguish the contour of the back of someone sitting on a bench. “It must be the young Mr. Yu,” she thought. However, when she walked in the person’s direction, she saw that this was a skinny, tall, red-haired man. 

- Sam, is that you? – Mady asked. Sam turned to her.

- Mady, I thought you weren’t coming! What took you so long? The highly poisonous catfish are coming, and you might not be able to cross the canal again tonight. 

- I didn’t know there were catfish in the canal. 

- Yes. Not everyone can see them, but after a specific time, it is not safe to cross the canal until the next morning. Maybe one day you’ll be able to see them.

- Is this your garden? – Mady asked. 

- I created different levels to give it more interest and character. Levels make a garden look more prominent and allow you to enjoy various views and angles. Here, have a seat. I want to show you the blackbirds. 

The bench sank when Mady sat on the bench, and she fell on the floor. Sam didn’t even notice it. All at once, she sensed that nothing in this garden was real. Even the blackbirds had weird, gloomy expressions. She avoided the bench and sat on a large rock under a palm tree. The rock was strong and probably wouldn’t collapse. How can a garden like this exist in the middle of a city, at some unknown building level? Sam’s expression kept calm as he spoke. 

- Once, a catfish ate a bit of a carrot, but they are usually carnivorous. Considering the size of catfish species, it can be suspected that no freshwater fish can grow to become very big without a rich source of protein. Feeding on plants cannot provide the amount of protein needed to grow very big. Yes, catfish are carnivorous; however, this depends on their habitat. For example, if you breed catfish in your pond, they will eat what you feed them. However, the smaller catfish in the pond may be at risk of being eaten by the giant catfish. I will try to feed them some carrots occasionally, anyway. They might get used to it.

- I was outside and saw someone who looked like a neighbor of mine. He said he saw a dog from our condo burning and came up here. Where is he?

Sam looked at her face for the first time since he started talking. 

- There’s no one else here; it’s just you and me. I think I saw that dog, too.

He had this hilarious accent from someone from the West. It was bizarre and attractive. She noticed that he had been holding a carrot. 

- I think that the blackbirds are trying to tell you something. Can you listen to their squawk? 

- Yes. So, do you speak to birds?

- Sometimes. All those bird sounds you hear are forms of communication. Most birds communicate vocally, although some are much more vocal than others. One of the most common forms of bird communication is a call note. In small birds, call notes may sound like chirps. In larger birds, call notes may sound like squawks.

- What are they trying to tell me? 

- I don’t know. I think they like you.

Sam started to peel the carrot and eat it. 

- Do you want some? 

- I’m ok, thank you. Do you only eat carrots? – She asked him.

- That’s a stupid question. Who can survive only eating carrots? You’re so funny! – He said, laughing in a bizarre accent.  – Come over, sit on the bench with me!

She pressed down on the bench with both hands; the chair didn’t sink at all, so she cautiously sat down again; nothing happened this time. They sat for a long time in silence, looking at the blackbirds, but when she looked at the clock, only three minutes had passed. She felt it was getting late but didn’t know if she could leave. It was warm on the bench next to Sam. She thought he liked her more now that she didn’t sink on the bench. She could see that he wanted her more now. When she saw him carrying the carrot bag in the shopping mall, she thought he looked very odd, but now she could understand that he could sustain a whole tropical garden just by selling carrots. 

The gardener should arrive soon. Yes, I care for my garden, but I also work with a man named Liu Meng. He should be coming now. 

- It was nice to see your garden. – Mady didn’t know exactly how to feel. Was this a suitable date? Maybe.

- Nice to have you here. It would be best if you went now before the catfish arrived.

Opening the same door to leave, she couldn’t see anything. The greenish fluorescent light was too much of a brightness contrast. Sam stood there without seeing anything as she closed the door behind her. The light, the humid smell, and the warmth had gone, and she felt like she was just back in Smoke City again. Trying to feel the stairs in the dark with her feet, she heard a strange noise. She recognized the roar of what seemed to be a large dog entirely close to her. She recognized the shadow of a big black dog standing before her in the darkness. It stopped roaring, and she could see his big yellow eyes. Those were very familiar, sad eyes. She immediately knew that this was the depressed dog from Shenjia’s condo. It smelled like rotten flesh.   

Suddenly, she heard someone calling from downstairs. It was her neighbor, Mr. Yu, from the fifth floor. 

- Come here, doggy. - He said, calling the dog and tapping his leg. Maddy went down to try to talk to him.

- Mr. Yu, so you were indeed here! - She exclaimed. 

- I come here every night to fish. I sell catfish for the supermarket of the Xixiao Shopping Mall. I saw the dog running to this building and came after him.

The dog started jumping and waving its tale, seeming joyful to see Mr. Yu. 

- He’s such a lovely dog, but he has bad habits. He just came from eating some corpses. 

- Was the dog burning when you saw him coming here?

- Yes, he was burning; he came from the burning boxes. That’s where they cremate the deceased. What are you doing here? I never saw you around here before. 

- I went to visit Sam’s garden. 

Do you mean the tropical garden?

- Yes!

- So you entered it through the dog’s eyes.

- What do you mean? No, I climbed the stairs and went through that door.

- That garden only exists in the dog’s eyes. You were lucky to see it. I feel that there’s something very particular about you, Maddy.   

- I didn’t enter it through the dog’s eyes… - Maddy tried to explain herself, but Mr.

You were already leaving and didn’t answer as if he didn’t hear her. The dog followed him. Maddy left as the streets were getting even darker and smokier. It was time to go back to Shenjia Condo.


quinta-feira, 2 de maio de 2024

 





PRESENTAÇÃO DE “CIDADE CINZA” DE SARA F. COSTA EM LISBOA 

Na livraria: Snob pelas 18:00
Apresentação a cargo de Antonio Carlos Cortez 
A editora labirinto convida os seus seguidores e amantes de literatura a assistir à sessão de apresentação do livro de ficção “CIDADE CINZA” de SARA F. COSTA na Livraria Snob em Lisboa a 11 de maio.

Resumo: 
A Cidade Cinza acontece a quem nela vive. Nada pode ser feito em relação a isso. 
É nela que começamos a seguir a história de Maddy, vinda da Costa, agora nativa de Cinza. Maddy pouco sabe, na realidade, como veio ali parar. Armada com a coragem de quem procura as suas raízes, Maddy mergulha nesta urdidura urbana repleta de espelhos e sombras. A sua jornada é um trilho de descobertas e reencontros, um desafio aos limites na busca de laços familiares perdidos no tempo.

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A história interliga-se com as próprias vivências da autora, que residiu em Pequim, onde estudou mandarim. Trata-se de um romance experimental num ambiente cyberpunk e ficção de terror, onde os elementos da história não são colocados ao acaso.
O estilo narrativo é inspirado na própria prosa contemporânea chinesa e em escritoras um tanto desconhecidas para a maior parte do público português como Can Xue ou Shen Dacheng. Mas há espaço também para as influências de nomes como Jorge Luís Borges, Samuel Beckett ou Italo Calvino.
No primeiro capítulo de “Cidade Cinza”, descreve-se um condomínio como “uma espécie de criança impossível, atravessada entre os dentes, onde nenhum rosto humano [está] ao abrigo da dialéctica”. Foi para este condomínio que se mudaram os pais de Maddy, a personagem principal que tenta descobrir os meandros desta cidade de cor cinza.
O enredo de “Cidade Cinza” apresenta ainda uma intrínseca interconexão entre o destino dos seus habitantes e a própria essência da cidade”, sendo que a narrativa de Sara F. Costa se caracteriza por uma dissolução das fronteiras entre o real e o fantástico, onde a atmosfera é impregnada por um aroma que mescla elementos urbanos com vislumbres de uma fauna surreal.

Andreia Silva, Hoje Macau
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Depois de “A Transfiguração da Fome” ter obtido o prémio para melhor livro de poesia publicado na lusofonia em 2018 com o Prémio literário Glória de Sant'Anna , Sara F. Costa lançou ainda com a Labirinto uma antologia de poesia contemporânea chinesa por si seleccionada e traduzida, intitulada “Poética Não Oficial“ e também editada pela Labirinto. Publicou várias crónicas no Hoje Macau e é atualmente membro da direcção da associação Asia Pacific Writers & Translators (APWT). Obteve em 2021 uma bolsa de criação literária do Governo português. Dessa bolsa surgiu o livro “Ser-Rio, Deus-Corpo”, traduzido também para castelhano e inglês. É Professora Assistente no Iscap P.Porto e na Universidade do Minho.


quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Cidade Cinza, livro de ficção de Sara F. Costa






 Das novidades literárias. 


Sai em fevereiro o meu romance “Cidade Cinza”. Será lançado no Correntes D'Escritas 2024 chancela da Editora Labirinto


Quem anuncia é o Hoje Macau

https://hojemacau.com.mo/2024/01/24/literatura-sara-f-costa-lanca-o-seu-primeiro-livro-de-ficcao-em-fevereiro/


Fiquem atentos! 😎


“A história interliga-se com as próprias vivências da autora, que residiu em Pequim, onde estudou mandarim. Segundo um comunicado, este é um “romance experimental”, onde os elementos da história não são colocados ao acaso e todos “são, de alguma forma, autobiográficos, embora dificilmente o leitor conseguisse decifrar tais elementos porque a história parece passar-se num sítio sem tempo nem espaço”.


Descreve-se ainda que o estilo narrativo é inspirado “na própria prosa contemporânea chinesa e em escritoras um tanto desconhecidas para a maior parte do público português como Can Xue ou Shen Dacheng”. Mas há espaço também para as influências de nomes como Jorge Luís Borges, Samuel Beckett ou Italo Calvino.


No primeiro capítulo de “Cidade Cinza”, descreve-se um condomínio como “uma espécie de criança impossível, atravessada entre os dentes”, onde “nenhum rosto humano [está] ao abrigo da dialéctica”. Foi para este condomínio que se mudaram os pais de Maddy, a personagem principal que tenta descobrir os meandros desta cidade de cor cinza.” Andreia Silva


Sara F. Costa é escritora, tradutora e professora universitária. O seu livro publicado pela Labirinto, “A Transfiguração da Fome” obteve o Prémio Literário Internacional Glória de Sant’Anna para melhor obra de poesia publicada em países de língua portuguesa em 2018. A autora tem textos traduzidos e publicados em mais de sete línguas em várias publicações literárias por todo o mundo. Como poetisa europeia emergente, participou no Festival Internacional de Poesia e Literatura de Istambul 2017. Em 2019 foi autora convidada da segunda edição do “Chair Poetry Evenings” em Calcutá, India. Em 2021 foi uma das figuras centrais do maior festival literário da península ibérica, o Cosmopoética. Trabalhou com o Coletivo Artístico de Pequim Spittoon e é atualmente membro da direção da APWT (Asian-Pacific Writers and Translators). Conhecida pela sua poesia, Cidade Cinza é a primeira incursão da autora no género narrativo. 


terça-feira, 22 de novembro de 2022

Lançamento na Índia

 Em 2020, um conjunto de poemas meus escritos em Pequim foram selecionados para a publicação “Meridian – Writing Outside the Frame” da Asia Pacific Writers & Translators.

O lançamento da publicação deveria ter acontecido no encontro anual da APWT desse ano que, entretanto, foi adiado dois anos.
Sábado, faço as malas e parto para a Índia. Desta vez, não só para apresentar esta antologia mas também para lançar o meu próprio livro "River-Being, Bodily-God" publicado pela editora independente de poesia de Nova Deli, Red River, a quem fui recomendada pelo meu caríssimo Ashwani Kumar, colega de antologia e poeta que conheci em 2019 em Calcutá no Chair Poetry Evenings.
O Festival que ficou com o nome da antologia " Asia Pacific Writers & Translators - Writing Outside the Frame" decorre de 28 a 30 de novembro e contará com a presença de escritores como Ma Jia, Geetanjali Shree, Victor Mallet, entre outros.
Sobre o livro que dei a ler à minha cara Arundhathi Subramaniam, obtive estas palavras:
"This torrential flood of poems takes us to those places of wondrous catastrophe, where blood meets the stars, muscle meets metaphysics, and ‘the essence of all things’ meets ‘the purest oxytocin.’ Shorn of cliché and fiercely human, these are poems of mercurial vitality and aliveness."
O lançamento do livro está marcado para 28 de Novembro pelas 15h na Bangalore School of Liberal Arts A apresentação está a cargo da fabulosa poeta Vinita Agrawal!
A minha presença no festival vai também passar por outras iniciativas como leituras de poesia e particiapção em painéis.
Bangalore não fica ao virar da esquina, mas ficam os meus amigos igualmente convidados para esta aventura!
Por fim, estou contente com a publicação deste livro auto-traduzido que conta com a ilustração da Constança Araújo Amador, tal como na edição portuguesa da Editora Labirinto e estou, sim, talvez, como sempre, com muita vontade de voar! Até já!


















sábado, 24 de setembro de 2022

 

Lançamento do livro “Ser-Rio, Deus-Corpo" de Sara F. Costa  

 Sábado, 12 de novembro, 16h 

 

A Editora Labirinto, a autora Sara F. Costa e o Espaço de Intervenção Cultural Maus Hábitos convidam todas e todos a participar no evento do lançamento do novo livro de Sara F. Costa, “Ser-Rio, Deus-Corpo". A apresentação do livro está a cargo de Emanuel Madalena. A sessão contará com leituras de Francisca Camelo, Luiza Nilo Nunes, Luís Aguiar e Tiago Moita. Na sequência da apresentação do livro instigar-se-á o debate “artistas em puerpério” com a presença de Constança Araújo Amador e Grabriela do Amaral.  

 

Ser-Rio Deus-Corpo é o sexto livro de poesia original de Sara F. Costa. A poesia da autora de trinta e cinco anos é já um fenómeno que trespassa fronteiras. Os seus textos têm vindo a ser publicados e traduzidos um pouco por todo o mundo, tendo a autora sido convidada para participar em festivais literários em países como Espanha, Polónia, Turquia, Índia e China. O seu livro “A Transfiguração da Fome” obteve o Prémio Literário Internacional Glória de Sant’Anna para melhor obra de poesia publicada em países de língua portuguesa em 2018. Sara F. Costa, fluente em mandarim, publicou uma antologia de poesia chinesa contemporânea por si organizada e traduzida, fruto do contacto com os meandros literários e artísticos de Pequim, onde viveu até 2020.  

Em 2021 foi-lhe atribuída uma das competitivas bolsas de criação literária financiadas pela DGLAB (Direção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas) do Ministério da Cultura Portuguesa. Fruto desse trabalho surge a obra que se apresenta“Ser-Rio, Deus-Corpo", editada pela Editora Labirinto de Fafe que se consolida, há mais de vinte anos, como uma casa de referência na afirmação de novos valores literários da contemporaneidade portuguesa.   

  

As mães que não sabem pegar num carro e parir contra os sonhos. Objetos de vindima, crisântemos imediatos. A arte de se ser puro até se ser paisagem. Uma primavera imóvel ao ritmo das ondas. Então, lá vão elas iniciar uma nova jornada. Vão até às esquinas dos silêncios parir sozinhas. Lá estão elas, incansáveis, infinitas, absolutas, sem autorização para pausas.   

Sara F. Costa em Registo Civil (Ser-Rio, Deus-Corpo, Labirinto, 2022) 

  

Em “Ser-Rio, Deus-Corpo" a autora incorpora vários registos poéticos de tradição simbolista, surrealista, imagista e objetivista interpretando a psique e a índole humana a partir do corpóreo.   

Na carta que preparou para a candidatura à bolsa de criação literária, a autora apresentou assim o projeto:  

  

“O presente projeto de escrita poética apresenta-se como uma ode à fertilidade. Como as celebrações do Beltane na cultura celta, Ostara na cultura nórdica ou as celebrações do festival Kanamara, segundo a tradição xintoísta japonesa, sendo simétrico a este último, uma vez que é um trabalho sobre a criação intrauterina, do ponto de vista estritamente matriarcal.    

Os temas que se relacionam com a maternidade começam a surgir nos movimentos literários ocidentais a partir da década de setenta do século passado, quando surge a segunda onda do movimento feminista. Pretendia-se combater as prenoções que sentenciavam certos tópicos como inapropriados enquanto motivos literários.   

A maternidade tardou a ser vista como possibilidade de exposição poética, não apenas devido às justificações do contexto inerente a sociedades patriarcais, mas também porque se situava na esfera privada segundo a conceção filosófica grega de Platão – dicotomia Oikos/Polis - ou, como colocou séculos depois Hannah Arendt, “a distinção entre uma esfera de vida privada e uma esfera de vida pública corresponde à existência das esferas da família e da política como entidades diferentes e separadas.” (ARENDT, 2007, p. 37).  

A necessidade de compreender o significado da existência de uma poesia escrita especificamente por mulheres resultou do facto de outras formas de crítica terem assumido quase automaticamente que o poeta é um homem e, por isso, estabelecido como universais os conceitos de vocação poética, tradição e forma que implicam tacitamente normas masculinas.  

Na era vitoriana, a poesia escrita sobre “as mães” ganhou uma certa popularidade, não deixando, no entanto, de retratar um ideal de mãe como uma personagem unidimensional, uma mártir e uma “protetora da casa”. Aquilo a que Gertrude Stein chamou “patriarchal poetry” funcionava como um sistema que silenciava as mulheres e as excluía do cânone modernista.  

Sobre o papel da literatura na segunda onda do feminismo, a poetisa Sharon Olds recorda a resposta de um editor na década de 1970, quando ela apresenta poesia sobre maternidade: “The editor would sayif you wish to write about your children may we suggest the Ladies Home JournalWe are a literary magazine.”3  

Felizmente, as últimas décadas incorporaram uma emancipação de expressão que permitiu às mulheres escreverem sobre a gravidez, o nascimento e a maternidade de uma forma livre, permitindo-lhes explorar através deste tema todos os aspetos da criação literária.   

A história da poesia contemporânea em Portugal é a prova da importância da figura da mãe e dos seus filhos e filhas enquanto motivos literários. Autores como Eugénio de Andrade, Florbela Espanca, Fernando Namora, António Osório, Antero de Quental, Carlos Drummond de Andrade, Valter Hugo Mãe ou António Nobre são alguns exemplos de poetas que escreveram sobre as mães e a maternidade. A procura da génese e do sentido existencial é feito a partir das reflexões sobre o nascimento e sobre as mães na poesia de Daniel Faria e Herberto Helder. A mulher e a sua gravidez devem, no entanto, ter palco na primeira mão.  

A mãe-poeta não é uma personagem muito presente, a mãe é mais representada por autores masculinos do que femininos.  É o objetivo deste presente trabalho trazer a representação da mãe que não precisa de ser representada porque o é. A poeta que é universal, mas é mulher.   

O presente projeto foca-se, assim, na experiência intimista de uma mãe durante o período de gestação do feto, incorporando, por vezes, elementos da tradição modernista como a objetividade, intelectualidade, abstração e distanciamento necessários para transformar a experiência em arte. Contudo, nunca abandonando um registo privado, quase doméstico, em que a voz poética procura transcender a casa-corpo.”   

Sara F. Costa